Brasil – O governo do presidente Michel Temer e o PMDB, seu partido, devem ser diretamente afetados pela prisão em caráter preventivo do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ocorrida nesta quarta-feira (19). A opinião é de Roberto Romano, cientista político e professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp.
Segundo ele, “o governo Temer, que já é bastante frágil, não tende a sair ileso de tudo isso. Dependendo dos próximos capítulos da Operação Lava Jato, pode ter grandes problemas para conseguir colocar em prática as suas reformas e planos de governo.”
Romando vê fragilidades no atual governo federal por um conjunto de motivos. “Primeiro, por se tratar de um governo de transição. Segundo, por ter ministros sem gabarito para a função” ou citados nas investigações da Polícia Federal.
Por fim, devido a Temer não possuir o carisma de ex-presidentes como Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, bem como destreza para a liderança.”
Aldo Fornazieri, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp), também concorda que a situação do governo é delicada e antecipa um possível “novo período de desestabilização política”, especialmente no caso de uma eventual delação premiada.
“Ele [Cunha] já sinalizou que o impeachment foi um golpe, falou sobre o repasse de R$ 5 milhões para Temer, entre outras coisas. Ele andou dizendo, mas não confirmou. Agora, se ele confirmar, isso se agrava para o Temer”, afirma Fornazieri.
Tese enfraquecida
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O professor da Fespsp acredita que, se Cunha fizer revelações, Temer provavelmente será afetado. A condição política do presidente deve se tornar mais instável do que se tornou a da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) nos meses que antecederam seu impeachment, efetivado em 31 de agosto.
A situação dele [Temer] pode ficar pior que a da Dilma, porque, contra ela, não tinha nada, e contra o Temer tem várias citações, e ele pode ficar sem condições de governar” Fornazieri
Roberto Romano diz que, entre Temer e Dilma, há uma diferença que pende para o lado do atual presidente: a capacidade de diálogo, que é “muito maior que a da petista”, mesmo com o peemedebista tenha baixo apoio popular – entre outros motivos, por conta do envolvimento de nomes do PMDB na Lava Jato.
David Fleischer, cientista político e professor da Universidade de Brasília (UNB), acredita que Temer, especificamente, não será prejudicado, mas que a prisão de Cunha pode ser vista como um aviso ao PMDB de que já existem outros políticos na mira do delegado Sergio Moro.
“Cunha era o mais poderoso do partido, depois de Michel Temer. Antes da cassação, era muito valioso, e não escapou”, alerta Fleischer. “E é bom lembrar que o PT foi majoritariamente afetado pela Operação Lava Jato e pagou por isso nas urnas.”
O que oferecer na delação?
Ainda com relação à possibilidade de delação, Fornazieri atenta para o fato de que toda delação precisa ser justificada. “A questão é: ele tem coisas para dizer que ainda não foram reveladas? Existem condições técnico-jurídicas para isso? Fica a pergunta. Se houver, o estrago será muito grande.”
Mesmo que a Cunha resolva, em vez de optar pela delação, se ater a contar o que sabe em livro, conforme havia prometido antes de ser preso, os danos para Temer e seu partido podem ser grandes, segundo ele, já que agora ele pode acelerar o processo de publicação do livro.
“Preso, ele vai ter mais tempo”, diz o professor (observação que também chegou a ser mencionada na quarta por um dos aliados do ex-deputado).
Procurada pelo UOL por telefone no início da noite da quarta-feira (19), a Secretaria de Imprensa do Palácio do Planalto informou que o governo não se manifestaria sobre o assunto.
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