Brasília – Deputado mineiro pretende concorrer como 3ª via em disputa que deve colocar petistas e peemedebistas em lados opostos. Movimentação gerou reação do grupo de Eduardo Cunha (PMDB), que já deu início à articulação para disputar o cargo.
Partidos da oposição estiveram em contato com o pré-candidato à presidência da Câmara dos Deputados, Julio Delgado (PSB-MG), para iniciar conversas sobre eventual apoio ao socialista na disputa do ano que vem. A presidência da Câmara é um posto estratégico, já que seu ocupante controla a pauta de votações na Casa. A oposição quer encontrar uma alternativa viável para derrotar o PT nessa disputa. O partido da presidente Dilma Rousseff ainda não fechou o nome que deverá concorrer ao cargo. Marco Maia (RS) e Arlindo Chinaglia (SP) são atualmente os mais cotados para defender as cores do PT.
Delgado já disputou a presidência da Câmara em 2013, quando acabou derrotado por Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que concorreu com o apoio do Palácio do Planalto. Foi uma espécie de anticandidatura para enfrentar o governo e sua base e recebeu 165 votos. Alves levou a fatura ao conquistar 271 votos. Desta vez, aproveitado o desejo do PT em retomar o posto, pretende se apresentar como terceira via.
Delgado tem feito articulações nos bastidores ao lado do presidente do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, Ricardo Izar (PSD-SP). Izar tem admitido a aliados a possibilidade de não disputar novo mandato para a presidência do Conselho de Ética e formar uma chapa conjunta com o deputado socialista. A dupla trabalha inclusive para obter votos na bancada do PMDB. O eventual apoio do bloco de oposição poderia significar um aporte nada desprezível. O bloco de oposição composto por PSDB, PMN, SDD, DEM e PPS reúnem 104 deputados.
Para esse grupo, aderir à candidatura de Delgado não significa mudar de lado, já que durante o segundo turno da disputa presidencial o PSB apoiou Aécio Neves (PSDB-MG). Antes, já havia deixado a base da presidente Dilma para viabilizar o lançamento da candidatura de Eduardo Campos, morto num acidente aéreo no dia 13 de agosto, em Santos, litoral Sul de São Paulo. Por isso mesmo, a eventual adesão ao nome de Delgado é algo visto como natural. Outros partidos com ligações cordiais com o grupo de oposição, como o PV, poderiam embarcar, aumentando o volume de votos para o socialista.
Reação
Esse movimento da oposição rumo a Delgado gerou uma reação de outro concorrente de peso. Eduardo Cunha (PMDB-RJ) esteve em contato com o grupo de oposição para falar sobre sua candidatura e sobre o eventual apoio. Recebeu como resposta uma fala de apoio: o alvo da oposição é derrubar o PT. Os oposicionistas estudam qual a melhor alternativa para impedir que o partido da presidente fique com o comando da Casa e controle a pauta pelos próximos dois anos.
Nesta quarta-feira, durante reunião da bancada, Cunha recebeu sinal verde de seus correligionários para mergulhar de cabeça na campanha, inclusive buscando apoios para a formação de um bloco que viabilize seu nome para o comando da Casa. A iniciativa do PMDB interrompe o acordo de rodízio para a presidência da Câmara, em que PT e PMDB se revezem no comando da Casa. O PMDB argumenta que o resultado da eleição presidencial justificaria a quebra do acordo ao sinalizar um desejo da população em evitar uma hegemonia do PT na gestão federal. Por sua vez, o PT rebate afirmando que, por ter a maior bancada, tem a prerrogativa de escolher o presidente.
Governo
Por enquanto, o Planalto acompanha as movimentações para a definição da presidência da Câmara a distância. No momento, acredita que é preciso aguardar a cristalização das candidaturas para definir sua atuação neste embate. Num aspecto já deixou sua posição fechada, não quer cair nas provocações de Cunha e de seu grupo, contrário à aliança entre PMDB e PT. Não pretende mandar recado e tão pouco bater boca pela imprensa. Cunha tem defendido também a criação de uma nova CPI na próxima legislatura para apurar denúncias de desvios na Petrobras.
Nesse embate, mesmo a posição do vice-presidente da República, Michel Temer, principal aliado do governo no PMDB, não deverá exercer tanta influência. O PMDB da Câmara, visto como rebelde em sua maioria, teria pouca sensibilidade às investidas de Temer. Além disso, o governo avalia que Cunha mira a presidência da Câmara, mas também pressiona para conseguir o controle de ministérios importantes na reforma prevista para o início do segundo mandato da presidente Dilma, como o controle da Agricultura, por exemplo, pela qual disputa internamente no PMDB com a senadora Kátia Abreu (TO).
Fonte: IG