Pesquisa: brasileiro “sem banco” é pobre, negro e tem baixa instrução

São Paulo – Segundo Instituto Data Popular, quase 40% dos brasileiros não utilizam os serviços bancários.

De acordo com um estudo do Instituto Data Popular divulgado nesta terça-feira (08), 39,5% da população adulta do país – cerca de 55 milhões de pessoas – não possui conta bancária. O perfil dessa população demonstra que o acesso aos serviços financeiros são exclusividade das classes mais abastadas nas grandes cidades: o brasileiro “sem banco” é pobre, negro, tem baixa instrução e vive nas regiões Norte e Nordeste, sobretudo no interior do país.

Segundo a pesquisa, realizada nos meses de fevereiro e março deste ano, essa população movimenta anualmente R$ 665 bilhões fora do sistema bancário brasileiro. Nesse grupo, 60% são negros e 68% têm no máximo o ensino fundamental completo. Em contrapartida, apenas 1% dos brasileiros com ensino superior completo não possuem contas bancárias. A cobertura também varia conforme a região brasileira: no Norte e no Nordeste cerca de metade da população adulta não é cliente dos bancos. Nas demais regiões, esse grupo fica abaixo dos 35%.

Outro aspecto relevante é quanto às relações de trabalho dos “sem banco”: trabalhadores autônomos (26%) ou sem carteira assinada (20%) são maioria, seguidos pelas donas de casa (17%). Por outro lado, apenas 8% desse grupo possui vínculo empregatício formal.

Segundo Fernando Nogueira da Costa, professor do Instituto de Economia da Unicamp, os bancos não tentam atingir esse público-alvo, por se tratarem da parcela mais pobre da população brasileira:

“Quase metade desses brasileiros ‘desbancarizados’ está fora do mercado de trabalho – são donas de casa, desempregados, estudantes e aposentados. Em outras palavras, não constituem o público-alvo de bancos.

Evidentemente, estes são demandados por gente participante da PEA [população economicamente ativa] urbana que tem vida econômico-financeira ativa. Os “sem-renda” (e sem-riqueza) são ‘sem-conta'”, explica em seu blog.

Para a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) – que se recusou a comentar os resultados da pesquisa – o número de clientes dos bancos têm crescido rapidamente: o Brasil passou de 82 milhões de contas correntes em 2008 para 97 milhões em 2012, com uma taxa de crescimento de 4% ao ano. Já o número de cadernetas de poupança subiu de 90 milhões para 102 milhões no mesmo período, crescendo a um ritmo anual de 3%. Para Nogueira da Costa esses números, no entanto, não distinguem os brasileiros que possuem mais de uma conta ou poupança e, por isso, apresenta problemas metodológicos:

“O problema metodológico é simples, mas é simplesmente ignorado! Até mesmo pela Febraban… Haja visto seus dados aparentemente inconsistentes: 92 milhões de contas correntes ativas e 54 milhões de bancarizados?! Qual é o tamanho da elite econômica que tem mais de uma conta bancária? Não se sabe, porque não há controle central dos CPFs de todos os clientes de bancos por causa do “sigilo bancário” – e nenhuma pesquisa-de-opinião coloca isso como quesito”, critica o especialista.

Mais pobres têm dificuldades com finanças

O estudo do Data Popular mostra que, quanto menor o nível de renda, maior é a aversão da população em utilizar os serviços bancários. Na classe baixa, 45% dos entrevistados disse concordar com a afirmação “evito ao máximo usar os serviços de bancos”, enquanto essa porcentagem cai para 37% entre a classe alta. Da mesma forma, 47% dos mais pobres dizem preferir pedir dinheiro emprestado para uma pessoa próxima do que utilizar mecanismos de crédito. Uma coisa, no entanto, está alheia às classes sociais: 71% dos brasileiros se sentem mau atendidos nos bancos.

As justificativas para essa rejeição são muitas, segundo a pesquisa. Os brasileiros consideram o atendimento frio e impessoal e veem os bancos como algo complicado. Grande parte dessa população – principalmente os mais pobres – sente constrangimento em procurar os serviços e acredita que eles são feitos apenas para quem tem dinheiro.

A pesquisa ouviu 2006 brasileiros em 53 cidades de todas as regiões brasileiras e tem uma margem de erro de 2,19%.(JB)

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.