É preocupante o crescimento do suicídio entre idosos no Brasil

É preocupante o crescimento do suicídio entre idosos no Brasil

Parte dos que tentam suicídio estão passando por problemas sociais e emocionais

Brasil –  “O importante é não desistir da vida, porque quando você escolhe encará-la da melhor maneira, ela pode ter surpreender positivamente. Morrer nunca é lucro ou a melhor opção”, afirma o aposentado Mário Fonseca, de 73 anos. Ele superou recentemente a depressão , mas antes disto, tentou duas vezes tirar a própria vida.

No Setembro Amarelo, mês nacional de prevenção ao suicídio, os últimos dados do Ministério da Saúde alertam para o número de suicídios na terceira idade no país.

Entre 2011 e 2016, os índices de suicídios apontam que na faixa etária dos idosos, a partir de 70 anos, foi registrada média de 8,9 mortes por 100 mil nos últimos 6 anos. A média nacional do órgão é de 5,5 por 100 mil.

O aposentado Mário, por exemplo, foi diagnosticado com depressão há três anos, quando se viu fora do mercado de trabalho, e no início de 2018 tentou suicídio. Ele conta que a sensação de inutilidade foi a principal causa para que ele olhasse a vida de forma negativa. “Percebi em um processo seletivo o preconceito com a minha idade, apesar do bom currículo, e foi uma das piores sensações já vividas”, desabafa o idoso.

O consumo de álcool, arrependimentos e frustrações na vida também contribuíram para o declínio da saúde mental de Mário. Segundo ele, todos estes fatores, em conjunto, o levaram à tentativa do ato, interrompido pela família, que se mantém vigilante quanto a ele.

Para superar a depressão, o idoso menciona a ajuda Deus e a família. “Como um estalo, depois de tantas quedas, percebi que era amado e que minha morte só traria sofrimento para as pessoas importantes a mim”, relata ele.

Sete meses após o quase acontecido, ele diz que sente a vida transformada da água para o vinho desde que tomou a decisão de escolher pela vida. O aposentado compartilha que até recebeu novas propostas de emprego, das quais escolheu uma, por meio da qual recomeçará sua trajetória profissional. Um incentivo a mais na vida dele.

Programas de amparo à terceira idade

Cerca de 123 idosos com mais de 60 anos participam do Programa Longa Permanência, ILPI, desenvolvido pela Fundação Dr. Thomas. O município presta assistência em caráter à pessoa idosa em risco social, sem ou com vínculo familiar, cuja família seja carente de recursos financeiros ou que tenha sido vítima de agressão.

Dentro do programa, eles recebem alimentação, atendimento médico, psicológico, fisioterapêutico, social, e realizam atividades ocupacionais de recreação e cultura, entre elas: pilates, funcional, caminhada orientada, ginástica, meditação, etc.

Do número de idosos acolhidos pelo programa de Longa Permanência, apenas 20% deles recebem visitas familiares e há ainda aqueles que não possuem ligação com ninguém da família.

De acordo com a Assessoria de Comunicação da FDT, até o momento não houve nenhuma tentativa de suicídio de forma direta ou indireta por nenhum dos internos.

Cuidadora de idosos há sete anos, a enfermeira Suely Lima, fala que o abandono da família contribui para o desenvolvimento de depressão. “Quando a idade vai chegando, a pessoa pensa que não tem mais utilidade para nada, muitos idosos são abandonados em asilos, não recebem visitas e acabam criando a ilusão de que não são importantes, sendo acometidos por várias doenças, entre elas a depressão, se não curada leva ao suicídio”.

Diagnóstico

No olhar da Psicanalista Lilian Barros, o tema precisa ser debatido com atenção. “A maioria não vai suicidar porque está idoso, e sim por falhas e problemas emocionais que já existiam há tempos. Raros são os casos de não serem compreendidos pela idade, por isso é preciso divulgar o assunto para que a família fique atenta”, diz.

Segundo o Ministério da Saúde,  desde 2014 a mídia aborda o tema com viés de prevenção.

Para o sociólogo Marcelo Seráfico, é importante falar, mas ainda existe certo receio que precisa ser quebrado. “Eu acho importantíssimo essa ideia de se discutir o suicídio. O tema é, como diria  Émile Durckeim, um fato social inegável que se amplia. Não falar dele significa fingir que essa realidade não existe. E pior, significa também ignorar que a decisão de tirar a própria vida é uma decisão que envolve certo grau de consciência”, comenta Seráfico.

Ele acrescenta que é necessário entender e discutir as causas que levam a esse fato realizando discussões além do campo moral, como frequentemente se faz, que atribui ao suicídio uma conotação apenas de coragem ou covardia.

“Procurando saber quais são de fato as motivações, condições sociais que envolvem tal decisão, a mídia pode contribuir positivamente na questão à medida em que ajuda a esclarecer e não apenas produzir juízos de valor sobre os casos”, ressalta o sociólogo.

A fim de conscientizar a sociedade, campanhas de prevenção e alertas ao tema estão sendo realizadas nas escolas de ensino fundamental e médio, além de rodas de conversas com profissionais da área. Os trabalhos são desenvolvidos pela Secretaria Municipal de Saúde, Semsa.

Ajuda

Os Centros de Atenção Psicossocial do Município, CAPS e Unidades Básicas de Saúde da Família, UBSF, possuem atendimento para prevenir a depressão e suicídio. Até 2020, a OMS quer reduzir em 10% o índice de suicídio no país.

*O Centro de Valorização da Vida (CVV) dá apoio emocional e preventivo ao suicídio. Se você está em busca de ajuda, ligue para 188 (número gratuito) ou acesse www.cvv.org.br.

Amazoninarede-OMS

Esta publicação é um trabalho premiado de alunos do 6º período de Comunicação Social Jornalismo, do Centro Universitário do Norte – Uninorte, no concurso de jornalismo universitário “Suicídio e o Papel da Mídia. Equipe: Laura Freitas, Gabrielle Moura, Cindy Lopes, Dionisson Silva e Patrícia Rebelo.

 

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