Tarauacá (AC) volta a lutar contra as forças da natureza

08-01acTarauacá, AC – Município está novamente ameaçado de inundação e prefeitura já discute a necessidade de redirecionar a expansão urbana para terras altas e seguras.

O município de Tarauacá, que viveu uma das maiores tragédias de sua história no período do dia 15 ao dia 20 de novembro de 2014, quando 70 por cento da cidade ficou debaixo d’agua, está novamente ameaçado pela fúria da natureza. De novo, a principal ameaça parte do volume das chuvas na região e dos repiquetes do rio Muru, afluente do rio que dá nome à cidade e ao município, que podem levar a um novo estado de calamidade pública.

O nível do rio Tarauacá, no início da noite de ontem, era de 11 metros e 15 centímetros – menos de um metro abaixo da marca que deixou pelo menos 70 por cento da cidade debaixo d´agua, no ano passado, que foi de 11 metros e 93 centímetros. O temor é que volte a chover hoje e amanha na região. “Se isso ocorrer, que Deus nos livre, aquela marca de novembro pode ser superada”, admitiu a coordenadora municipal de Defesa Civil, Raimunda Augusto.

No final da tarde de ontem, quarta-feira,7 , o prefeito em exercício Chagas Batista, depois de percorrer as áreas mais atingidas, comemorou com o pessoal da Defesa Civil a tendência de que hoje e amanha pode não chover o suficiente para voltar inundar a cidade. A previsão inicial de ontem, pela manhã, era de 45 milímetros de chuva até sexta-feira 10, mas o índice caiu, no final da tarde, para 12 milímetros, segundo revelaram dados da ANA (Agência Nacional de Água) e do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que são monitorados pelos técnicos da Defesa Civil a cada 15 minutos. “Isso muda de acordo com a direção do vento”, disse Raimunda Augusto.

Em novembro, o decreto de calamidade foi editado pelo prefeito Rodrigo Damasceno quando o rio Tarauacá atingiu 11 metros e 93 centímetros – quase três metros acima de sua cota de transbordamento, e alcançou pelo menos 15 mil pessoas em suas casas. Pelo menos 1.200 pessoas, entre desabrigados e desalojados, foram atingidos. A Defesa Civil distingue desabrigados e desalojados porque os primeiros são aquelas pessoas que precisam do socorro do poder público, enquanto os desalojados são aqueles que são socorridos por parentes ou amigos. Na tarde da última quarta-feira, 7 de janeiro, por volta das 15 horas, o nível do rio Tarauacá já havia sido atingido pelo menos 3 bairros (Senador Pompeu, Triângulo, Flores), com 16 ruas inundadas e com pelo menos cinco mil pessoas correndo o risco de terem que deixar suas casas.

Dados da própria ANA revelam que em Tarauacá, entre novembro de 2013 a abril de 2014, o índice de chuva foi de 1.568 milímetros. “Isso nos permite dizer que Tarauacá é o município onde mais chove no Brasil”, disse o prefeito em exercício Chagas Batista. “As consequências desse fenômeno são um desastre para a economia do município, porque nos atinge também na área social. Os gastos com a assistência aos atingidos pelas enchentes, nas áreas de saúde, com abrigos e alimentação, são imensos”, disse Batista “A parte disso, há os prejuízos econômicos com a perda da produção. Na área rural, as perdas com a cheia de novembro são imensas”.

Governador e prefeito unidos em busca de recursos em Brasília

De acordo com o prefeito em exercício, os prejuízos com as últimos cheias em Tarauacá podem chegar a R$ 50 milhões. Isso para um município com arrecadação mensal da ordem de R$ 5 milhões, entre Fundo de Participação do Município (FPM) e impostos. Mas, de acordo com o prefeito em exercício, nem tudo são dificuldades por causa da cheia. A inundação de novembro do ano passado e as ameaças que o município continua sofrendo revelaram uma rede de solidariedade que Tarauacá até então não conhecia.

“O Governo do Estado e o Governo Federal, através do Ministério das Cidades e da própria Defesa Civil Nacional, têm sido totalmente solidários com o nosso sofrimento. O governador Tião Viana tem se desdobrado em Brasília garantir recursos a fim de que nosso sofrimento seja o menor possível”, disse Batista.

Um dos “benefícios” decorrentes das enchentes é que Tarauacá, que sequer era cadastrado no sistema da Defesa Civil Nacional, agora passou a ser monitorado diretamente por Brasília. Outro efeito positivo decorrente das inundações são as discussões para a criação de um novo Plano Diretor da cidade, que deve criar meios da retirada das pessoas que vivem em áreas alagadiças e de risco para a parte mais alta da cidade, rumo à BR-364, na saída para Cruzeiro do Sul. Com a cheia de novembro do ano passado, o Plano Diretor, que já vinha sendo discutido, foi acelerado, debatido e aprovado pela Câmara de Vereadores em busca de estratégia para mudar a expansão urbana de Tarauacá rumo a áreas seguras, informou Chagas Batista.

“Essa última enchente nos mostrou que não é mais possível conviver com essa tragédia de forma paliativa. De primeiro, as enchentes atingiam apenas as pessoas que viviam em área de risco e o poder público dava o jeito de ajudar as pessoas sem, no entanto, buscar uma solução definitiva. Em novembro, as cheias mostraram que a situação é perigosa e que pode ficar pior, a cada ano, o que nos obriga a buscar a resolução do problema. A cheia de novembro atingiu a todos, pobres e ricos e a classe media em geral. Então, será necessário a conscientização da sociedade de que este problema tem que acabar, com a apresentação de alternativas capazes de solucionar o problema ”, disse o prefeito em exercício.

O primeiro passo para a resolução do problema será a construção, ainda este ano, de pelo menos mil casas, em alvenaria, em um local seguro e longe das áreas alagadiças. De acordo com Chagas Batista, os recursos para as obras estão levantados em Brasília pelo governador Tião Viana e o prefeito Rodrigo Damasceno. Pelo menos 15 mil pessoas serão beneficiadas pelas obras, afirmou.

População desafia a inundação e teima em não deixar suas casas

O grande problema da Prefeitura de Tarauacá no caso das enchentes, além da perda de arrecadação e prejuízos diversos, é a resistência das pessoas de deixarem suas casas, mesmo sob o risco de transbordamento, admitiu o prefeito em exercício. “Há pessoas com água quase à altura do joelho dentro de casa, mas resistindo de sair de dentro de casa”, disse o prefeito. “Que não sai nos causa um problema duplo: de saúde e de ordem social, porque essa pessoa vai ter problemas de saúde, vai ter que receber alimentação, medicamento, água potável e toda a assistência”, acrescentou.

Por: Tião Maia – Pág20

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