Amazonianarede – iG
Brasília – Tanto se falou nesse assunto que nem parece que o pastor Marco Feliciano foi eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias há pouco mais de duas semanas, no dia 7 de março.
A eleição do deputado, conhecido por suas declarações consideradas racistas e homofóbicas, deflagrou uma onda de protestos pelo país. A indignação reuniu no mesmo coro as vozes do movimento LGBT, da parcela da comunidade gay que geralmente é alheia aos fatos políticos e do movimento negro. E, para além disso, está causando uma mobilização social com número cada vez maior de participantes.
“A nomeação dele é tão absurda que até pessoas que não fazem parte das minorias se indignaram, veja a Xuxa e o protesto que ela fez”, comenta Paulo Iotti, advogado especializado em direito da diversidade sexual. A apresentadora foi a primeira de uma longa lista de personalidades da TV a se posicionar contra a eleição de Feliciano em seu perfil no Facebook. As redes sociais foram um amplificador dos protestos que se espalham em nível nacional e internacional. Manifestações que aconteceram por todo o país foram fotografadas, filmadas, comentadas na internet e já viraram notícia no mundo.
O Facebook concentra vários grupos que pedem a saída de Feliciano do cargo. Num deles, “Cartazes & Tirinhas LGBT”, os mais de 16 mil seguidores encontraram espaço para trocar informações e postar suas mensagens. Já o grupo “Feliciano não me representa”, com mais de 12 mil seguidores, recebe diariamente milhares de fotos de pessoas declarando sua insatisfação com a escolha do parlamentar.
Toda essa onda ativista não fica só no mundo virtual. A Avenida Paulista, em São Paulo, é palco neste sábado (23) da terceira manifestação consecutiva para forçar a renúncia de Feliciano. O ativista LGBT Bill Santos reforça que a campanha rompeu os limites do movimento gay e envolveu toda a sociedade. “Não tem uma liderança. É um movimento da sociedade civil, apartidário. Uma luta social da qual faço parte como cidadão indignado. Não foi um ato contra ninguém. O movimento foi contra um racista e homofóbico e não contra os evangélicos ou religião nenhuma”, declara.
O deputado federal Jean Wyllys , que luta incansavelmente pelos direitos civis de LGBTs, é a maior referência atual para a expressão política dos gays no Congresso. “Feliciano está cada vez mais isolado na Câmara e no próprio partido (PSC). Um bom substituto para ele seria o deputado Hugo Leal, líder do partido. Ele também é religioso, mas é do diálogo. Mesmo sendo conservador, não é de posições retrógradas”, diz ele. Único político abertamente gay no poder, Jean acompanhou a movimentação que fez a grande comunidade gay se politizar e ir a público demonstrar sua insatisfação com Marco Feliciano. “O país não tolera o fundamentalismo e as pessoas não vão deixar de ser vigilantes. É muito positiva essa reação da sociedade contra o Feliciano. É uma reação contra o fundamentalismo. Eu não odeio ninguém, minha luta é pelos direitos e pelo respeito. Pelo direito de amar e de viver.”
O antropólogo e líder gay Luiz Mott também vibrou com a maneira que a comunidade gay se organizou para protestar. “São manifestações espontâneas, verdadeiras. Deu um caldo, um sentimento de percepção, união, desejo”, ressalta Luiz Mott. “Mas é preciso ir além de Feliciano. Vamos qualificar em quem a gente vota”, finaliza o antropólogo.