As favelas do RJ já estão “pacificadas”. E agora…?

Carlos Costa
Carlos Costa*

As favelas do complexo de Manguinhos e Jacarezinho, no Rio de Janeiro, foram pacificados em menos de 20 minutos, sem um único disparo de tiro, mesmo com enorme aparato policial da PM, Exército, Polícia Rodoviária Federal e da Marinha, com guardas fortemente armados, carros blindados e tanques de guerra desfilando pelas vielas. E agora, o que será feito? Só a “pacificação” não será suficiente para resolver todos os problemas sociais das favelas, inclusive porque também nenhum bandido chegou a ser preso nem antes, durante ou depois da operação, apesar de todo o aparato policial cinematográfico.

As favelas do Rio anteriormente “pacificadas” estão merecendo atenção das esferas sociais e econômicas dos Governos Federal, Estadual e Municipal. Eventos internacionais de música e outras promoções visando à integração das favelas estão sendo promovidos nos locais, turistas e investimentos ressurgiram, o setor imobiliário investiu, o setor imobiliário cresceu mas, mesmo assim, continuam tendo problemas em questões da área social e moral, com mortes de PMs e policiais militares ainda envolvidos com milícias e o tráfico. As favelas “pacificadas” de Manguinhos e Jacarezinho, também passarão a ter os mesmos problemas, além de outros que surgirão.

Muitos adolescentes dependentes de crack, tutelados pelo Estado, recolhidos pela Secretaria de Assistência Social, já voltaram para as ruas menos de 10 horas depois de retirados e criaram um novos espaços, ocupando ruas e transformando-as em cracolândias. Os adultos, que não podem ter imposição de tratamento compulsório contra a dependência química, estão se recusando à oferta médica do Estado e não podem ser recolhidos, infelizmente. O que fazer? Persistir com erros e acertos, porque nunca foi fácil tratar a dependência química voluntariamente, quanto mais por imposição.

A palavra pacificar significa “restabelecer a paz, restituir a paz, restabelecer a calma”. Também existe sinônimos para a palavra “pacificar”, como “aliviar, atenuar, congraçar, desapoquentar, harmonizar, mitigar, reconciliar, serenar, sossegar e tranquilizar”. Mas a palavra só pode ser empregada em caso de guerra declarada, o que não foi o caso das ocupações pela PM, Polícia Rodoviária, Federal, Exército e Marinha com soldados, blindados, tanques de guerra nas favelas do Rio de Janeiro.

Acreditando que o sentido de “pacificar” esteja mais voltado aos sinônimos, o importante é que socialmente as favelas do Rio de Janeiro passaram a viver com alívio, congraçamento, de forma harmônica, serena, sossegada e tranquila, mas poderá ser por pouco tempo porque os bandidos continuam soltos e voltarão a agir, a menos que os serviços públicos do Estado comecem a ser executados imediatamente para justificar a ocupação das favelas.
O tratamento contra a dependência do vício do crak precisa continuar, mesmo que seja somente para alívio de muitas famílias de dependentes químicos, destroçadas social e moralmente pelos seus filhos adolescentes “drogaditos”. Os dependentes químicos maiores de 16 precisam receber também qualificação para o mercado de trabalho e serem encaminhados ao emprego formal. Contudo, mesmo sendo importante a recuperação social dos dependentes químicos, os pais dos menores em tratamento, também precisarão ser treinados para o mercado de trabalho, encaminhados ao emprego, sob pena de seus filhos retornarem às ruas para continuar consumindo, traficando, roubando, praticando violência, se prostituindo para manter o vício.

A recuperação de menores dependentes químicos não será fácil e nem rápida, principalmente porque não existe remédio que alivie o período da abstinência química. Mesmo assim, deve ser uma das metas sociais do Governo Municipal do Rio de Janeiro, dentro das favelas pacificadas sem tiros, ainda. Não é só o adolescente que precisará de tratamento; as famílias deverão ser preparadas para a nova realidade porque todos se encontravam doentes pela de falta do exercício de cidadania, lazer, saúde, educação, creches…

*Carlos Costa é jornalista, cronista e escritor.

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