O empresário sairá da cadeia após cumprir dois anos e meio em regime fechado e ver suas relações familiares irem por água a baixo
Brasil – Quando abriu a porta e se deparou com agentes da Polícia Federal, em 19 de junho de 2015, Marcelo Odebrecht não imaginava que passaria 30 meses atrás das grandes. A sua fortuna de R$ 13 bilhões não pesou em nenhum momento durante análise do caso pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba.
Foi exatamente todo esse poder financeiro que motivou o nome da operação que o levou para a cadeia. “Erga omnes”, que em latim significa “vale para todos”, foi a 14ª Fase da Lava-Jato e levou para a cadeia executivos da maior empreiteira do País. Marcelo, ex-presidente da Construtora Odebrecht, deixa na terça-feira (19/12) a cela de 12 metros quadrados na Carceragem da PF, em Curitiba, para voltar a ocupar sua mansão, avaliada em R$ 30 milhões, em São Paulo.
Condenado a 10 anos de prisão, Marcelo terá a partir de agora que cumprir o regime domiciliar integral, com uso de tornozeleira eletrônica. Apesar disso, o empresário poderá circular livremente na residência de 3 mil metros quadrados.
De acordo com a sentença, ele só poderá deixar o local em situações médicas, para exames, consultas ou se apresentar problemas de saúde. No entanto, durante negociação do acordo de delação premiada, o empreiteiro entrou em acordo com os procuradores do Ministério Público e conseguiu autorização para ir na formatura de uma das filhas, que termina a faculdade em 2018. Marcelo está proibido de assumir qualquer função na direção da Odebrecht ou de receber visitas dos investigados ou condenados na Lava-Jato.
Durante o tempo de prisão, Marcelo viu que o mundo real é bem diferente do que ele costumava fantasiar na sua cabeça e percebeu que o dinheiro não poderia comprar a todos, como a Odebrecht fazia com políticos que aceitavam receber propina para beneficiar a empreiteira.
Nos três primeiros meses, ele manteve a pose, como se estivesse andando nos corredores de sua empresa quando circulava por dentro do Complexo Médico Penal de Pinhais, na região metropolitana de Curitiba.
Família desestruturada
Na medida em que sua pena se alongava, ele passou a interagir mais com os demais presos e até dividia a comida levada pela esposa com os companheiros de internação. Ao mesmo tempo em que aproximava laços no presídio, Marcelo via sua estrutura familiar desmoronar.
O jornalista Marcelo Cabral, autor do livro “O Príncipe – uma biografia não autorizada de Marcelo Odebrecht”, conta que ele brigou com o pai, Emílio Odebrecht, após a primeira visita do patriarca ao centro de detenção.
“A personalidade de Marcelo e de Emílio são completamente diferentes. O Marcelo é mais fechado, e evita chamar atenção. Já o Emílio tem muitos contatos, gosta de falar, contar histórias. Ao visitar o filho na prisão, Emílio pediu que ele fizesse o acordo de delação, o que deixou Marcelo bastante irritado”, destacou. O nome do livro faz referência ao apelido do herdeiro de um dos maiores império do ramo de construção nacional.
Por conta das desavenças, a esposa de Marcelo deixou de frequentar o Natal com os familiares do marido, como sempre fazia. O mesmo deve ocorrer este ano, quando Odebrecht deve ficar o feriado sem a presença dos país, que estarão viajando no período. Até mesmo a mãe, que sempre manteve maior proximidade com o empresário, se afastou após as desavenças.
Dentro de dois anos e meio ele vai deixar a prisão domiciliar. Em 2020, a pena passa automaticamente para o regime semiaberto. Neste caso ele terá a obrigação de voltar para casa a noite, nos fins de semana e feriados.
Dentro da Odebrecht, o clima na administração é de total tensão. Não se sabe até que ponto vai a influência de Marcelo dentro da empresa. Emílio Odebrecht anunciou na semana passada, no encerramento da reunião anual de seu grupo empresarial, em Salvador, que deixará de ser Presidente do Conselho de Administração da Odebrecht em abril de 2018, durante a realização da Assembleia Geral de Acionistas.
Em outro comunicado aos integrantes do Grupo, Emílio informou que, daqui em diante, por decisão do acionista controlador, nenhum membro da família Odebrecht poderá ser diretor presidente da empreiteira.
A medida ocorre para afastar Marcelo ainda mais do comando da construtura, que ainda tenta recuperar sua imagem.
Amazonianarede-Correio Brasiliense