A Praça do Congresso – final

13-07almirAlmir Carlos*

A Praça do Congresso, era o local mais aprazível para nós adolescentes da década de 1970; não existia em Manaus, ambiente mais propício aos passeios, às paqueras, enfim…ao passatempo. Qualquer encontro era na Praça. Não tinha passeio melhor, que descer e subir a Eduardo Ribeiro, encontrando no caminho com as normalistas e ai rolando uma paquerada de leve, para acelerar nossos corações juvenis.

Descíamos geralmente pelo lado esquerdo, passávamos olhando extasiados para a inigualável arquitetura do Teatro Amazonas e, claro, para a pele rosada e suada das turistas que sempre estavam pelas cercanias, a fotografarem a magnífica edificação; tentávamos inclusive entabular alguma conversa em inglês (de ginásio), com algumas delas, principalmente as mais “gatinhas”: _ good afternoon, how are you? What´s your name? I´m very pleased to meet you … e por ai afora… geralmente elas ficavam nos olhando com espanto, davam risadinhas entre elas e se afastavam com um “bye” e adeusinhos de mão. Não desistíamos, jogávamos beijinhos e retomávamos, felizes da vida, nossa caminhada.

Chegávamos ao suntuoso Edifício Cidade de Manaus, um dos primeiros prédios construídos em nossa cidade(existiam três prédios em Manaus: o do IAPETEC, o do Palácio do Rádio e o do Hotel Amazonas). Ali, era local de uma paradinha, para nos deliciarmos com o vento forte e principalmente para paquerar, pois tinha uma lanchonete no térreo, pela 24 de Maio, que era muito movimentada e bem freqüentada, pelas mais belas moças de nossa cidade.

Alcançávamos o Cine Odeon, parávamos para nos informar dos filmes que estavam em “cartaz” e fazer planos para logo mais à tarde…continuávamos…Casa Marabá, Salão da Messody, Restaurante e Pensão Maranhense, de José Osternes de Figueiredo, vulgo “Figueiredo”, acusado de ter estuprado e matado um engraxate que fazia ponto na calçada de seu estabelecimento comercial (mas, isso é assunto para outra crônica)!

Finalmente chegávamos às esquinas das principais Avenidas, no coração de Manaus Eduardo Ribeiro/Sete de Setembro.

Atravessávamos a Sete de Setembro, entrávamos na Lobrás e, depois de olharmos toda a loja, subíamos para a lanchonete, que ficava no 2º andar; dávamos uma vista d`olhos e descíamos novamente para a rua, atravessávamos para o outro lado da Eduardo Ribeiro, para continuar nosso passeio. Subíamos pelo lado direito, no sentido centro/bairro, parávamos no Canto do Fuxico (esquina com a Henrique Martins, em frente às Lojas Capri e Cruzeiro do Sul, Companhia Aérea muito famosa à época, com belas e sensuais funcionárias, que se trajavam elegantemente com blusas impecavelmente engomadas e saias plissadas até os joelhos, com uma abertura atrás, que deixavam nossas imaginações com rédeas soltas!), local onde tudo acontecia, ou melhor, se sabia de tudo o que acontecia em Manaus…

Ao chegarmos à Confeitaria Avenida, não podíamos deixar de saborear um delicioso e sempre gelado xarope de guaraná ou de groselha, acompanhado por um pastel folheado, uma empada ou uma queijadinha. Em frente localizava-se o prédio de O Jornal, matutino de maior circulação da cidade e O Diário da Tarde, vespertino muito esperado pela população, que ansiava pelas informações dos fatos ocorridos pela manhã. Existia um sino na frente do mesmo, que tocava para anunciar algum fato muito importante ocorrido no resto do país e do mundo…

No caminho, parávamos para apreciar a belíssima arquitetura da Loja Credilar Teatro (obra de Severiano Porto), que dizem, ganhou prêmio nacional; o certo é que era um momento de êxtase, vislumbrar tão bela construção.

Passávamos por outra obra monumental, o Palácio da Justiça, construído, na era do fausto da borracha e que hoje está tombado pelo Patrimônio Histórico. Chegávamos novamente à Praça do Congresso, desta vez parávamos em frente ao também belíssimo prédio do Ideal Clube, para tomar fôlego, nos refrescar com a brisa forte, até secar nossa camisas, quase encharcadas de suor, pelo verão causticante dessa bela e cabocla Manaus-Sorriso…

Neste momento, paro por instantes, fecho os olhos e fico a pensar e, “olhando”, da calçada do Ideal Clube, para a Praça do Congresso, dou uma passada de olhos pelos quatro cantos do logradouro… Meu Deus…o que fizeram com nossa Praça ? Não, essa não é, definitivamente a Praça do Congresso, das lindas normalistas,e, em particular “daquela normalista”, que: _ não pode casar ainda, só depois de se formar! Será que se formou, será que casou?

Penso em fazer abaixo-assinados, apelos, movimentos com a população, para que “tragam” de volta nossa Praça…saudosismo exacerbado ? não sei, pode ser…mas, só sei que ao abrir os olhos e voltar ao teclado, percebo que ele é molhado por gotas de lágrimas, que teimosamente insistem em pingar em suas teclas, impossibilitando-me de continuar a escrever…

PS – Este artigo foi escrito em 2010 e graças a Deus as autoridades ouviram nossas preces e nos deram de volta a praça como era originalmente, pena que sem o belíssimo Prédio da Saúde e o Castelinho dos Miranda Corrêa!

*Almir Carlos, professor, pedagogo e escreve neste Portal histórias ou estórias da Manaus antiga.

 

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