Na última sexta (26), os quatro presos na Operação Spoofing tiveram prisão temporária prorrogada. Segundo a Polícia Federal, mais de mil pessoas podem ter sido alvos do grupo.
O juiz da 10ª Vara da Justiça Federal em Brasília, Vallisney de Souza Oliveira, decidiu nesta terça-feira (30) manter a prisão dos quatro investigados por envolvimento na invasão de celulares de autoridades do país.
Gustavo Santos, Suelen Priscilla de Oliveira, Danilo Marques e Walter Delgatti Neto, conhecido como Vermelho, vão continuar detidos até quinta-feira (25), quando se encerra o prazo da prisão temporária. Todos tiveram prisão a provisória renovada na sexta-feira (26).
O magistrado tomou a decisão após ouvir os presos em audiência de custódia na manhã desta terça. Os quatro investigados foram presos na última terça-feira (23), na Operação Spoofing, deflagrada pela Polícia Federal (PF). A operação ocorreu nas cidades de São Paulo, Araraquara e Ribeirão Preto.
O nome da operação é uma referência à uma “falsificação tecnológica que procura enganar uma rede ou uma pessoa fazendo-a acreditar que a fonte de uma informação é confiável quando, na realidade, não é”, segundo a definição da Polícia Federal (PF).
A investigação começou após a divulgação de trocas de mensagens atribuídas ao então juiz federal Sergio Moro e ao coordenador da Lava Jato no Paraná, Deltan Dallagnol, por meio do aplicativo Telegram.
O material que, segundo as investigações, teria sido hackeado dos respectivos celulares, foi publicado pelo site The Intercept em uma série de reportagens que ficou conhecida como Vaza Jato e aborda a conduta do então juiz Sergio Moro na condução da Lava Jato em Curitiba.
Em depoimento à PF, um dos presos – Walter Delgatti Neto – admitiu que entrou nas contas de procuradores da Lava Jato e confirmou que repassou mensagens ao site The Intercept Brasil. Segundo a Polícia Federal, mais de mil pessoas podem ter sido alvos do grupo.
No domingo (28), os advogados de Delgatti Neto divulgaram uma nota na qual informaram que ele deixou cópias de conversas com outras pessoas dentro e fora do país (veja no vídeo abaixo).
Defesa de hacker preso diz haver cópias de diálogos com pessoas dentro e fora do país
Maus-tratos
O primeiro depoimento foi de Gustavo Santos, se queixou do tratamento que recebeu dos policiais federais ao ser preso. Disse que não sofreu agressão física, mas foi agredido psicologicamente. Também relatou maus-tratos à sua companheira, Suelen Oliveira.
“Os policiais que entraram em casa, a gente já foi agredido verbalmente. Desde o momento em que estouraram a porta, desde a hora que estouraram a porta eu fui agredido verbalmente.
Desde o começo colaborei, deixei eles super a vontade e fui agredido, bem agredido verbalmente – ‘hacker, bandido, tá preso, perdeu’. Até então eu não sabia o que estava acontecendo”, afirmou Gustavo.
“Pelo que a gente vem conversando ela (Suelen) foi bem mal tratada onde ela ficou, não davam água pra ela. Maltrataram bastante ela. Precisava de absorvente. Enfim, precisou de algumas coisas enquanto estava preso e nenhum suporte foi dado”, disse.
Segundo o investigado, ele também foi impedido de ligar para o advogado. “Não me deram nenhuma oportunidade de ligar. Foi o senhor que foi à delegacia e pediu para falar comigo”, declarou Gustavo.
Suelen, que foi ouvida logo depois, chorou tão logo começou a audiência. Corroborou as queixas do parceiro sobre os maus-tratos.
“Não era para eu estar aqui. Nunca fiz mal a ninguém. Nunca prejudicaria ninguém”, disse chorando. “Me trataram mal, fizeram muitas piadinhas, fiquei sem papel higiênico, sem absorvente”, declarou.
Uso de algemas
A procuradora da República presente à audiência pediu que Vallisney concedesse cópia das quatro audiências de custódia para que seja apurado se houve abuso de autoridade no uso de algemas por parte da Polícia Federal.
“Solicito cópia de depoimentos para encaminhamento a superintendência da PF com vistas a apurar sumula 11 do Supremo e se houve abuso de autoridade”, afirmou a procuradora.
O juiz Vallisney concedeu em parte apenas as cópias, mas não aceitou a abertura de investigação específica para apurar o ato. Ele afirmou que o Ministério Público deve encaminhar para a Corregedoria o que quiser que seja apurado.
O magistrado, autorizou, à pedido da defesa de Gustavo e Suelen, que todos os presos tenham banho de sol diário por uma hora, o que até então não vinha ocorrendo.
Vallisney ainda permitiu a transferência de Suelen da penitenciária feminina de Brasília, chamada de Colmeia, para a superintendência da PF, onde está o companheiro, Gustavo.
Terceiro depoimento
Danilo Marques afirmou não ter sido maltratado pelos policiais. Disse que foi preso quando estava em um curso em Araraquara e encaminhado à Brasília, com o computador e celular apreendidos.
“Eles me pegaram no curso que eu estava fazendo, numa empresa e era mais ou menos umas 10h. Isso pegou mal, foi uma surpresa pra eles lá. E não me deixaram pegar uma peça de roupa, mas não teve excesso por parte dos policiais”, afirmou. “Sobre a prisão, dos policiais não tenho que falar nada, me trataram normal”, declarou.
Danilo avaliou como normais as instalações da superintendência da PF, onde está preso.”Nunca tinha sido preso, mas parece que é boa. Tem colchão, tem tudo. A comida não é das melhores, mas é bom assim. Banheiro normal”, disse Danilo.
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