São Paulo – Roberto Rivellino estava ansioso para a inauguração de seu busto no Parque São Jorge. Ele apareceu na sede social do Corinthians quase 20 minutos antes das 11 horas – horário combinado para o início da cerimônia. Foi recepcionado pelo presidente Mário Gobbi, seu fã incondicional, na frente de quem chorara copiosamente na primeira vez em que vira a estátua.
“Prometo que não vou chorar desta vez”, sorriu Rivellino, bastante aplaudido por associados presentes na sugestiva Praça da Liberdade do Parque São Jorge. A promessa não foi cumprida. Bastaram algumas palavras sobre o homenageado para que ele ficasse com os olhos marejados e precisasse conter as lágrimas com os dedos.
Sobravam motivos para a emoção de Rivellino. Grande ídolo do Corinthians entre as décadas de 1960 e 1970, o Reizinho foi escorraçado do Parque depois de perder a decisão do Campeonato Paulista de 1974 justamente para o rival Palmeiras, clube pelo qual torceu na infância. Rumou para o Fluminense com o estigma de jamais ter conquistado um título relevante como corintiano.
“Hoje, vou dormir mais tranquilo”, suspirou Rivellino, quando o seu busto foi descoberto em meio à queima de fogos e à chuva de papel picado. “Não era para eu ter saído nunca do Corinthians. Fui tirado do Corinthians. Isso era uma coisa que me incomodava até hoje. Agora, sendo reconhecido em vida… Só tenho a agradecer por ter sido imortalizado na história do Corinthians”, discursou.
Rivellino ganhou beijos e abraços efusivos de Mário Gobbi, tão empolgado com a homenagem quanto o seu ídolo de infância. “Quiseram cobrar de você, Rivellino, algo que não era seu. Fizeram isso da forma mais cruel possível. Procurar um culpado faz parte da cultura medíocre que ainda hoje temos no futebol. Diz a psiquiatria que não nos aquietamos quando não achamos um culpado. Assim foi com você. Um dos maiores jogadores do mundo passou por isso”, lamentou o presidente.
Ao vestir uma camiseta branca com a imagem de Rivellino, o delegado Gobbi ainda definiu o que houve em 1974 como um “agravo”. “Mas Deus permitiu que fizéssemos esse desagravo em vida. Rivellino, seu futebol é muito maior do que uma partida, do que um título ou do que qualquer outra coisa. O Corinthians ama você. Com justiça, você está eternizado aqui”, declarou.
Antecessor de Gobbi na presidência do Corinthians, Andrés Sanchez também falou diante do público presente. E estava menos tenso do que os demais. “Primeiramente, boa noite. Ou melhor, bom dia. Ainda estou na madrugada. Dizem que a gente não pode mais beber, mas eu bebi um pouquinho nessa noite, viu, Riva?”, contou, às gargalhadas.
Sanchez, responsável pela gestão do novo estádio corintiano, usou um tom mais sério para lembrar que o primeiro gol da casa de Itaquera foi marcado por Rivellino (em um pênalti combinado com o ex-goleiro Ronaldo) no amistoso festivo de inauguração.
Durante a sua gestão, o dirigente já havia tentado homenagear o ex-jogador. A ideia era registrá-lo como atleta profissional e colocá-lo em campo na última rodada do Campeonato Brasileiro de 2011, desde que o título já estivesse garantido. Assim, o Reizinho enfim teria sido campeão pelo Corinthians.
“Não conseguimos fazer aquela homenagem por incompetência nossa, mas ainda poderemos fazer no futuro. Rivellino foi o maior jogador que vi jogar no Corinthians. Ainda vamos ganhar e perder muitos títulos, mas Rivellino é um só. Obrigado por ter jogado no Corinthians”, disse Sanchez.
O “desagravo”, no entanto, já está feito por Mário Gobbi com o busto na Praça da Liberdade. A celebração ficará completa quando o Corinthians passar a jogar, em agosto, com uniformes alvinegros que remetem à década de 1960. “Nunca neguei na minha vida que era descendente de italianos, que fui palmeirense. Mas aprendi a gostar do Corinthians. Hoje, sou corintiano de coração. Esse clube fez e continua fazendo coisas maravilhosas na minha vida”, emocionou-se outra vez o corintiano Roberto Rivellino.
Por: Gazeta Press