Muito já se falara sobre os efeitos que a enxurrada de carros tem causado nas cidades. Aqui mesmo, já dei opinião nos artigos (Leia aqui). È possível encontrar dezenas de opiniões sobre o tema, portanto. O problema (ou fenômeno, para não ser tendencioso e achar que progresso na vida é algo ruim) é que passado dez anos do aceleramento deste fato tudo indica que só pioramos.
Assim, seria interessante uma nova reflexão, um novo olhar e talvez uma opinião distanciada daquelas proferidas em três, cinco anos antes – nossa primeira opinião.
A justificativa? Bem, como já falado, o momento é de agravamento deste fenômeno: há riscos e previsões cada vez mais válidas de que as cidades estão à beira do travamento físico – literalmente. Este é um problema que afeta drástica e diretamente as pessoas.
Aquecimento da economia?
Um dos argumentos pela escolha da sociedade sobre rodas – leia-se, ter carro – está no fato de que o governo entendia que se deveria estimular a compra de bens duráveis, que estimularia mais produção, que geraria mais empregos que aquece a economia…que, enfim, demandaria mais produtos (carros).
Não é nossa especialidade a ciência da economia, nem é o objeto deste rápido texto, mas a verdade é que tudo indica que o tiro saiu pela culatra. Em verdade, os especialistas do ramo têm entendido de que estimular o consumo é apenas um passo dado para aquecer a economia, mas não o único.
O problema, exaustivamente tratados por estes “experts”, estaria não em consumir, mas em dá as condições para a continuidade da produção e do consumo: infraestrutura (estrada, fábricas, portos, aeroportos, linhas de transmissão, hidrelétricas, etc).
Perda de produtividade
A consequência desta aposta errada, por assim chamar, é que cada vez mais tem sido provado de que o trânsito inchado eleva os custos: há perdas de produtividade, pois as pessoas demoram a chegar ao trabalho; quando chegam na hora, estão cansadas e, claro, tem menor rendimento.
Além disso, os números jogam luz no fato de que os automóveis tem mais desgaste, gasta-se mais combustível, gastos adicionais com peças, manutenção (não adianta dizer que isso gera mais consumo e logo movimenta a economia.
A questão é que, mesmo que isso seja verdade, apenas uma porção do mercado ganharia com isso – a rede de postos, de seguros e de oficinas – o que não resolve o problema).
A cascata de problemas não para por ai. Os jornais têm mostrado que este estímulo desenfreado á compra de automóveis conduziu á conseqüente aumento de combustível. O Brasil, que chegou a ser auto-suficiente neste produto, passou a importá-lo; pior para os gastos do governo que com as contas desequilibradas tende a mexer em outros indicadores que nos causam efeito: taxa de juros, desemprego estimulado, redução do aquecimento.
Ora, os automóveis não promoveriam maior consumo e mais dinheiro circulando? Pois é, parece que é um tiro no pé (com o perdão do clichê).
O novo caminho
Não nos vem uma solução pronta ou apontar um novo caminho. O caso é por demais complicado – e nem seria honesto bancar o arauto da genialidade para tal neste momento.
Contudo, a questão é que já passou da hora da sociedade sobre rodas refletir e saber qual caminho a ser trilhado. Vale a pena trilhá-lo apenas sobre rodas mesmo? os caminhos alternativos são demais caros (não somente no bolso, mas nos hábitos)?
No próximo texto ousaremos discutir parte disso e as óbvias consequências à gestão ambiental das cidades.
*Ronaldo Santos é engenheiro agrônomo, servidor público federal de carreira e acadêmico de Direito.
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