Pesquisador da Ufac fala sobre alagações no inverno amazônico

22-01ufacRio Branco, AC – Todos os anos, durante a estação das chuvas, as populações da Amazônia Ocidental — que abrange os estados do Acre e Rondônia, bem como os países Peru e Bolívia —, assentadas perto das margens dos afluentes ou dos rios principais das bacias hidrográficas do Juruá, do Purus e do Madeira, vivem, em maior ou menor grau, os impactos decorrentes das alagações. Esse é um fenômeno que acontece entre outubro e abril.

Para falar sobre essa questão, a reportagem da Assessoria de Comunicação da Universidade Federal do Acre (Ascom-Ufac) ouviu o professor e pesquisador Alejandro Fonseca Duarte, coordenador do Grupo de Estudos e Serviços Ambientais da instituição, para quem “a vulnerabilidade social, falta de saneamento básico e moradias inadequadas fazem com que bairros inteiros fiquem à mercê de serviços emergenciais nestes momentos”.

No Acre, isso acontece em Cruzeiro do Sul, Tarauacá, Sena Madureira, Rio Branco e outras cidades. E as notícias relacionadas com tais acontecimentos movimentam a imprensa local e nacional devido à recorrência das calamidades, que envolvem centenas de famílias.

No “inverno”, as precipitações podem alcançar mais de 1.700 milímetros. As chuvas se distribuem assim: 53 % de janeiro a abril, 11 % de maio a agosto e 36 % de setembro a dezembro, do acumulado anual, que na área em questão está em torno de 2.000 milímetros. A variabilidade interanual das chuvas está demonstrada na figura.

Cenário novo

No dizer de Duarte, “os componentes das calamidades que vêm com as chuvas são: as cheias dos rios, a crescente população em áreas de risco e, desde 2014, um cenário novo — o isolamento do Acre pela enchente do rio Madeira. A recorrência dos dois primeiros componentes é constante; o novo cenário ameaça a se repetir em 2015”.

“Se ocorrer”, explicou o pesquisador, “abalará o pressuposto de alguns setores no sentido de que só se repetiria em 180 anos ou, mais ainda, 300 anos. Colocaria também em xeque a tese de que as duas usinas hidrelétricas construídas no rio Madeira, em Porto Velho, não influenciaram a cheia histórica de 2014”.

“De todas as formas”, continuou o pesquisador, “o novo cenário, relativo ao isolamento do Acre, estará latente enquanto a ponte sobre o rio Madeira não fique pronta. No que diz respeito aos impactos sociais e ambientais das construções hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, o tempo e os estudos mostrarão o certo e o errado. Tais construções em redes de energia elétrica são sistemas complexos pela sua integração de partes e múltiplas interligações entre elas e o ambiente”.

Para concluir, Duarte esclareceu que “na natureza praticamente todos os sistemas são complexos, por exemplo, o sistema de drenagem fluvial, o sistema clima, um organismo, as sociedades. Eles estão sujeitos a imprevisões, a gerar modificações, cujas causas não são evidentes. Sabendo disso, são permanentemente observados e estudados. Cada desastre que advém em um sistema complexo é pesquisado minuciosamente até se descobrir o motivo, em busca de uma confiabilidade cada vez maior.

Tal proceder não justifica os erros humanos e as negligências. Tomara que o novo cenário seja reversível. E que ações de prevenção, mitigação e adaptação, em relação às costumeiras alagações, ajudem a aumentar a qualidade de vida dos acreanos”.

Por: Assessoria Ufac

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