Professor, a maior missão é sofrer

COSTACarlos Costa*

As missões dos professores permanecem em sala de aula até hoje, são ensinar, sofrer e sobreviver com os péssimos salários, dando aulas em precárias escolas, tendo que trabalhar em até três turnos para tentar sobreviver com dignidade. Embora políticos digam que os defenderão se eleitos, quando o são, esquecem-nos.

Todos os professores deveriam receber as melhores remunerações do mercado de trabalho como já foi no passado, porque toda e qualquer outra atividade, mesmo a política, depende de um professor que os tenha ensinado. Embora, hoje, existem políticos analfabetos eleitos, talvez por ter  “méritos” junto aos seus eleitores. Felizmente, são poucos porque o ensino, à críticidade da realidade, muda a forma de pensar de um aluno. Alguns políticos, depois de eleitos, entram no esquema do poder do Estado e fazem só o que “o seu mestre mandar”.

Raros são que, abraçam alguma causa e a perseguem até o fim, lutando contra tudo e todos, mesmo que vejam frustrados seus esforços! Diante disso, não me causou espanto as críticas à frase “não se nasce mulher, torna-se mulher”, do livro “Segundo Sexo”, da pensadora francesa e feminista Simone de Beavour, em  depois da prova do ENAM,  Alunos que fizeram as provas, ridicularizaram-na em vários vídeos que circularam pelas redes sociais. Toda e qualquer frase filosófica deve ser entendida, dentro de uma abordagem de interlocução, analisando o amadurecimento político-filosófico do autor e assim deveria ter ocorrido com a frase da polêmica feminista e pensadora contemporânea francesa.

Alunas e alunos fizeram sátiras ridículas, ligando a pensadora ao Governo Federal, chamando, chamando o ENEM de “Ensino Nacional do Ensino Maxista” e outros adjetivos piores, mas todos igualmente ridículos. Uma aluna, com poucas palavras úteis e aproveitáveis e excesso de palavrões, chegou a sugerir em vídeo que escritora nascesse homem e operasse para ver se tornaria uma mulher. Segundo a aluna, lhe faltaria a sutileza e a feminilidade. Dentro de um contexto isolado, a primeira impressão é verdadeira. Depois que se lê a obra toda, a escritora explica a sua afirmativa e a razão de sua frase. Tenho pena dos professores, cuja maior missão depois de repassar seus conhecimentos em sala de aula, é sofrer. Em São Paulo, os mestres mal pagos fecharam a Avenida Paulista em pacífica passeata, protestando contra o projeto de lei do governo Geraldo Alkimin, que dizem que fechará escolas. Se não houvesse alguma coisa podre na mudança que o Governo quer ver aprovada, os mestres não teriam deixado suas salas de para protestar contra o fechamento de escolas.

Os burocratas que elaboraram as mudanças, em gabinetes refrigerados e com conforto, negam que se aprovado como está atualmente, Escolas seriam fechadas. Fechando ou não, o Governo do Estado de SP deveria abrir mais Escolas e construir creches para as crianças, ouvindo mais profundamente as reivindicações dos educadores que vivenciam à prática do da sala de aula.   Como toda mudança abrupta produz dor, abre ferida que se transformam em chagas e se tornam de difícil cicatrização, é difícil entender essa mudança quase na marra, não exaurindo as possibilidades e não aceitando as ponderações de quem vive à prática diária. Na condição de Educador que fui e ainda me considero que ainda seja, peço diálogo entre as partes porque a “Pátria Educadora”, se voltou mais  ao quantitativo estatístico e menos ao qualitativo. Mais os resultados mediático e menos ao que ocorrerão em longo prazo. Mais para a aprovação em concursos públicos e cada vez menos para repassá-lo a alguém. Estamos formando verdadeiros analfabetos diplomados em nível superior, do que produzindo conhecimentos para uso no do dia a dia. Como professor do ensino primário à universidade, convivi e ainda convivo com alunos que não sabem escrever. As antigas, mas corretas, coerentes e perfeitas práticas do ditado, cópia, tabuada, desapareceram.  Para resolver o impasse em SP, o melhor caminho é o diálogo, não o confronto. Esse procedimento rende mídia, mas não voto para ninguém. Enquanto isso, a “Pátria Educadora”, vai emburrecendo cada vez mais o alunado, preocupada com estatísticas e nem um pouco ligando para a qualidade a longo prazo. A educação liberta, mas está sendo usada para aprisioná-los cada vez mais.

O ensino, em todos os níveis, deveria seguir uma progressão, mas, lamentavelmente, vive um momento de regressão. Salário não é a única e principal ferramenta da Educação. Pode ser esse o problema  em São Paulo, mas me faltam dados e elementos confiáveis para analisar meticulosamente à questão. Como professor que ministrava aulas de filosofia para que os alunos entendessem a origem do e o porquê de uma determinada teoria do Serviço Social dentro de um contexto histórico, também sofri quando vi os ridículos vídeos em redes sociais.

Não os repassei porque todos eram de uma imbecilidade tão grande que senti vergonha de recebê-los e vê-los por curiosidade, apenas!

*Carlos Costa, é assistente social, escritos, cronista e jornalista

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