
(Foto: Nonato Duarte – Agecom)
Os resíduos vegetais gerados nas obras públicas do Governo do Amazonas serão, a partir de agora, transformados em combustível nas olarias instaladas no Estado.
A proposta foi desenhada através de um projeto piloto pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) que identificou a necessidade de um descarte sustentável a esse tipo de resíduo e, ao mesmo tempo, atender a escassez de combustível (lenha) nas olarias da região, evitando a extração ilegal desse material.
A primeira experiência do projeto acontece junto ao avanço das obras de expansão da Avenida das Torres, a Avenida das Flores, no km 1 da AM-010. Todo resíduo de supressão vegetal e sobras de madeira oriunda da abertura da avenida, que está em fase inicial de obras, será consumida nas olarias para a produção de tijolo. O acordo de aproveitamento desse material segue também para as obras de duplicação da rodovia AM-070, acesso da Cidade Universitária e obras da Cidade Universitária.
A alternativa, além de dar um “gás” ao polo oleiro amazonense que enfrenta dificuldades para encontrar o combustível legalmente, contempla a questão da sustentabilidade. “É uma oportunidade de reverter um cenário negativo em que as olarias estão passando por falta da madeira legalizada para alimentar suas fornalhas e ainda é uma solução para evitar o desperdício de resíduo vegetal (biomassa) nessas obras públicas”, avaliou o presidente do Ipaam, Ademir Stroski.
Na prática, os órgãos estaduais – Ipaam, Agência de Desenvolvimento Sustentável (ADS) e Secretaria de Estado de Infraestrutura (Seinfra) – trabalham em parceria com a Associação dos Ceramistas do Estado do Amazonas (Aceram), entidade que recebe e faz a distribuição dos resíduos entre as empresas ceramistas, e com a Cooperativa Extrativista de Biomassa do Amazonas (Coopexbio/AM), entidade organizada dos trabalhadores, que fazem o beneficiamento dos resíduos vegetais e repassam para as olarias, os chamados lenheiros.
Na primeira fase do acordo selado entre o Estado e a iniciativa privada, na obra da Avenida das Flores, estão sendo extraídos cerca de 1.450m3 de lenha. Esse montante vai beneficiar cerca de 100 famílias de lenheiros que fazem o abastecimento do polo oleiro de Iranduba, Manacapuru e Novo Airão.
Fora da clandestinidade – O aproveitamento da vegetação descartada nos locais de obra já regularizou 100 desses lenheiros que agora estão vinculados à Cooperativa Extrativista de Biomassa do Amazonas (Coopexbio). Antes, o lenheiro Antônio Pinto, 52, trabalhava fazendo extrações clandestinas de madeira para transformar essa madeira não autorizada em pequenas toras (lenha) e vender nas olarias. “O trabalho era arriscado e tinha que ser noturno para driblar a fiscalização”, disse Antônio, alegando que o ofício é herança herdada do pai.
Fora da clandestinidade, Antônio colabora para o descarte racional desses resíduos. Em tese, todo material vegetal descartado em obras fica sob a responsabilidade da empresa executora da mesma. Normalmente ou a empresa leva esses resíduos para um aterro de resíduos sólidos ou enterra o mesmo.
Projeto assegura 6 mil empregos nas olarias – A escassez de combustível (lenha) em decorrência da fiscalização ambiental e de poucas áreas autorizadas para a extração de madeira estava deixando o setor à beira de um colapso, ameaçando cerca de 6 mil trabalhadores das olarias do Amazonas. A informação é do dono de olaria e diretor executivo da Associação dos Ceramistas do Amazonas (Aceram), José Henrique Oliveira da Silva. Segundo ele, para não parar a produção de tijolo as empresas estavam apelando para os resíduos do Polo Industrial de Manaus (PIM), mas a alternativa não atendia a demanda das olarias a contento.
“A produção de resíduos (útil como combustível) não é suficiente para a demanda do setor. Além disso, tem a questão da sazonalidade do PIM, que varia a quantidade de produção conforme o período do ano”, comentou, enfatizando que a lenha ainda é o melhor combustível para a produção da cerâmica vermelha, o tijolo.
Ele informou ainda que 22 olarias foram credenciadas no projeto do Ipaam. “Esse projeto é importantíssimo porque além de nos permitir trabalhar com a lenha, que é o combustível mais eficiente, ele também evita a prática da extração, compra e venda de madeira irregular, ou seja, sem o DOF (Documento de Origem Florestal)”, completou o empresário.