Brasil – O protesto dos caminhoneiros nas rodovias do país por conta da alta do preço dos combustíveis e dos valores dos fretes, considerados baixos pela categoria, foi ampliado ao longo desta segunda-feira (23). No fim da tarde, ao menos sete estados já registravam pontos de lentidão e congestionamentos: GO, MG, MS, MT, PR, RS e SC
Por conta do aumento deste bloqueio, algumas cidades enfrentam falta de combustíveis no Paraná e a gasolina chegou a ser vendida a R$ 5 em Pato Branco. Na cidade também há registro de atrasos na entrega de medicamentos.
No mesmo estado, onde a paralisação começou no dia 13 de fevereiro, a BRF, que detém as marcas Sadia e Perdigão, anunciou nesta segunda que parou a produção em 2 fábricas por falta de aves e a empresa diz que isso afeta “todo o ciclo de produção, desde a produção de ração animal até a distribuição de seus produtos pelo país e exterior.”
Em Santa Catarina, a distribuição do leite produzido foi afetada por conta das manifestações e está 100% interrompida por conta da falta de transporte. Em Minas Gerais, a Fiat teve a produção de veículos afetada, pois os componentes usados na montagem de veículos não foram entregues. Em Mato Grosso, o óleo diesel também acabou em distribuidora no Norte do estado devido aos bloqueios nas rodovias.
Os caminhoneiros, no entanto, afirmaram nesta segunda que liberaram a passagem de transportadores de alimentos “perecíveis” e de “cargas vivas” (frango e boi, por exemplo) no trecho da BR-376 em Marialva, no norte do Paraná. “Pedimos às empresas que tenham bom senso e não liberem os caminhões com cargas não perecíveis agora, para evitar confusão e colaborar com o movimento”, comentou o manifestante Ademir Cavalaro.
A Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), que é uma das entidades que representam os caminhoneiros no país, divulgou nota dizendo que está “ciente das manifestações e bloqueios em rodovias federais e estaduais pelo país” e que “solicitou uma reunião com os ministérios para tratar das reivindicações, especialmente para tratar do aumento do combustível”.
A Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado do Paraná (Fetranspar) disse não concordar com a mobilização dos caminhoneiros. “Os transportadores estão contabilizando prejuízos e pedem medidas urgentes do governo federal, no entanto não compactuam com o movimento dos caminhoneiros, pois bloquear vias não é a melhor maneira de protestar”, afirmou o presidente, Sérgio Malucelli.
A Advocacia-Geral da União (AGU) protocolou nesta segunda ações na Justiça Federal de sete estados para que seja determinada a liberação de rodovias bloqueadas. Nas ações, a AGU pede que a Justiça conceda liminar (decisão provisória) para que as estradas sejam desbloqueadas e imponha uma multa de R$ 100 mil por cada hora em que a decisão for descumprida.
MG A Fernão Dias, principal ligação entre os estados de Minas Gerais e São Paulo, tinha 17 km de lentidão na região da Grande Belo Horizonte às 18h30, no sentido São Paulo. Já quem trafegava em direção à capital mineira enfrentava 8 km de congestionamento.
“Nós não temos condições de pagar o óleo (diesel) a R$ 2,75. Nesses últimos três meses, o petróleo subindo, subindo e o frete lá embaixo”, disse o caminhoneiro Juarez Ananias, que participa do protesto.
No início da noite, caminhoneiros começaram a protestar na BR-040, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, segundo a Polícia Rodoviária Federal. A manifestação ocorre na altura do km 558, no sentido Rio de Janeiro e ainda não há informações sobre congestionamentos.
O protesto desta segunda também afetou a produção de veículos na Fiat. De acordo com a assessoria de imprensa da empresa, em Betim, também na Região Metropolitana, funcionários do 2º e 3º turnos – tarde, noite e madrugada – da linha de produção foram dispensados. Ainda segundo a Fiat, por causa do ato de caminhoneiros, componentes usados na montagem de veículos não foram entregues.
Também havia pontos de interdição perto de Oliveira, na Região Centro-Oeste, e em Perdões e Santo Antônio do Amparo, ambas no Sul do estado. Nestas cidades, os bloqueios ocorrem desde a noite de domingo.
PR No Paraná, 20 rodovias permaneciam fechadas por volta das 13h em trechos entre as cidades de Cascavel, Curitiba e Guarapuava. Em alguns pontos de rodovias federais, a fila de veículos já passava de 5 km, segundo a Polícia Rodoviária Federal. Os manifestantes estavam impedindo os caminhões de passarem, mas liberavam os demais veículos, como carros de passeio e de emergência. Os protestos ocorrem desde o dia 13 no estado.
Por causa dos bloqueios, alguns postos de combustíveis do sudoeste e do oeste do Paraná já enfrentam desabastecimento e em alguns, que ainda tinham combustível, o litro da gasolina atingiu a casa dos R$ 5,00. Além disso, há registro de atrasos na entrega de medicamentos e duas fábricas da BRF interromperam a produção de aves porque não estão conseguindo transportar os produtos nas cidades de Francisco Beltrão e Dois Vizinhos, no sudoeste.
Por conta da manifestação, a prefeitura de Santo Antônio do Sudoeste, no sudoeste do estado, cancelou as aulas nas escolas municipais e interrompeu os serviços de limpeza na cidade.
Além de criticar os preços dos combustíveis, a categoria no Paraná pede a fixação do frete por quilômetro rodado e a carência de seis meses a um ano para os financiamento de veículos de carga, entre outras reivindicações.
SC Em Santa Catarina, os protestos ocorrem desde quarta-feira (18). Na tarde desta segunda, os caminhoneiros continuavam bloqueando 15 pontos em cinco rodovias. A Polícia Rodoviária Federal informou que vai enviar reforços para os locais, a fim de evitar abusos. “A nossa preocupação é porque ontem [domingo] houve alguns abusos. Houve bloqueios, ataques a caminhoneiros, acidentes, pessoas que ficaram presas”, explicou o chefe da Comunicação da PRF, Luiz Graziano.
Os manifestantes pedem a queda no preço do diesel e melhores condições nas rodovias da região. Por conta dos bloqueios, o Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados (Sindileito) alerta que a coleta de leite no estado pode ser 100% interrompida.
RS No Rio Grande do Sul, doze pontos de rodovias federais e outros treze pontos de rodovias estaduais foram bloqueados na tarde desta segunda. Alguns caminhoneiros colocaram fogo em pneus no acostamento da estrada. Eles criticam os valores dos combustíveis e dos pedágios e a tributação no transporte de cargas.
Veículos pesados estão sendo orientados a parar, mas a passagem é liberada para automóveis de passeio. As manifestações ocorrem de forma pacífica.
MT Os caminhoneiros de Mato Grosso bloqueavam trechos das duas principais rodovias do estado, as BRs 163 e 364, por volta das 15h. Eles tentam impedir, há quase uma semana, que os veículos de cargas façam o escoamento da produção agrícola. Na manhã desta segunda, havia cinco trechos de interdição, e o terminal ferroviário de Rondonópolis já registrava queda no número de descarregamentos, segundo a empresa que administra o local.
O sindicalista Wilson Júnior Samoro disse houve queda de mais de 20% no valor do frete e, com o custo alto, os motoristas só estão trabalhando para cobrir as despesas.
Os caminhões com combustíveis seguem presos em bloqueios e, por conta disso, o óleo diesel chegou a acabar em distribuidora no Norte do estado.
MS Dois trechos da BR-163, em Dourados e em Fátima do Sul, Mato Grosso do Sul, continuavam bloqueados no fim da tarde desta segunda. Na região de Fátima do Sul, o congestionamento totalizava cerca de 600 metros, considerando os dois sentidos da pista. Já na região de Dourados, havia um congestionamento aproximado de 2 km. Caminhoneiros dizem que a manifestação pode durar até que as principais reivindicações da categoria sejam atendidas.
GO Em Goiás, um protesto de caminhoneiros interditava a BR-364, no perímetro urbano de Jataí, no sudoeste do estado. A rodovia é uma das principais rotas de escoamento de grãos e liga Goiás ao Mato Grosso.
De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o tráfego está impedido nos dois sentidos nesta tarde, gerando um engarrafamento de 18 km, sendo nove de cada lado.
Amazonianarede-G1