
MANAUS, AM – Nos últimos 16 anos, o potencial de Hidrogênio (pH) no rio Negro passou de 4,5 para 6,6. Isso significa que o rio vem perdendo sua acidez natural e as bacias hidrográficas de São Raimundo, Educandos e Tarumã estão contribuindo com esta pressão e mudando o nível da qualidade das águas deixando-as cada vez mais suscetíveis a poluição. O quadro é preocupante, conforme informou a pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Maria do Socorro Rocha da Silva.
“Quando vamos parar de tratar os nossos recursos como se eles não fossem importantes?”, questionou ontem a pesquisadora, no terceiro dia de apresentação do V Congresso de Iniciação Científica (Conic) do Inpa. Conforme ela, as consequências disso são enormes. Para o sistema aquático, afeta o conjunto de todos os seres vivos da região. “Existem comunidades de peixes que vivem com estas características de rio. A mudança de oxigênio dificulta a vida deles que tendem a desaparecer e no lugar surgem organismos até nocivo a saúde”, explicou.
Para a população, impacta a balneabilidade, deixando as praias da Ponta Negra e da Lua impróprias para o banho. Além disso, também tem o perigo pelo aumento de bactérias patogênicas (que causam doenças, como a tuberculose e a lepra, entre outras). Mas este cenário, ainda pode ser revertido. “Tratando os esgotos, cuidando do lixo e preservando a vegetação das margens dos rios e igarapés. Isto é cuidar da água, nosso potencial hídrico fabuloso”, apontou a pesquisadora do Inpa.
Maria destacou que existe uma preocupação em termo de Brasil e mundial também com a qualidade de água enquanto “nós estamos degradando nossos igarapés”. “Nossas pesquisas chamam a atenção porque temos grande quantidade de água, mas não temos qualidade. Esses trabalhos são para acordar a sociedade: olha o que está acontecendo com nossas águas. A bacia do São Raimundo está 80% degradada, a do Tarumã quase 40% está comprometida, a Educandos está totalmente poluída e a do Puraquequara está começando o processo de contaminação”, ressaltou.
A pesquisadora frisou que na suma, todas as poluições nas bacias de igarapés de Manaus vão parar no rio Negro, que é o cartão portal da cidade. “Quando você não trata seu sanitário, joga muitas bactérias no meio ambiente e o rio Negro recebe tudo isso. Quando alguém for dar um passeio pelo rio pode contrair uma ameba ou uma giárdia (protozoário que causa diarréia e dor abdominal). Não pode beber aquela água que parece tão limpa porque tem entrada de esgoto. Hoje, nós quase não temos estação de tratamento de esgoto”.
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