Algumas histórias da Velha Serpa

Almir Barros Carlos*

Hoje resolvi sair um pouco da capital e contar umas histórias de uma cidade que gosto muito no Amazonas, a sempre acolhedora Velha Serpa.

Itacoatiara, distante 176 Km de Manaus, está situada à margem esquerda do Rio Amazonas e o nome quer dizer Terra Pintada (Ita= terra; coatiara = Pintada, escrita, gravada). Contando com aproximadamente 90.000 mil habitantes, é uma cidade acolhedora e pacata, além de aprazível e festeira.

Nos dias 4, 5, 6 e 7 de setembro acontece o FECANI _ Festival da Canção de Itacoatiara, que leva muitos visitantes à cidade, deixando-a mais alegre e simpática. Muitas histórias aconteceram nas décadas de 60 e 70, com figuras inusitadas e folclóricas da Velha Serpa. Abordarei neste artigo algumas delas:

Existia um cidadão chamado Tonico, de tradicional família itacoatiarense que quando bebia (e era contumaz), sempre aprontava confusões, fosse com amigos ou desconhecidos, o certo é que o barraco estava formado quando o Tonico chegava em qualquer lugar já “tocado”.

Um domingo de futebol no Estádio Eurico Gaspar Dutra, onde hoje está localizada a Escola Jamel Amed, a LIDA – Liga Itacoatiarense de Desportos Amadores estava realizando uma partida entre Penarol X Náutico.

Estádio lotado, torcidas vibrando com a entrada dos times em campo, João Rola Presidente da Liga autoriza o início da partida. Neste momento eis que surgido do nada aparece a figura do Tonico já cambaleando e soltando impropérios ininteligíveis. Aproximou-se da mesa, agarrou-a com as duas mãos querendo derrubá-la.

O Presidente com muita calma e parcimônia falou:_ Não faça isso Tonico, não atrapalhe o bom andamento dos trabalhos!Nosso personagem continuou a fazer força com a mesa e vendo que não iria conseguir seu intento, largou-a e ficou parado em frente a mesma. Repentinamente virou-se para o João e disse: _ João, o que é isso nos teus pés?

Quando o João olhou para baixo, o Tonico que era baixinho aproveitou-se e, de baixo para cima, deu um soco no rosto do Presidente que quase vai a nocaute…

Recuperando-se do susto e da surpresa, João deu um tapa de mão aberta (esquerda) e quando o Tonico ia caindo, ele “ajumentou” de baixo para cima com a mão direita…Segundo o Batista, que nesse momento acabara de driblar seu marcador pela direita, quase na linha de fundo para cruzar, ainda deu tempo de parar e olhar para o Tonico, que saiu do chão com o sopapo recebido deixando intactos e no lugar, que estava, seu par de sapatos, estilo mocassim. O Batista conta isso jurando que o Tonico “saiu do sapato” com o tapa do João…

O Tonico, era torcedor fanático do Penarol. Num domingo estavam jogando Penarol X Brasil pelo campeonato Itacoatiarense e, aos 35 minutos de jogo o árbitro Odílio Mendonça, que tinha ido de Manaus para apitar a partida, marca um penalty contra o Penarol. Prá quê? O Tonico pulou o alambrado e saiu correndo em direção ao árbitro pronto para agredi-lo. Foi contido pelos seguranças, que o carregaram até a lateral por onde ele tinha pulado.

Dois seguranças bem fortes o seguraram pelos pés e dois pelos braços, balançaram o Tonico e o lançaram de volta, por cima do alambrado fazendo com que o mesmo se esborrachasse ao lado das arquibancadas de madeira. Foi um santo remédio, o Tonico se aquietou, viu seu time ser derrotado e nunca mais quis saber de pular alambrados para agredir ninguém!

Outra do Tonico: Existia na cidade, a figura um policial muito metido a durão chamado Ferreira e que havia dado uns tapas no Tonico e o prendido por arruaça no Bar Nó Cego.

Passadas algumas semanas, o Tonico vinha “legal” pela Torquato, atual Av. Park e viu o Ferreira encostado na Banca do Aprígio tomando um mingau de banana verde. O Tonico aproximou-se e perguntou ao Ferreira: _ Que horas tens ai no teu relógio?

O Ferreira colocou a lata de leite condensado em que eram servidos os mingaus e com o braço direito pegou no esquerdo, aproximou o relógio da lamparina e baixou a cabeça para ver as horas. Nesse momento o Tonico deu-lhe um soco no olho, que o Ferreira foi a nocaute, não tendo condições da menor reação. Pronto, o Tonico acabara de se vingar! No outro dia na cidade, o Ferreira andava com um vistoso óculos Ray Ban, encobrindo o roxo enorme que se apresentava ao redor de seu olho esquerdo!

Itacoatiara, querida Velha Serpa de tantas histórias que ainda serão contadas, completou em abril 139 anos…eu te parabenizo e te venero pois de tuas entranhas saiu a cabocla mais bela, aquela que me faz feliz todos os dias e que escolheu para parir nosso filho mais novo, Thiago, exatamente dia 25/04, homenageando assim sua amada Pedra Pintada!

*Almir Carlos é professor, pedagogo e cursa doutorado em Buenos Aires, Argentina.

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