Ronaldo Santos*
O fim do ano se fecha com notícias ruins na economia (baixo PIB) e também preocupantes no cenário ambiental. Na Amazônia, na contramão dos avanços de anos anteriores, houve aumento considerável de desmatamento, superando o setor veicular na emissão de dióxido de carbono (veja aqui).
Em outras palavras, desmatar e queimar gera mais poluição atmosférica do que os carros. Parece esquisito este dado (sobretudo quem mora em grandes centros), mas é o que se tem provado.
Interessante que houve, por anos, uma correlação entre economia aquecida e desmatamento. A explicação é simples: mais dinheiro correndo no mercado, o que dá mais crédito no banco e mais gente procurando investir na agricultura. Como resultado mais áreas são desmatadas (apesar de já termos mais e mais tecnologia agrícola capaz de produzirmos mais com menos área). Um contra-senso que ainda não superamos.
Agora, o que se vê é que não há mais esta dependência: há anos em que a economia foi bem e o desmatamento baixo; ocorreu também o inverso – como é o caso do ano de 2012 – de acordo com os números ainda não fechados para o período.
Efeito cascata
Para o Brasil (a celeiro do mundo, termo que não cai bem ao meu ver), a ligação entre meio ambiente e produção de alimentos é crucial. Somos um dos três maiores produtores de bens do setor primário (oriundos diretamente do meio ambiente, como madeira, comida, algodão etc); ao mesmo tempo detemos grandes estoques de recursos naturais.
Como o planeta é um sistema interligando a tudo e a todos, problemas ambientais causam efeitos em outros setores da economia. Por exemplo, não de hoje, mas já há alguns anos temos visto problemas na distribuição de chuvas em todo Brasil. Tem se acelerado,
negativamente, por sinal.
Aliás, a relação direta com o desmatamento é algo sabido por tempos – especialmente quando já se sabe o quanto as chuvas da região norte interferem nas outras regiões. Não é novidade.
O que se tem que analisar é que diante do desequilíbrio das chuvas neste ano de 2012, o contexto é de quebras nas safras de muitas regiões que antes havia fartura.
A pesquisa e o exagero
Muito se fala em exagero dos números; que se carregou nas tintas; que os analistas – para atraírem atenção e audiência – buscam situações alarmistas. Muitas vezes é o que de fato acontece. Contudo, não é de se desprezar os inúmeros, e o mais importante, os fatos que todos os dias observamos.
A ciência é uma arma importante neste quesito. Enquanto legado da humanidade usar o conhecimento a nosso favor é fundamental. Pesquisas precisam – e estão cada vez mais – sendo utilizadas para o bem e não para o ganho de alguns poucos.
O que falta avançar
No setor de agricultura e pecuária o Brasil tem sido um líder nas pesquisas. Precisamos avançar no quesito energético, onde chineses, alemães e americanos já nos fazem comer poeira. Mas a barriga, claro, sempre grita primeiro, e a urgência é a alimentação, a agricultura.
Este o foco que precisa ser mirado pela ciência brasileira – sem negligenciar outros setores estratégicos.
Apesar de termos saído de um pais miserável para um pais pobre, muitas gente ainda passa fome em nosso pais. Nem se compara, claro, a outras nações, mas não podemos baixar a guarda.
Por fim, problemas do desmatamento na Amazônia, redução no estoque de grãos e consequente baixo nível de produção econômica estão diretamente associados. A pesquisa ajuda, e muito. Agora, é ver o mais importante e pisar no acelerador. Afinal, mais um ano se descortina. Que ele venha recheado de melhores noticias!
*Ronaldo Santos é engenheiro agrônomo e servidor público federa de carreira, com atividades no Incra,AM.