Salinópolis, PA – Quem for à praia do Atalaia, em Salinas, nas férias de julho deste ano pode estranhar o local. Ao invés do grande fluxo de veículos, cena típica no verão da praia mais procurada da cidade, o veranista deverá encontrar areias livres e poucos carros. A partir do dia 28 de deste mês começa valer a proibição de acesso de veículos automotores na praia e dunas do Atalaia no período de 10 da manhã às 16 horas. A recomendação do Ministério Público do Estado (MPE) deverá ser obedecida pela Prefeitura Municipal de Salinas e pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran) até o dia 3 de agosto.
A novidade divide opiniões. A recomendação do MPE partiu do 2º promotor de Justiça de Salinópolis, Amarildo da Silva Guerra, visando fazer valer uma Lei Municipal que já existe desde 1976, mas que não vem sendo cumprida. Os objetivos principais da medida são diminuir o número de acidentes no Atalaia e resguardar o ecossistema da praia.
No período em que a proibição estiver valendo, apenas os veículos oficiais de segurança e socorro e veículos de transporte individual ou coletivo de passageiros, regularmente autorizados à prestação de serviço de utilidade pública, poderão trafegar nas areias.
OPINIÕES DIVIDIDAS
O representante comercial Eraldo Souza, 40, mora em Castanhal e aproveita ao menos um final de semana por mês para ir ao Atalaia. Apesar de trafegar com o carro na praia, Eraldo diz que não é totalmente contrário à determinação do MPE. “Eu acho bom porque tudo precisa de ordem. Eu costumo andar bem devagar, mas o trânsito aqui é complicado. Só acho que antes de haver esse controle maior, deveriam dar condições pra pessoa obedecer a Lei, ampliando o estacionamento da praia, por exemplo. A gente precisa de uma boa alternativa”, opinou.
Para o vendedor ambulante Raimundo Pinheiro, 38, os carros na areia são uma marca registrada do Atalaia. “Com o carro perto, a pessoa tem mais conforto de pegar as coisas dela, mais segurança para ir pra onde ela quiser na hora que ela quiser… É uma tradição aqui da praia já, vai ficar um pouco estranho sem os carros”, opina.
O barraqueiro Ribamar Fonseca, 51, concorda em parte com Raimundo e acredita que o controle maior deveria ser sobre as motocicletas e quadriciclos. “Eu trabalho aqui desde 89 e nunca vi acidente envolvendo carros. Agora, com quadriciclos já vi vários. O que acontece é que o pai leva a identidade, aluga o quadriciclo, mas quando leva pra barraca quem dirige é o filho”, alerta.
O barraqueiro Carlos Malicheschi, 62, fez questão de participar da audiência pública, ocorrida em maio, que definiu o teor das proibições do Ministério Público. “Eu sou totalmente a favor. Nas férias e em feriados prolongados, o trânsito daqui é totalmente desorganizado e não tem condições de continuar assim. As pessoas chegam e colocam som alto como se todos fossem obrigados a ouvir a mesma música. Eu acho que é preciso fazer valer a Lei e, além disso, melhorar a infraestrutura da praia pra que nós possamos receber melhor as pessoas”, comenta.
Luiz Antônio dos Santos, 70, é tesoureiro da Associação dos Barraqueiros do Atalaia, Maçarico e Similares. Para ele, a medida do Ministério Público vem para ordenar algo que já deveria ter sido solucionado. “A praia foi feita pra os banhistas, não pra os carros.
A maioria das pessoas que são contra a medida são aquelas que aproveitam para trazer nos carros isopor com comida, bebida, e acabam economizando porque não consomem quase nada”, explica.
Para Luiz, as pessoas vão se acostumar naturalmente a respeitar os novos limites. “É tudo uma questão de cultura. No início vão estranhar e pode até ter algum problema, mas depois as pessoas vão se habituar, sim”, acredita.
Fonte: Diário do Pará