Amazônia: 10 mil anos de domesticação de plantas

Plantas da Amazônia Amazonianarede/Embrapa

A primeira palestra do II Congresso Brasileiro de Recursos Genéticos, nesta terça-feira (25), em Belém (PA), conduziu os participantes por uma trajetória de 10 mil anos de ganhos e perdas na domesticação de plantas na Amazônia. De acordo como pesquisador Charles Clement, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), à época da conquista europeia, o trabalho agrícola de centenas de gerações de populações indígenas levara a maior floresta tropical do mundo a contar com 52 espécies vegetais domesticadas, como pupunha, bacuri e abacaxi, além de espécies exóticas levadas para a região.

Nos 300 anos de colonização seguintes, no entanto, os habitantes originários foram reduzidos a 5% daquela população que haveria quando da chegada do homem branco à região. Segundo Clement, ao colapso populacional seguiu-se o fenômeno conhecido por erosão genética. “A perda de recursos genéticos acompanhou a diminuição da população nativa da Amazônia, pois plantas domesticadas são aquelas que dependem do homem para garantirem sua reprodução”, explicou o pesquisador, ressalvando que não se sabe ao certo a quantidade de habitantes da Amazônia no século XVI, mas cinco milhões são a estimativa mais aceita.

Seguindo a trajetória dos recursos genéticos na Amazônia em direção aos tempos atuais, Clement explicou que os ciclos econômicos vividos pela região, como as drogas do sertão e a borracha, não produziram recursos genéticos, mas fizeram uso de recursos biológicos. Isso porque o pesquisador entende estes últimos como os recursos biológicos postos em melhoramento.

De acordo com Clement, os recursos genéticos receberam interesse científico na região apenas com o surgimento das instituições de pesquisa na Amazônia: Museu Paraense Emílio Goeldi, ainda no século XIX, Instituto Agronômico do Norte (atual Embrapa Amazônia Oriental), Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira e Inpa já no século XX.

Por fim, Clement considerou que a situação em geral é preocupante na conservação e uso dos recursos genéticos, apesar de iniciativas promissoras. Isso tanto porque ocorrem perdas nos acervos das instituições de pesquisa quanto, principalmente, pela diminuição das populações tradicionais no interior da Amazônia. “Com o êxodo rural, as pessoas que cuidam e fazem uso de recursos genéticos partem para as cidades e isso colabora com a erosão genética”.

Abertura
O papel dos recursos genéticos na promoção do desenvolvimento humano foi o principal assunto abordado na abertura do II Congresso Brasileiro de Recursos Genéticos, na noite dessa segunda-feira (24), em Belém (PA). Presente no evento, o secretário de Agricultura do Pará, Hildegardo Nunes, enfatizou que a Amazônia possui com os recursos genéticos uma relação de interdependência. “A região representa para a pesquisa em genética um desafio. E a genética representa para a Amazônia a possibilidade de preservação de seus recursos naturais”, disse.
Segundo o secretário, o uso sustentável da biodiversidade da região depende do melhoramento de plantas. “Um modelo de uso da terra como os sistemas agroflorestais apenas incorporará espécies pouco conhecidas ou desconhecidas se avançarmos no conhecimento sobre a genética dessas frutíferas, pois é preciso saber multiplicar as sementes e produzir as mudas”, afirmou Nunes, desejando que a genética contribua para uma sociedade mais humana.

O chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental, Claudio Carvalho, avaliou que o melhoramento genético de plantas e animais é um dos principais benefícios que a empresa que representa legou para a sociedade brasileira. Já a presidente da Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos, Clara Oliveira Goedert, resumiu a proximidade da relação entre recursos genéticos, produção de alimentos e desenvolvimento: “Os recursos genéticos são responsáveis pela sobrevivência da humanidade”.

O II CBRG é promovido pela Embrapa Amazônia Oriental e pela Sociedade Brasileira de Recursos Genéticos. O evento segue com programação de palestras, mesas-redondas, minicursos até quinta-feira (27). Na sexta-feira (28), os participantes poderão optar por visitas técnicas à ilha do Marajó, aos bancos de germoplasma da sede da Embrapa Amazônia Oriental ou ao Museu Paraense Emílio Goeldi.

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