Belém, PA – Uma reunião marcada para as 10 horas de hoje no Ministério da Pesca e Aquicultura, em Brasília, poderá decretar praticamente o fim da pesca comercial no Estado do Pará.
Além do previsível colapso na economia de vários municípios do litoral paraenses, todos com longa tradição pesqueira, a medida, se confirmada, afetará também profundamente o hábito alimentar de boa parte da população do Estado, sobretudo na Região Metropolitana.
A pauta do encontro não parecia até ontem muito clara para os dirigentes do setor pesqueiro, mas o pouco que dela se sabia já era suficiente para provocar calafrios. O presidente do Sindicato da Indústria da Pesca (Sinpesca), Armando Burle, que vai participar da reunião, disse que poderá haver um interdito para a captura comercial do pargo e da pescada amarela. Há ainda, segundo ele, a possibilidade de que a pesca possa vir a ser proibida também para a cioba e a piramutaba.
As quatro espécies, que podem entrar na lista daquelas consideradas sob risco de extinção, ou fazem parte da nossa cultura alimentar, como é o caso da pescada amarela; ou integram com destaque a pauta paraense de exportações, como o pargo, a cioba e a piramutaba, embora tenha esta última perdido espaço no mercado externo ao longo dos últimos anos. “Se houver a proibição para a pesca dessas espécies, vamos enfrentar o caos e o setor pesqueiro do Pará tenderá a desaparecer”, alertou Armando Burle.
Para participar do encontro em Brasília, ficaram de viajar na madrugada de hoje com destino à capital federal comitivas de representantes de diversos municípios, entre eles, Bragança e Vigia, considerados os dois maiores produtores de pescado do Pará. Além dos prefeitos (padre Nelson Pereira Magalhães, de Bragança, e Mauro Alexandre dos Santos Souza, da Vigia), integram a caravana paraense lideranças políticas e também empresários do setor pesqueiro.
EXTINÇÃO
Fundador e diretor da indústria Micapel Pescados, com sede em Bragança, o empresário Maurílio Santiago, um dos que integram a caravana, disse que a proposta, chegada ao conhecimento do setor pesqueiro paraense, é para que as espécies consideradas sob ameaça de extinção passem a ser controladas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, o ICMBio. Caso isso venha a se confirmar, afirmou Maurílio Santiago, será o mesmo que decretar a proibição pura e simples da atividade pesqueira.
O presidente do Sinpesca, Armando Burle, disse ontem que os pescadores artesanais e os empresários da pesca industrial não questionam a necessidade de se adotarem medidas para garantir a preservação das espécies.
O que o setor considera questionável, segundo ele, é a falta de informações precisas e dotadas de embasamento científico para definir quais espécies estão ou não ameaçadas de extinção. “Pelos níveis atuais de produtividade no setor, não temos indicação nenhuma neste sentido”, afirmou o dirigente.
O Sindicato da Indústria da Pesca estima em cerca de 25 mil embarcações a frota pesqueira atual em atividade no Pará, na pesca industrial e na artesanal. A atividade, tanto no litoral quanto nas águas interiores, responde hoje, segundo ele, por cerca de 200 mil empregos diretos em todo o Estado.
Considerando-se o efeito germinativo dessa atividade econômica e a propagação de seus efeitos no comércio, na logística e na cadeia de suprimentos, calcula-se que para cada emprego direto sejam gerados outros três indiretos, o que eleva para cerca de 800 mil o total de pessoas ocupadas na pesca. “Se isso acabar de repente vamos ter uma convulsão social no Pará”, finalizou.
(Diário do Pará)