Devoção e solidariedade em mais um Círio

Na manhã deste domingo (14), Belém mais uma vez se transformou em um mar de mãos estendidas, pedindo a benção de Nossa Senhora. A procissão do 220º Círio de Nazaré chegou à Praça Santuário pouco antes de 12h30, correspondendo às expectativas da Diretoria da Festa.

Centenas de promesseiros que chegavam ao Centro Arquitetônico de Nazaré (CAN) traziam no rosto lágrimas e o semblante que expressava gratidão. A corda, um dos maiores símbolos do Círio, sofreu um primeiro corte ainda na avenida Nazaré, próximo à travessa Benjamin Constant. A 6ª estação, considerada a “cabeça”, foi separada do restante da corda, mas boa parte dos promesseiros seguiu até o final do percurso. Já a 5ª estação passou a ser a “cabeça” do restante da corda atrelado à berlinda.

De acordo com o Diretor de Evangelização da Festa de Nazaré, Celso Botelho, nada atrapalhou o Círio 2012 e toda a procissão ocorreu como o previsto. “A berlinda chegou dentro do tempo que previmos e Graças a Deus tivemos mais um Círio abençoado e dentro do que foi programado”, destacou.

Dentre os inúmeros pés descalços que caminhavam compassados, a devoção era unanimidade. Afonso Lourival há cinco anos acompanha o Círio na corda, para agradecer à Virgem de Nazaré, por ter encontrado o primo que ficou desaparecido por uma semana. Ilma Souza faz o mesmo há oito anos. “Eu tinha uma monte de dívidas que não conseguia pagar e graças à Ela consegui e ainda comprei a minha casa. Uma graça muito grande que eu venho todos esses anos agradecer”, relatou emocionada.

O jovem Robert Figueiredo conseguiu ir junto a corda até a frente do Colégio Santa Catarina de Sena, onde o Arcebispo de Belém, Dom Alberto Taveira, deu a benção para que o símbolo fosse oficialmente cortado. “Pelo quinto ano eu venho agradecer pela saúde do meu filho e por ter me recuperado de uma doença. Eu consegui pegar um pedaço da corda para guardar de recordação”, comemorou Robert.

As histórias de fé se traduziam em muitos sacrifícios. Ruberval Faria por muito tempo foi promesseiro na corda, mas a idade chegou e a promessa que cumpre há 31 anos, agora é representada em um barco de um metro e meio, feito de miriti, o qual ele tem carregado nos últimos 10 Círios. “Chegou um tempo que não dei mais conta de ir na corda, mas jamais deixaria de agradecer por ter sobrevivido a um atropelamento e sem nenhuma sequela”, contou.

Chegando na Praça Santuário, a berlinda de Nossa Senhora de Nazaré, com sua predominância de rosas vermelhas, foi recebida sob muitos aplausos e fogos. A cantora Gaby Amarantos entoou os hinos marianos mais conhecidos pelo povo paraense, enquanto a Guarda da Santa retirava a Imagem da Virgem para levá-la até o altar, onde o bispo auxiliar de Belém, Dom Teodoro Mendes Tavares, celebrou a benção final.

Logo em seguida, quando os portões do CAN foram reabertos para e entrada de fiéis, um grande grupo de promesseiros entrou de joelhos em forma de cortejo, boa parte trazendo nas mãos o motivo da promessa. Com uma camisa com a imagem de Nossa Senhora e um pedaço da corda nas mãos, Agnaldo Martins mal conseguia falar: “estou aqui para agradecer pela recuperação da minha esposa” disse muito emocionado.

Mesmo com a avançada idade evidenciada nos cabelos totalmente brancos, dona Maria Tereza de Jesus fez questão de entrar no CAN de joelhos, até o altar onde já estava a Imagem de Nossa Senhora. Aos 76 anos, dona Maria contou com a solidariedade de vários jovens voluntários da Cruz Vermelha e conseguiu chegar, demonstrando que não há barreira para a fé.

(Daniele Brabo/DOL)

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