Em entrevista ao jornal “Valor Econômico”, publicada nesta sexta-feira, a ex-presidente Dilma Rousseff afirma que as perguntas formuladas pelo ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha deixam claro que o presidente Michel Temer tem ligação com desvios na Caixa Econômica Federal e no FGTS. Ainda sobre Temer, a petista afirma que considera “um erro” ter dado a ele a coordenação política do governo e ataca o peemedebista o chamando de “um cara extremamente frágil, fraco e medroso”.
Durante a entrevista, Dilma faz referência a uma lista com 41 perguntas direcionadas a Temer, protocolada pela defesa de Cunha na Justiça Federal do Paraná, em novembro do ano passado. Em uma das peguntas, Cunha indaga qual é a relação de Temer com José Yunes, ex-assessor especial da Presidência, e se Yunes recebeu alguma doação de campanha para o PMDB.
“Quando li a primeira vez, lá sabia quem era José Yunes? Mas lá está Eduardo Cunha dizendo que quem roubava na Caixa Econômica Federal, no FGTS, é o Temer. Leia, minha filha. Não tenho acesso às delações, mas sei o que é um roteiro. E lá está explícito roteiro da delação de Eduardo Cunha. Explícito. Alguém não sabe que o Cunha está dizendo que não foi o Yunes, mas o Temer?”, questiona Dilma.Em fevereiro, José Yunes prestou depoimento ao Ministério Público no qual relatou que recebeu “um pacote”, em 2014, em seu escritório em São Paulo, entregue pelo operador Lucio Funaro, a pedido do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. Yunes disse ter sido uma ‘mula involuntária’ de Padilha.
‘NÃO DEIXEI O GATO ANGORÁ ROUBAR’
Na entrevista, a ex-presidente também afirma que, durante o seu governo, não permitiu que Moreira Franco (atual ministro da Secretaria Geral da Presidência) roubasse na Secretaria Nacional de Aviação Civil.”Saber demais não significa que você é capaz de impedir algumas coisas. Por exemplo, o gato angorá [Moreira Franco] tem uma bronca danada de mim porque eu não o deixei roubar, querida. É literal isso: eu não deixei o gato angorá roubar na Secretaria de Aviação Civil. Chamei o Temer e disse: ‘Ele não fica. Não fica!’. Porque algumas coisas são absurdas, outras não consegui impedir. Porque para isso eu tinha de ter um nível de ruptura mais aberto, e eu não tinha prova, não tinha certeza, entendeu? Não acho que é relevante fazer fofoca, conversinha. Posso contar mil coisas do Padilha e do Temer, então?”
Moreira Franco participou do governo Dilma entre 2011 e 2014. Foi responsável pela pasta de Assuntos Estratégicos de 2011 a 2013, com status de ministro, e comandou a Aviação Civil até o fim de 2014.
Sobre o presidente Michel Temer, Dilma considera que foi um erro ter dado a ele a coordenação política do governo. Ao ser indagada sobre um possível arrependimento, a ex-presidente diz que, na época, ‘não sabia que o nível de cumplicidade dele com o Eduardo Cunha era tão grande”. De acordo com a reportagem do “Valor”, Dilma avalia que Temer é fraco e medroso.
“Porque o Temer é isso que está aí, querida. Não adianta toda a mídia falar que ele é habilidoso. Temer é um cara frágil. Extremamente frágil. Fraco. Medroso. Completamente medroso. (…) É um cara que não enfrenta nada!”.
A petista admite, ainda, que foi um erro ter concedido tantas desonerações tributárias às empresas.
“Vou te falar, acho que cometi um erro importante, o nível de desoneração de tributos das empresas brasileiras. Reduzimos a contribuição previdenciária, o IPI, além de uma quantidade significativa de impostos. Com isso, tivemos uma perda fiscal muito grande. Nossa expectativa era evitar que a crise nos atingisse de forma pronunciada. Por isso, aumentamos também o crédito, mas acho que aí não erramos. Erro foi a desoneração porque, ao invés de investir, eles aumentaram a margem de lucro às custas de mais fragilidade nas contas públicas”.
A ex-presidente também conta, na entrevista, como vive desde que perdeu o mandato. Dilma Rousseff mora em um apartamento em Porto Alegre, próximo da casa da filha e dos dois netos. Viaja uma vez por mês a Belo Horizonte, para visitar a mãe, e se sustenta com a aposentadoria de R$ 5.578 do INSS e aluguéis de imóveis.
Em nota, Moreira Franco chamou de infundadas as acusações da ex-presidente e criticou o governo passado.
“Às acusações infundadas da ex-presidente, respondo com poucas palavras e resultados: seu governo legou 12 milhões de desempregados. O nosso abre vagas com carteira assinada, depois de 22 meses em queda. O governo Dilma atraia empresas ‘amigas’ e afastava investidores. O nosso atraiu os maiores operadores estrangeiros de aeroportos, só ontem arrecadamos mais de R$ 3 bilhões. Em 6 anos, Dilma não conseguiu entregar as obras de transposição do rio São Francisco. Nós entregamos em seis meses. Mas, foi como presidente do conselho de administração da Petrobras e da República que ela se superou, dizendo não conhecer o saque feito à Empresa. Isso diferencia corrupção, de trabalho e competência. Certamente por isso eu não tenha ficado em seu governo.”
AMAZONIANAREDE-AGÊNCIAOGLOBO