Cracolândia funciona em área nobre de S. Paulo

18-12crackS. Paulo – Quem caminha por Higienópolis, bairro nobre próximo ao Centro de São Paulo, nota a presença de usuários de drogas dormindo nas calçadas e pedindo dinheiro ou comida nos semáforos de vias movimentadas.

Um jornaleiro que não quis ter o nome revelado, por exemplo, disse já ter notado a presença de “pessoas estranhas” na região da Avenida Angélica. “A gente tem que ficar de olho aberto.”

Moradores atribuíram o surgimento desses viciados à operação iniciada na terça-feira na região conhecida como Cracolândia, no Centro da cidade. Na ação, policiais militares e guardas-civis ficam 24 horas por lá e se concentram no combate ao tráfico e a outros crimes. O objetivo, segundo a PM, é permitir que agentes comunitários circulem com mais segurança pelo local.

O taxista Anilson Ferreira, de 49 anos, afirmou que a migração é evidente na madrugada. “A gente, que trabalha à noite, vê um atrás do outro. Parece que a cada dia que passa aumenta a quantidade. A gente fica com medo que eles fiquem violentos quando estão na ‘noia’”, disse Ferreira, que trabalha em um ponto da Alameda Barros, próximo da Avenida Angélica.

A alameda era a que mais concentrava pedintes na tarde desta quarta. A maioria aproveitava a proximidade de um supermercado para pedir alimentos e dinheiro. Nas demais vias visitadas pela reportagem durante a tarde, os usuários aproveitavam o baixo movimento nas calçadas e as sombras das árvores para dormir.

Morador de um prédio na Rua Baronesa de Itu, o terapeuta Claudio Silva, de 33 anos, disse que os viciados têm vida mais ativa durante a noite. “Eles aproveitam para abordar idosos. E acabam sujando tudo.” Questionado sobre o incômodo causado, ele afirmou que, apesar de não gostar da presença dos ‘noias’, não irá se mudar. “Eles que têm que sair, não a gente.”

Alguns moradores disseram temer que nos próximos dias, com a continuidade da operação da PM, os viciados se instalem em Higienópolis. “Eles não vão procurar tratamento. Então acabam indo de um lugar para outro”, disse o zelador José Aparecido, de 52 anos, que mora e trabalha em um prédio na Rua Canuto do Val.

Reforço

De acordo com o tenente da PM Flávio Martinez, a migração já era esperada. Por isso, o policiamento foi intensificado em toda a região da Nova Luz, Santa Cecília e Campos Elíseos. Nas abordagens, a polícia verifica se a pessoa porta entorpecentes e a situação criminal. “Se não tiver nenhuma dúvida a respeito, a polícia libera para a Prefeitura atuar”, afirmou.

Nestes dois dias de operação, 364 pessoas foram abordadas pelos policiais. Segundo a PM, o objetivo inicial é coibir o tráfico e depois abrir espaço para o trabalho de assistentes sociais. Mesmo assim, policiais estão encaminhando dependentes químicos a prontos-socorros e outros que não têm onde ficar a albergues. A operação irá se estender até pelo menos o fim de janeiro.

Segundo o prefeito Gilberto Kassab, o grande desafio é convencer os viciados a aceitarem tratamento especializado para abandonar o uso das drogas. “[O convencimento] é o grande desafio da humanidade nos grandes centros urbanos.

Felizmente, a Prefeitura, nos últimos tempos, tem conseguido ser feliz na abordagem. Cada vez mais ela consegue levar as pessoas para tratamento”, declarou. Por vontade própria, ao menos 23 crianças procuraram ajuda em uma unidade de saúde da Prefeitura nos primeiros dias da ação.

Amazonianarede – O Globo

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