Rio – Estatal corre o risco de perder a principal ‘janela’ do mercado de dívida externa, em janeiro, por causa de problemas na divulgação de balanço.
Sem publicar o balanço do terceiro trimestre, a Petrobras corre o risco de perder a principal chance para obter recursos financeiros do exterior, em janeiro, quando tradicionalmente realiza sua captação mais importante do ano.
Para que isso não aconteça, é possível que a estatal tenha de aceitar as ressalvas dos auditores nas demonstrações financeiras, contabilizando o efeito das denúncias de desvios que vêm sendo investigados na Operação Lava Jato.
Além disso, pode ter de negociar com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e com a Securities and Exchange Commission (SEC), dos EUA, um prazo para ajustar os números. Pelas regras americanas, o prazo para se utilizar esse balanço nas captações do mercado de dívida externa termina em meados de fevereiro.
O principal objetivo da captação de recursos externos é ampliar a capacidade de investimentos da empresa. Mas, no caso da Petrobras, essa é uma estratégia, que, no médio prazo, pode não afetar o plano de negócios da companhia. Em teleconferência realizada esta semana, o diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, disse que a empresa tem recursos suficientes para seis meses sem captação. “Temos trabalhado com volumes muito elevados de caixa”, disse.
A Petrobras tem um cronograma bastante definido de captações, dividido basicamente em duas grandes operações, uma em dólares no começo do ano e outra em euros e libras, no segundo semestre. A captação em dólares de 2014 foi realizada em março, quando levantou 8,5 bilhões de dólares em bônus com vencimentos em três, seis, dez e trinta anos.
A estatal pretende apresentar um balanço não auditado no dia 12 de dezembro, que deve trazer a reavaliação de alguns ativos, e trabalha para obter o documento com o aval dos auditores, além de já admitir que terá de reapresentar balanços anteriores. Segundo especialistas, diante da incerteza quanto à dimensão que as denúncias de fraude e do tempo que potencialmente pode ser tomado para apuração do esquema, o balanço auditado deve vir com ressalvas.
“É muito provável que a auditoria faça isso e esteja agora debruçada para trazer a valor justo os ativos com suspeita de desvios”, diz a advogada tributarista Isabel Bertoletti, do Machado e Associados.
Mesmo com ressalvas, o relatório cumpre as exigências legais e é válido como documento para captações. O grande problema é a imagem arranhada que ficará da estatal no mercado, comprometendo assim sua capacidade de captação.
(Com Estadão Conteúdo)