Suiça – Em um esporte que sempre foi perceptivelmente lento em sua adesão à tecnologia, não deveria surpreender que a votação da sexta-feira (26) para o mais alto posto do futebol —o de presidente da Fifa, cargo que envolve comandar a bilionária organização que controla o mais popular esporte do planeta— se assemelhe à eleição de um presidente de conselho escolar em uma cidadezinha qualquer.
Uma enorme fila de mais de 200 eleitores será organizada por ordem alfabética. Haverá duas cabines com mesas. Um apresentador com microfone pedirá aos eleitores que mantenham o processo em movimento e se encaminhem logo à cabine que os atenderá. (Alguém sabe onde está o representante de Malta? Malta?) Haverá cédulas em papel. E canetas. Haverá duas grandes urnas. E quando todo mundo tiver votado, as cédulas serão removidas das urnas e contadas, e as pessoas da audiência virarão seus pescoços de um lado para outro e contemplarão as pilhas de cédulas, tentando adivinhar qual delas cabe a que candidato.
Para quem assistir à eleição da sexta-feira na televisão ou na internet, o processo trará à memória os anos de escola de segundo grau.
“Nós sempre ficamos bem perto do fim da fila, e por isso temos uma longa espera para votar”, disse Carlos Cordeiro, tesoureiro da U. S. Soccer, a federação norte-americana, e o delegado que respondeu por votar em nome da instituição nas duas mais recentes eleições da Fifa. Contando que na eleição precedente ele matou tempo batendo papo na fila com o delegado do Uzbequistão, Cordeiro acrescentou que “a coisa toda é muito antiquada”.
Na sexta-feira, Cordeiro não representará a federação na votação – ele vai disputar a vice-presidência da U. S. Soccer em uma eleição diferente no sábado (27), e por isso terá de voltar antes do horário da votação aos Estados Unidos – mas os procedimentos serão mais ou menos os mesmos. Don Garber, comissário da Major League Soccer, a primeira divisão do futebol masculino profissional dos Estados Unidos, cuidará do voto norte-americano quando a Fifa conduzir uma votação que será acompanhada com atenção sem precedentes na história do esporte organizado.
A eleição servirá simplesmente como ponto de exclamação para a semana, um dos atos finais de um congresso de um dia de duração da Fifa que começará na noite de sexta. Os principais nomes do futebol mundial começaram a chegar a Zurique, e reuniões das seis confederações regionais da Fifa estão marcados para a quinta-feira (25).
Congressos da Fifa como o desta semana podem ser ocasiões dolorosamente tediosas. Uma sala repleta de dirigentes de futebol apresentando moções e relatórios, e ocasionalmente votando sobre criar ainda outro comitê para examinar alguma coisa, não é exatamente um espetáculo teatral eletrizante.
Desta vez, porém, a eleição do novo presidente captura a atenção, e embora o processo de substituição de Sepp Blatter, que deixará o posto em meio a um extenso escândalo de corrupção, possa ser antiquado, as demais operações do congresso são muito bem ordenadas pela equipe da Fifa.
Antes que tudo isso comece, eis algumas perguntas e respostas sobre o Congresso Extraordinário da Fifa que acontece esta semana. (Sim, o nome é mesmo esse.)
Onde o congresso acontecerá?
O local é o Hallenstadion, uma arena multiuso de Zurique que já recebeu, entre outras coisas, shows dos Rolling Stones, Paul McCartney e Lady Gaga, bem como ocasionais competições de luta livre profissional. Foi nesse ginásio que aconteceu a eleição de maio passado, na qual Blatter foi reconduzido ao posto (apenas para renunciar dias mais tarde). É importante que a eleição da sexta-feira termine no horário, além disso: o ZSC Lions, time de hóquei de Zurique, jogará no Hallenstadion na noite de sábado, e os trabalhadores precisam começar a transformar o local de pavilhão eleitoral em rinque de hóquei sobre o gelo assim que o congresso for encerrado.
Quanto tempo durará a eleição?
Deve levar pelo menos uma hora e meia, mas pode ser bem mais longa. Isso porque para vencer em primeiro turno, um candidato precisa ter dois terços dos votos (138). Caso não consiga, o último colocado é eliminado e outro turno é disputado. Depois, para vencer o candidato precisa receber 50% mais um voto do colégio eleitoral. Se não atingir, são realizados outros turnos. O pleito pode ter até quatro turnos.
Como é que as pessoas presentes entenderão umas às outras?
A Fifa estima que haverá 684 delegados de diversos países presentes ao Congresso, além de 267 convidados. Para ajudar a manter todo mundo na mesma sintonia, uma equipe de 21 intérpretes trabalhará durante o evento a fim de traduzir tudo para seis idiomas: inglês, francês, alemão, espanhol, russo e árabe.
Qual é a importância dessa história, mundialmente?
Enorme. Cerca de 400 jornalistas receberam credenciais para cobrir o congresso, e pela primeira vez as solicitações de muitos veículos tiveram de ser rejeitadas devido a limitações de espaço. Cerca de 50 equipes de televisão estão cobrindo o congresso ao vivo, e haverá espaço para que os comentaristas ofereçam suas análises de dentro do ginásio (o que é inédito). Infelizmente, ao contrário da maioria dos congressos regulares (ou ordinários, como eles são conhecidos), o desta semana não terá cerimônia de abertura e nenhuma espécie de introdução musical.
Quem vencerá?
No momento, os favoritos são o xeque Salman bin Ebrahim al-Khalifa, de Bahrein, presidente da Confederação Asiática de Futebol, e Infantino, secretário geral da Uefa, a organização que comanda o futebol europeu. Ambos afirmaram contar com apoio significativo entre os 54 integrantes africanos da Fifa, e aquele continente pode ser a região decisiva para o resultado
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