Retórica e realidade: ensinar criança sobre lixo não resolve

Ronaldo Santos*
Ainda não amadurecemos quando o tema é consciência ambiental. Crianças, supostamente mais propensas e receptivas às novas ideias, dão provas que estamos longe disso.

Nas escolas o assunto é tratado como algo novo, mas só isso. Temos que ir além. Basta olhar para trás e ver que após 20 anos de apuradas discussões e mudanças nos padrões educacionais sobre o tema de pouco adiantaram. 

Por exemplo, pensava-se que agir maciçamente na mente dos mais novos, gerar-se-ia adultos mais afeitos à condutas simples, porém mais cidadãs e proativas. Pouco se avançou. Aliás, já discutimos aqui a ineficácia do padrão atual do uso dos livros didáticos (Ambientalmente, livros didáticos são inúteis).

Em tese, o erro estaria não na premissa (de que educação e consciência ambiental desde cedo fosse o caminho), mas no formato de como fazer isso.

Estas duas frentes de trabalho, por assim chamar, apesar de corretas não tem gerado muito resultado: ainda temos altos índices de desmatamento nas florestas; os números de poluição do ar nas cidades (veículos) não têm sido reduzidos; os rios, lagos e riachos (igarapés) nas cidades continuam imundos. Qual seria a saída?

Os meios necessários

Claro que moldar o pensamento dos pequeninos desde cedo é importante. Ninguém em faculdade normal em seu juízo diria o contrário. Mas, só isso é gota no oceano; enxugamento de gelo… De novo, qual a fórmula?

Didaticamente, pode se dividir a busca pela consciência ambiental por dois meios. O primeiro é por meio de campanhas publicitárias e inserção de temas nos livros da garotada, como já dito. Seria a parte da prevenção. Até ai tudo bem.

O outro jeito é a repressão nos mais velhos (adultos e enquadrar-se-iam ai também os poluidores natos, empresas etc) que burlam ou vão contra a lei. As regras mandam condenar os infratores: multas, pagamento de valores, reparação do bem e (raramente) prisão. É o aprendizado na marra.

Alternativas

Um terceiro foco até que tem sido trabalhado, mas timidamente: os incentivos fiscais, econômicos ou ferramentas financeiras para quem melhora o ambiente ou deixa de poluí-lo. Um exemplo é o imposto ecológico – ou seja, uma redução na carga tributária para quem faz algum tipo de atividade pró-natureza. Alguns estados já vêm trabalhando na idéia, como Paraná, São Paulo.

O Amazonas timidamente tentou algo parecido no ` Programa Zona Franca Verde ´, mas no papel funcionou mais que na prática. Dezenas de outros pequenos formatos indiretamente tentam reproduzir o incentivo econômico a quem respeita os recursos ambientais (como redução no imposto rural para quem tem reserva legal). Mas falta uma política realmente forte neste ramo.

O que se vê, contudo, é o folclore e o romantismo em torno da questão. Há um vasto campo a ser percorrido em novas leis, normas, campanhas e incentivos.

Não necessariamente só punindo, mas trazendo quem ainda não entrou no jogo utilizando de recompensas. Iscas palatáveis. Afinal, ninguém é altruísta somente porque é bonzinho; o faz, sobretudo, porque lhe é devida e prometida uma vantagem. É assim em qualquer ramo onde o homem atua. Por que seria diferente com a questão ambiental? Precisamos amadurecer.

*Ronaldo Santos é engenheiro agrônomo, servidor de carreira do INCRA e acadêmico de direito.

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