Mangueiras já não são mais soberanas em Belém

11-01belemBelém, PA – O ponteiro do relógio indica que está próximo das 13h e os termômetros marcam uma temperatura de 32°C. A sensação térmica parece um pouco maior devido à umidade do ar.

Nas ruas do centro comercial de Belém, as pessoas transpiram fortemente enquanto caminham. Algumas reclamam do calor, outras parecem nem perceber tamanha quentura. Até então era só mais um dia comum na cidade. Na Praça da República, à margem esquerda da avenida Presidente Vargas, um imenso corredor verde proporciona uma caminhada mais amena graças à sombra do túnel de mangueiras. Ali, a temperatura parece diminuir consideravelmente quando comparada a uma parte da cidade em que há pouca ou nenhuma vegetação oferecendo sombra.

Sentado num dos bancos que ficam sob as mangueiras, o aposentado João Raimundo Tavares, 67 anos, tomava uma garrafa de água mineral enquanto aguardava as filhas voltarem do comércio. “Tá muito calor. Aqui a temperatura parece estar uns três ou quatro graus mais baixa. Aproveitei para tomar água e me hidratar”, comentou.

Questionado se escolheu aquele lugar unicamente por causa da sombra, o seu João Raimundo olhou à sua volta, sorriu e frisou que sentou ali porque tinha sido o primeiro lugar onde poderia sentar e se esconder do sol. “Agora você me fez prestar atenção que nas ruas do Comércio, onde eu estava, só tinha a sombra dos prédios. Não tinha árvores. Aqui [na Praça da República] as árvores nos dão uma sombra e um vento mais frio”, pontuou o aposentado.

Em seguida, ele começou a analisar mentalmente os lugares em que costuma andar por Belém e que poucos têm árvores para lhe proporcionar aquela sensação de alívio que sentia no corredor das mangueiras. “Engraçado, Belém tem poucas árvores, né? E olha que estamos na Amazônia, cercado por florestas”, observou seu Raimundo.

DESERTOS URBANOS

Assim como ele, milhares de outros belenenses podem ainda não ter se dado conta que tem diminuído a quantidade de áreas verdes na cidade. E o curioso é que a capital que é conhecida como a ‘Cidade das Mangueiras’ já não tem mais esta espécie predominando em suas ruas e praças.

Na realidade, nas últimas décadas, poucas áreas de Belém receberam o plantio adequado de vegetais e a consequência disso foi a formação de desertos florísticos no centro urbano, provocando inúmeros transtornos à população, que sofre as consequências da carência de áreas verdes na cidade. No meio da Praça da República, por exemplo, há espécies de árvores, como os ipês amarelos, que dão flores e embelezam o lugar, mas não dão sombra.

As áreas periféricas da cidade são as que menos apresentam cobertura vegetal, segundo o “Atlas de áreas verdes de Belém”, desenvolvido pela Faculdade de Geografia e Cartografia da Universidade Federal do Pará. Os bairros da Terra firme, Condor e parte do Guamá, Jurunas, Cremação, Cidade Velha, Canudos, São Brás, Marco e Curió-Utinga, por exemplo, apresentam apenas 4,33% de seu território arborizado.

VANTAGENS

Além das sombras que as árvores oferecem, os vegetais desempenham um papel importante que vai muito além do paisagismo urbano. É importante para a manutenção da vida na cidade. Uma lugar arborizado oferece inúmeros benefícios aos seus moradores e também ao meio ambiente, entre eles a redução da incidência de luz solar sobre o asfalto e concreto, materiais que substituíram o material orgânico da floresta e capta calor e , consequentemente, contribuem para o aumento da sensação térmica.

Além disso, as árvores transformam o gás carbônico em oxigênio, melhorando a qualidade do ar, fornecem alimentos, no caso de espécies frutíferas, aumentam a sensação de bem-estar, reduzem a velocidade dos ventos – diminuindo o transporte de poeira e poluição-, reduzem o impacto sonoro e servem de abrigo natural a insetos e aves.

(Diário do Pará)

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