Hidrelétrica e criação de búfalos podem acabar com a “Pororoca” no Amapá

(Foto: DA)

Macapá, AP – O Amapá pode perder um de suas principais referências mundiais: a pororoca do rio Araguari.

Se isso vier a acontecer, como preveem ambientalistas e membros do Ministério Público, será possível apontar duas culpadas: a construção da Hidrelétrica de Ferreira Gomes e a expansão da bubalinocultura na região do Médio e Baixo Araguari.

Um novo vilão está colocando em risco o fenômeno, resultado dos dois problemas indicados acima: o assoreamento de boa parte do curso do rio, principalmente próximo à foz do Araguari.

O rio Araguari ainda é o maior rio em volume de água, largura e extensão do Amapá, mas o assoreamento diminuiu tanto a profundidade dele que não é mais possível observar o fenômeno da Pororoca.

Expedições científicas recentes atestaram que o caso é tão grave que no horário da vazante fica praticamente impossível navegar por aquelas bandas, mesmo em pequenas embarcações que os ribeirinhos chamam de “casco” ou “bote”.

A culpa, segundo pesquisadores que atuam na região da Reserva Biológica Lago Piratuba (no município de Pracuuba, cujo limite com o município de Cutias é o rio Araguari), é da pecuária extensiva da bubalinocultura. Os búfalos invadem a área da reserva, pisoteiam os campos semi-inundados e o entulho acaba chegando ao curso do rio, provocando seu assoreamento.

Além disso, o acúmulo de lixo doméstico, entulho e outros detritos no leito dos seus afluentes, faz com que a rotina de enchente-vazante seja prejudicada. “O rio está mais raso, em algumas partes mal dá para passar de canoa, e a vazão da água é menor. Isso leva a outro problema: as enchentes em épocas de chuvas. Com a morte parcial do Araguari, os problemas ambientais começam a aparecer. A fauna da região é prejudicada – não havendo peixes, falta alimento para as aves e até para os seres humanos”, aponta uma pesquisadora.

Para os pesquisadores da Reserva Biológica Lago Piratuba, no caso do rio Araguari, a obstrução provocada por sedimentos, areia e detritos em seu estuário, está-se agravando devido à abertura de canais pela passagem de búfalos nas margens do rio. “A água fica sem força para chegar até a foz, onde ocorre o fenômeno da pororoca”, frisa a cientista.

Sem força para “brigar” com o mar, as águas do Araguari são empurradas rio acima sem qualquer resistência. Como a pororoca é a luta entre as águas do rio contra a força do mar – o que provoca as ondas gigantes –, ultimamente, sem oferecer resistência, o Araguari é vencido pelo oceano Atlântico cujas águas estão chegando até à localidade do “Tabaco”, localizada acerca de duas horas de barco a partir de Cutias, muitos quilômetros rio acima. “A água aqui é salobra”, diz um morador. “E a pororoca, agora, é pequenina, quase um banzeiro”, brinca.

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