O frei, a praça , a igreja…nossa Manaus de 1965

Almir Carlos *

Chegava ao Brasil em 1965 vindo de Gênova na Itália, de onde saiu em 08/01/1965 acompanhado do Frei Thomas Otavianni no Navio Augustus que aportou no Rio de Janeiro, em 21/01, uma das figuras mais tradicional e querida do povo amazonense: Frei Fulgêncio (Giovanni) Monacelli, nascido em Grello – Gualdo Tadino na Itália em 05/03/1938. Ordenado sacerdote em 25/08/1963, veio para Manaus ainda muito jovem, com apenas 27 anos e nunca mais saiu daqui (deve ter comido muito jaraqui)!

Trabalhou em Benjamin Constante e São Paulo de Olivença. A partir do ano de 1972, Frei Fulgêncio tornou-se uma personalidade com presença constante na praça e na Igreja de São Sebastião.

Trabalhando em Benjamim Constant e São Paulo de Olivença, veio para Manaus em 1972 para desenvolver suas atividades sacerdotais na Igreja de São Sebastião onde ficou como pároco por 21 anos. Seu trabalho foi intenso na área de esportes e música, principalmente com o Coral que ele fundou e que agregava os jovens que moravam nas redondezas. No prédio funcionava também o Teatro Juvenil e a JUFRAMA – Juventude Franciscana de Manaus. Incansável e obstinado, fundou com muito sacrifício o Centro Paroquial Frei Miguel Ângelo, na Rua Tapajós.

Ele Foi além de Orientador Espiritual dos jovens, treinador da Equipe de Voleibol e Maestro do Coral, que era composto por diversos rapazes e moças que moravam no entorno, como as Laureanas, filhas do Sr. Lauro Timótheo de Lima, casado com Dona Odete Castro Lima, avós de minha queridíssima amiga Cynthia Araújo Lima, advogada e brilhante Professora da Universidade Federal da Bahia, radicada em Salvador há 18 anos…

Frei Fulgêncio foi muito ligado aos esportes, principalmente ao Voleibol. Em Benjamim Constant construiu uma Quadra de Esportes com as próprias mãos. Torcedor da Juventus da Itália, do Vasco da Gama e do Nacional, não perdia um só jogo no Vivaldão, com seu inseparável radinho de pilhas. Uma figura ímpar na Sociedade Amazonense. Foi homenageado pela Câmara Municipal de Manaus pelos relevantes serviços prestados a nossa cidade e porque não dizer, ao nosso Estado?

Todos os dias tenho o privilégio de encontrá-lo sentado num banco da Praça de São Sebastião, bem em frente à entrada principal da Igreja e desfrutar de uma conversa agradável e prazerosa sobre a cidade!

Existia uma conversa corrente entre os cidadãos mais antigos, de que a Igreja de São Sebastião deveria possuir duas torres, mas que o navio que as traziam afundou…outra conversa era de que os tripulantes do esqueceram de descarregar a outra torre, indo embora…

Frei Fulgêncio negou as duas versões e me disse que o que aconteceu foi o seguinte: Contrataram uns operários para construir a Igreja (que realmente deveria ter duas torres, como no Projeto original). Os Capuchinhos pagaram adiantados os pedreiros e estes não concluíram o serviço…”deram no pé”! Disse-me também que a Igreja não foi construída sobre blocos vindos da Itália e que o que parece bloco sobre bloco, são apenas riscos formando retângulos.

Brincalhão e alegre, Frei Fulgêncio se confunde com a própria Igreja e com a Praça, refletindo o quão é querido e importante para a história de nossa Manaus que via de regra esqueça suas tradições e seus filhos ilustres…

Manaus, Praça de São Sebastião, Teatro Amazonas…Igreja do Santo Capuchinho…sexta-feira…manhã de clima ameno…desço do carro do meu amigo Batista que me dera uma carona até a Praça e me dirijo em direção ao banco onde está sentado Frei Fulgêncio. Cumprimento-o com um Buongiorno…ele se volta já sorrindo e começamos a conversar, até a hora de ir-me…Levantamos, apertamos as mãos em despedida e ele sai a passos lentos, atravessa a rua 10 de Julho e todos param para admirar aquele ser humano maravilhoso que veio para uma terra bem distante de sua querida e pequena Grello, para se dedicar ao Evangelho, missão que continuará até quando Deus lhe proporcionar o descanso eterno no paraíso celestial…ao seu lado.

*Almir Carlos é professor, pedagogo e escreve sempre neste Portal a história de Manaus.
Os artigos assinados não representam o pensamento do Portal e são de inteira responsabilidade de seus autores. 

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