Data histórica comemora cultura paraense

(Foto: Mário Quadros/Diário do Pará)

Belém – O dia 15 de fevereiro pode ser marcado no calendário da cultura paraense como um dos mais importantes, ele reúne uma das mais felizes coincidências da nossa história.

Hoje, comemora-se o aniversário do Theatro da Paz, ícone do período áureo do Ciclo da Borracha na Amazônia, e do maestro, pianista e compositor paraense Waldemar Henrique, artista símbolo da música produzida aqui. A dupla comemoração é marcada pelas boas lembranças de quem por ali já passou e pelos que já tiveram a oportunidade de ouvir as belas composições de Waldemar.

O teatro foi fundado em 15 de fevereiro de 1878, completando hoje, 136 anos. Já o maestro Waldemar Henrique nasceu em 15 de fevereiro de 1905, e, se vivo estivesse, completaria 109 anos. O TP foi a primeira casa de espetáculos construída na Amazônia, com capacidade para 900 espectadores, uma acústica perfeita, e artigos de luxo como seus diversos lustres de cristal, seu piso em mosaico de madeiras nobres, afrescos nas paredes e teto, além de dezenas de obras de arte.

Declarações de amor ao Da Paz já foram feitas aos montes, em sua história ele abriga as vozes de grandes artistas paraenses e internacionais, a regência de grandes maestros, espectadores ícones da nossa história – pessoas que passaram por ele e nunca mais esqueceram. Entre eles, o maestro paulista Júlio Medaglia, fundador da Amazonas Filarmônica, chegou a afirmar que a beleza de nosso teatro era algo fora do comum, “sem dúvida, um dos teatros mais belos do mundo, não só do Brasil”.

Reverenciado por grandes artistas

O pianista erudito Arthur Moreira Lima, conhecido por suas talentosas interpretações de choro sempre afirmou ter uma estreita relação com o Theatro da Paz. Afinal, foi nele que o musicista fez seu primeiro concerto profissional. “Foi quando ganhei o meu primeiro cachê aos oito anos de idade. Por isso eu tenho uma ligação sentimental com ele”, um relato parecido ao de muitos artistas, entre eles, Lucinha Bastos.

“Tenho feito uma viagem pelas minhas lembranças, são 47 anos de idade e já vou fazer 40 de palco. A primeira vez que me apresentei no Theatro da Paz era ainda uma criança, com 10 anos, participando de um projeto muito bom que existia ali, o ‘Projeto Pixinguinha’. E ali vivi muitos outros momentos extremamente importantes. Participei de diversas gravações”, entre elas, conta Lucinha, o CD “Waldemar Seresteiro” e uma programação com o mesmo título.

Foi uma homenagem ao centenário do maestro, a cantora esteve acompanhada de Luiz Pardal, Iury Guedelha, Emílio Meninéia e Sam, Jurandir Monteiro e Paulo Moura. A direção artística do espetáculo teve Gilberto Chaves, Maria Sylvia Nunes, Nando Lima e Dedé Bandeira. “Waldemar Seresteiro” trazia músicas como ‘Tambatajá’, ‘Foi Boto, Sinhá’, ‘Cobra Grande’ e ‘Uirapuru’. “Foi um momento marcante na minha vida e que vivi ali, no Theatro da Paz, passeando pela obra popular do maestro Waldemar e reunindo pessoas importantes da nossa cultura”.

História que se vive em cada canto

Alguns detalhes do Theatro da Paz ainda são ignorados pelos paraenses, como os bustos esculpidos em mármore de carrara que ficam no hall de entrada do prédio. É a história dentro da nossa história – os homens ali retratados são os escritores brasileiros José de Alencar e Gonçalves Dias. Os visitantes que caminham ou simplesmente observam o belo piso da entrada, com pedras portuguesas, dificilmente adivinham que elas foram ali coladas com o grude da gurijuba – exatamente, o peixe típico da nossa região.

Quem senta para assistir uma apresentação, olha para cima e vê no teto um espetáculo a parte nem sempre sabe que está a olhar o deus Apolo conduzindo a deusa Afrodite. Ao observar o teatro de frente, entre tantos encantos e detalhes, as que mais costumam encantar e causar curiosidade são as musas representantes das artes cênicas: comédia, poesia, música e tragédia, nas laterais ainda têm a musa da dança. Já as luminárias fazem um belo jogo – uma representa o dia e a outra à noite.

Descaso

O desencanto talvez esteja na falta de cuidado com os vizinhos ao teatro, a Praça da República, recanto do Da Paz, ainda sofre com a ausência de cuidados do poder público e a falta de educação de parte da população. O cenário que devia ser apenas de beleza, também abriga bancos quebrados, coretos enferrujados e caminhos sujos, necessitando revitalização. A beleza de um monumento admirado mundialmente merecia morar em um espaço mais bem cuidado.

Amazônia Jazz Band e Nanna Reis fazem a festa

A Amazônia Jazz Band (AJB) faz concerto em homenagem ao aniversário do Theatro da Paz e do maestro Waldemar Henrique, hoje, dia 15, às 20h, no Da Paz. O concerto será regido pelo maestro Nelson Neves e terá a participação especial da cantora Nanna Reis. A entrada é franca, com distribuição de ingressos na bilheteria do Theatro da Paz, a partir das 9h de hoje.

Fiz da vida uma canção. A frase, dita e cantada pelo maestro Waldemar Henrique (1905-1995) é certamente uma das melhores definições da vida e obra do músico e poeta que reinventou a forma de cantar a Amazônia.

“Waldemar Henrique está intimamente ligado ao Theatro da Paz não apenas por uma coincidência de datas de aniversário. Diretor do espaço por muitos anos, ele sempre manteve uma relação de amor muito forte com aquele local e sem dúvida nenhuma, foi um dos principais defensores das tradições artísticas do Theatro”, afirma o poeta João Jesus de Paes Loureiro, amigo e parceiro musical do maestro.

Fã de Valdemar Henrique, o músico Salomão Habib lembra ainda hoje da primeira vez que ouviu uma música do maestro. “Eu ainda era criança quando ouvi a canção ‘minha terra’, A primeira música dele. A poesia e a harmonia presente naquela canção me emocionou muito. Tanto que até hoje eu lembro daquele momento”, relembra o diretor do Teatro Experimental Waldemar Henrique.

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