A grande quantidade de empresas que trabalham com Danos Pessoais Causados por Veículo Automotores de Vias Terrestres (DPVAT), nas proximidades do Pronto Socorro João Paulo II, por si só chama atenção dos mais atentos.
Apenas nas imediações do encontro das avenida Jatuarana com a Campo Sales, cerca de seis seguradoras de DPVAT estão localizadas à cinco quadras da unidade hospitalar. Segundo a funcionária de uma seguradora, que preferiu não ter o nome revelado, alguns médicos recebem comissão para cada paciente que indicar e dar entrada no seguro com as empresas. “Eles possuem esquemas e ganham por fora, não sei ao certo quanto é, mas a gente sabe que alguns médicos praticam essas atitudes no João Paulo II”, disse.
Ainda segundo a funcionária, não são apenas médicos que fazem parte do “esquema” das empresas de DPVAT, ela diz que praticamente todos os funcionários do JP II são cúmplices e cada um tem uma seguradora para indicar ao paciente. “Médicos, enfermeiros, técnicos de raio X, quase todos que estão ali estão ligados à algum grupo”, afirmou a funcionária.
Dados da Companhia Independente de Polícia de Trânsito de Porto Velho apontam que, atualmente são registrados uma média de 16 acidentes por dia na Capital. Os números também apontam que a maior parte das vítimas de colisões são encaminhadas ao Hospital João Paulo II e demais Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).
Pacientes confirmam a atuação de funcionários e seguradoras
O funcionário de outra seguradora que tem sua sede próxima ao JPII diz que a prática é antiga na unidade hospitalar. “As seguradoras fazem dos servidores suas fontes dentro do hospital. Assim que chega um acidentado eles ligam para a empresa que possuem contato e o pessoal vai para frente do João Paulo II. Na maioria das vezes os próprios médicos adiantam todo o serviço, passam o número, endereço, com quem falar na seguradora, e claro, dizer quem indicou”, revelou o funcionário.
O Diário entrevistou uma paciente que foi vítima da ação desta assim. Mas, por uma questão de segurança seu nome verdadeiro não será revelado. Maria, nome fictício, confirma ter presenciado o trabalho em conjunto entre funcionários do JP II e seguradoras. “Mal dei entrada no hospital e uma enfermeira me indicou uma seguradora.
Ela nem perguntou como eu estava, já foi me passando um papel de uma empresa de DPVAT. Como não estava muito bem nem prestei atenção, só depois que dei conta do que se tratava”, afirmou a jovem.
Segundo ela, ao perceber a interferência da enfermeira, o médico que prestava o atendimento mudou o tratamento com a paciente. “Nem sabia porque ele estava daquele jeito, me tratou super mal. Só depois a enfermeira avisou que eles discutiram porque ele viu quando ela me entregou o cartão da seguradora”, disse a paciente.
Sindicato dos corretores lamenta ações no JPII
O auxiliar de fotomecânica, Antônio Paes, que teve a esposa acidentada também confirma o assédio dos funcionários do próprio João Paulo II. “Estava do lado de fora e uma servidora me abordou perguntando se estava esperando alguém e expliquei a situação e de prontidão ela se disponibilizou em ajudar. Perguntou se já tinha dado entrada no DPVAT, expliquei que ainda não tinha parado para pensar nisso. Também disse que naquela altura não tinha nenhuma informação sobre minha esposa e ela rapidamente foi lá dentro do hospital e através das fontes dela conseguiu informações que minha esposa estava bem. Porém, depois dessa ajuda, ela não esqueceu de deixar um cartão do DPVAT”, afirmou Paes.
O presidente do Sindicato dos Corretores de Seguros de Rondônia e Acre (Sincor-RO), Geraldo Cavalcante Ramos, lamenta a situação e afirma que o Sindicato realiza palestras de conscientização dentro do João Paulo II, para incentivar os pacientes à procurar o Sindicato. Mas funcionários da própria unidade hospitalar são os primeiros à indicar seguradoras. “A gente prega cartazes dentro do JP de manhã e quando é de tarde não está mais. É claro que se alguém tirou só pode ser de dentro do hospital. Esses atravessadores já estão lá dentro pressionando às vítimas para dar entrada naquelas seguradoras que estão ao lado do João Paulo II. A pessoa já entra em uma situação complicada e o fato de um médico indicar uma seguradora e afirmar que a pessoa vai receber mais rápido pela seguradora indicada, é claro que o paciente aceita”, disse Ramos.
Vítima deve procurar o sindicato
Geraldo Ramos diz que a maneira mais segura da vítima receber o DPVT é procurar o Sincor-RO, e principalmente, sem precisar pagar nada. “Essas seguradoras pedem de 20 a 30% do valor aos pacientes e em muitos casos não pagam a pessoa.Dizem que perderam a documentação e alguns levam anos para receber o dinheiro. Uma vez que o dinheiro foi pago a pessoa não recebe mais. Com o processo pronto são apenas 30 dias para a pessoa receber a quantia e não repassam nada para a gente. Nosso atendimento é gratuito”.
(Diário da Amazônia)