Amazonianarede – Zero Hora
Porto Alegre – O inspetor da Delegacia Especializada em Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas (Defrec), Rodrigo Souza da Silveira é considerado testemunha central pelo delegado Marcelo Arigony, um dos responsáveis pela investigação do incêndio na boate Kiss. De folga, o policial de 33 anos estava na casa noturna na madrugada de 27 de janeiro e sobreviveu à tragédia.
O seu relato sobre os efeitos da nuvem negra na multidão reforçou a conclusão dos delegados Arigony e Sandro Meinerz de que a espuma no teto do estabelecimento foi a grande vilã da história. Embora apenas dois laudos oficiais da perícia tenham sido liberados, Arigony sustenta que a combustão do material liberou cianeto no ar, intoxicando as vítimas. As informações foram publicadas no jornal Zero Hora.
“A fumaça caiu como se fosse uma cortina preta, pesada como uma pedra. Ficou tudo escuro, como quando a gente desliga a luz à noite. Só quem estava lá entende o que estou dizendo. As pessoas respiravam e caíam. Se tinha cianeto, eu não posso afirmar, porque não sou perito, mas, tenho certeza de que era fatal”, contou Silveira. O policial também relatou ter encontrado dificuldade em deixar a boate. “A saída era uma espécie de funil. Aquilo atrapalhou muito. Todo mundo ficou trancado ali. Bastaria ter mais uma porta, ou uma porta maior, para que mais gente conseguisse sair”, completou.
Incêndio na Boate Kiss
Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 240 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.
Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.
Os corpos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.
Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.
Quatro pessoas foram presas temporariamente – dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.
A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.
No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A intenção é oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento.