O CAMPO GRANDE – final

Almir Carlos

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Almir Carlos
Almir Carlos

Nosso querido Campo Grande, localizado no cruzamento das Ruas Comendador Clementino/Japurá, onde hoje funciona a Construtora Capital e que antes tinha apenas a taberna do seu Abidon e, a partir da década de 1960, começou a funcionar aquele que foi à época o melhor restaurante de nossa cidade: O Canto da Alvorada, de propriedade do Seu Álvaro Neves, casado com Dona Mariazinha e pai de nosso querido Alvrinha (ou para os mais íntimos “Guabiru”), do saudoso Zeca e da Diva, nossa musa dos anos 1970.

O Campo Grande na verdade, não foi palco para nós, mas, para nossos pais, principalmente usado pelo Time do Rio Branco, comandado pelo meu pai João Carlos e pelo Gorgonha. O Rio Branco era um time quase imbatível, principalmente quando jogava “em casa”. Cheguei a ver os troféus conquistados por essa Equipe, que era o amor de Gorgonha e de papai.

O restaurante começou a funcionar e para nós meninos da época, foi um acontecimento, pois tivemos acesso ao sorvete, ao picolé, ao refresco de maracujá, graviola e laranja, que era servido em copos de vidro e com casquinhas de gelo. A Coly, que servia esses produtos, mexia o refresco,com uma concha comprida e, diziam os “maiores”, que pingava suor do “suvaco” dela, razão da delícia que era. Verdade ou não, realmente era muito gostoso o refresco do Canto da Alvorada! A Coly também tinha uma “unheira” que não fazia questão de esconder, no dedo médio de sua mão direita e nós ao recebermos quaisquer dos produtos, virávamos o rosto para não vermos o nojento pus escorrendo…

Lembro das tartarugas que chegavam no caminhão para abastecer o Restaurante; eram tão grandes, que chegavam a nos arrastar quando subíamos em seus cascos. Gostávamos de apreciar todas as espécies de animais que chegavam para serem abatidos: porcos, carneiros, patos, tartarugas, tracajás, etc. Para nós meninos, era uma atração, um momento de festa!

Do outro lado da rua, quase em frete ao Restaurante, pela Comendador Clementino, o seu Álvaro construiu o Hotel Alvorada, que hospedou muita gente famosa, como: Jair Rodrigues, (que chegou a bater uma bolinha conosco no meio da rua, moleque que só ele… foi uma grande atração, principalmente por sua simpatia e pelas gargalhadas estridentes), Leno e Lilian, Fábio, Nelson Ned, (que também foi muito simpático e tirou fotos conosco), Diana, Odair José,Nelson Gonçalves, Evaldo Braga, (que andou de casa em casa cumprimentando a todos, até parar na casa do Almir, da Dona Zefa e do seu Alfredo, do Alcemir, que jogava muita bola e que faleceu prematuramente, da Teca, da Ana, da Alcineide e pediu água, foi a grande atração do bairro nesse dia, que simpatia!). Tivemos também hospedada no Hotel, a Seleção Olímpica de Futebol do Brasil, com Manuel Maria, Picolé, Ferreti e tantos outros. Aliás, incluindo a linha de ataque do Santos com Pelé e Coutinho, a melhor linha que vi jogar, foi a da Tuna Luso Comercial Brasileira, que goleou o Rio Negro, o Olympico, o Fast e empatou com o Nacional, saindo invicta de nossos gramados: Manuel Maria, Lió, Laércio e Milton, que depois vieram todos jogar em Clubes de Manaus, à exceção de Manuel Maria, que foi para o Santos.

O bairro do Campo Grande como assim ficou conhecido, era na realidade composto  só pelas Ruas Comendador Clementino e Japurá. A Comendador Clementino começou a receber asfaltamento, em 1962 e, os únicos carros que transitavam por ela, era o Austin velho do Tude, o Calhambeque da Maria Monassa, o Simca Chambord e o Rabo-de-peixe do Tambaqui e do Puxa-Faca e mais alguns carros de praça. O Austin do Tude era uma atração à parte, porque mais “dava o prego” do que andava e nós o empurrávamos na ladeira e o “morcegávamos”, até ele perder a embalagem , na subida da outra ladeira.

Que tempo bom, sem esse trânsito maluco, jogávamos futebol no meio da rua, brincávamos de garrafão e barra bandeira, além dos carrinhos de rolimã, que deixou marcas eternas em nossos joelhos e peito, como no Alzeir, o Zê, que pulou do carro de bombeiros do Lobinho, no meio da ladeira (seu peito ficou todo esfolado, em carne viva). Nossa turma nasceu, cresceu e até hoje se encontra, com exceção claro, dos que já não estão entre nós: Meu irmão João (outro craque de bola), Luiz Mário, o Sacy, Paulo Catita, Getúlio, Lobinho, Alzeir, Vital, Carlos Ramalhosa (atual Presidente da Sem Compromisso), Sálvio, Álvaro Guabirú, Pauleta, Davi, Jaime, Déoson, Mauro Batoré,Carlos Bittencourt, Rinaldo Buzaglo, Tuta, que mora em Belém, Publizinho, Nato, Gil, Zezinho, Júlio, Bão, Dédi, (que descobriu comigo uma cachoeira no igarapé e que a batizou de Santa Catarina), Toninho, sobrinho do Odilon, nosso taberneiro querido, que sumiu, ninguém sabe, ninguém viu, nas águas escuras do Rio Negro (seu corpo nunca foi encontrado). Jaime, Jorge e Rui, irmãos “ventas de bode”, Paulo Marinho e os que se apressaram e foram para o andar de cima prematuramente), como : Sabá Marinho, o Rato, nosso saudoso e querido Carriço, Ricardo Marinho, o Casca, Coroca, Luiz Eduardo, nosso inesquecível Kirù (morto estúpida e covardemente em frente a sua residência em um assalto).

 

Em 1979, nascia a Escola de Samba Sem Compromisso, idealizada e enraizada na Taberninha do seu Déoson. Começou com o nome de “Unidos da Comendador”, em 1978 e passou a chamar-se Bloco Sem Compromisso, a partir do natal de 1979, na casa do Mourão, Francisco, irmão da Mazé, mas, é assunto para outra crônica. O Campo Grande foi e será inesquecível para todos nós, porquanto, nossa infância e juventude foi toda desenvolvida nesse pedacinho de Manaus, de muita paz e tranquilidade, provinciana e brejeira, hospitaleira e ensolarada, arborizada e florida… outrora  sorriso!

 

*Almir Carlos, é professor, pedagogo e escreve neste Site, as histórias ou estórias da Manaus antiga.

 

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