
Há 175 anos, o Amazonas deixava de ser subordinado ao Pará e se tornava uma província com autonomia administrativa, abrindo caminho para sua história e desenvolvimento.
Durante décadas, o Amazonas viveu subordinado ao Pará, sem poder decidir seus próprios rumos. Em 5 de setembro de 1850, essa situação começou a mudar. A data, que passa despercebida para muitos brasileiros, é celebrada no estado como marco de sua emancipação política: foi quando o território deixou de ser subordinado ao Grão-Pará e se tornou oficialmente uma província do Império.
Nesta sexta-feira (5), o g1 relembra os 175 anos desse momento e mostra como o Amazonas conquistou voz própria na história do Brasil.
A emancipação ocorreu em meio a conflitos e desafios. Após a sangrenta Revolta da Cabanagem, que matou cerca de 25% da população local, o governo imperial, temendo perder o controle da região, passou a considerar a divisão do Pará.
O desejo de emancipação recebeu apoio de deputados provinciais e do parlamento. Em 1850, Dom Pedro II sancionou oficialmente a criação da Província do Amazonas, marcando o início de sua trajetória, segundo o escritor e pesquisador Roger Perez.
“Em 1850, nós éramos politicamente subordinados à Província do Grão-Pará, sujeitos às suas decisões e vontades. Isso ia contra o desejo natural do povo amazonense de tomar as rédeas do próprio destino. Mesmo antes do ciclo da borracha, já sonhávamos com nossa autonomia política. Queríamos decidir nossos próprios rumos, tanto administrativos quanto políticos”, disse Perez.
O projeto contou com apoio dos deputados provinciais e senadores, que também discutiam a emancipação do Paraná. Na época, políticos paraenses apoiaram a criação da nova província.
“Esse avanço só foi possível com apoio político. O deputado Tavares Bastos, da Assembleia Provincial, foi um dos articuladores que ajudaram a viabilizar a separação. Ao lado dele, se destacou João Baptista de Figueiredo Tenreiro Aranha, paraense que defendeu a criação do Amazonas”, explicou.
Após a análise do Congresso, Dom Pedro II sancionou a lei que criou o estado do Amazonas em 5 de setembro de 1850. No entanto, a proposta só saiu do papel dois anos depois.
“Era um anseio muito antigo que nós realmente obtivéssemos a nossa independência do Pará. Então foi muito celebrado. A partir daí, um novo horizonte se abriu para a antiga Capitania do Rio Negro. Foi uma nova vida, realmente. É por isso que é tão celebrado, tão lembrado, porque na verdade é o antes e o depois. É antes de 1850 e depois de 1850. Tudo foi muito diferente a partir de 1850 para nós. A Manaus de 1850 era uma, a Manaus de 1900 era outra. Completamente diferente”, disse Perez.
A criação da província também abriu a navegação do Amazonas a navios de outros países. Antes, o governo de Dom Pedro II restringia a circulação de embarcações estrangeiras, por interesse econômico ligado ao ouro, à borracha e às riquezas naturais da região.
Com a nova província, o Amazonas passou a se integrar mais ao comércio internacional. Produtos e mudas deixaram de ser contrabandeados, e a borracha pôde ser exportada legalmente. Isso impulsionou o desenvolvimento econômico e a circulação de riquezas no estado.
Hoje, os amazonenses celebram a data como momento de reflexão e orgulho. A comemoração lembra o que o estado foi, o que se tornou e o que ainda pode ser. É uma homenagem à história, à identidade do povo e às conquistas que moldaram o Amazonas, inspirando novas gerações a construírem o futuro da região.
“É uma data que marca a nossa história, que lembra quem somos e de onde viemos. Por isso, celebrar essa data é celebrar a memória do nosso povo, as nossas raízes”, concluiu Perez.
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Por Matheus Castro, g1 AM — Manaus