SANTA CATARINA – Pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) descobriram em Florianópolis a menor flor de orquídea já identificada no mundo, com menos de meio milímetro. A descoberta foi catalogada e publicada na revista científica Systematic Botany, dos Estados Unidos, em fevereiro deste ano.
A nova espécie foi batizada como Campylocentrum insulare, em homenagem à ilha de Santa Catarina, onde a descoberta foi feita. “Foi quase por acaso”, conta o pesquisador em botânica Carlos Eduardo de Siqueira.
Em 2010, ele estudava no Departamento de Botânica uma subtribo de microorquídeas quando sua orientadora de mestrado, Ana Zannin, trouxe de uma saída a campo uma planta que poderia pertencer ao grupo. “Parecia uma planta comum, não dei muita importância, mas coloquei na estufa.”
‘Parecia um fungo’
Tempos depois, Siqueira notou um pequeno pontinho branco na planta. “Achei que era um fungo. Estava indo embora, mas parei e achei que estava meio diferente”. O pesquisador, então, resolveu olhar mais de perto e percebeu a minúscula inflorescência – seis pequenas pétalas brancas com um miolo amarelo, sem folhas.
Siqueira, então, partiu para o laboratório e começou a fazer todos os procedimentos científicos para confirmar sua descoberta. “Tirei fotos com um microscópio com uma câmera embutida, dissequei a flor, desmontei as partes, montei cartões. Foi um trabalho bem minucioso”, conta.
A etapa seguinte foi a da identificação. “Comparei com o que existe através de bibliografia, pesquisei. Não tem menor do mundo. Não digo que seja a menor orquídea, porque fica difícil comparar com uma que tenha folhas. Mas é a menor flor de orquídea do mundo”, afirma o pesquisador.
Siqueira chamou um especialista em Campylocentrum, o pesquisador Edlley Max Pessoa da Silva, que viajou de Pernambuco para Florianópolis para ver a planta e também acabou assinando o artigo publicado nos Estados Unidos. Da proposta do artigo à publicação, a descoberta foi submetida a várias avaliações de especialistas ao longo de um ano.
Sonho de menino
O achado é a realização de um sonho de menino. “Começou quando eu tinha 12 anos e ganhei da minha mãe um livro chamado ‘O naturalista amador’”, conta Siqueira, que fez a faculdade de biologia mais tarde, depois de se formar em análise de sistemas.
“Tentei desde o começo fazer biologia, mas não passei e rolou uma pressão familiar”, conta o estudioso, que trabalha como funcionário público em um centro de informática. “Falo que sou botânico pela manhã e tecnólogo à tarde”.
Aos 40 anos, ele se prepara para ingressar no doutorado e, quem sabe, viver da biologia. “Quero fazer novas descobertas”, conclui. (G1)