Agronegócios: Falta sintonia na área rural

Thomaz Meirelles*

A edição especial do Jornal do Commercio que circulou no último dia 24 de outubro, aniversário de 344 anos da cidade de Manaus, trouxe entrevista com o governador Omar Aziz produzida pelo jornalista Joubert Lima. Antes de comentar algumas afirmativas do governador ligadas ao setor rural do Amazonas quero parabenizar o amigo Adalberto Santos e toda equipe JC por mais uma excelente publicação.

Ao ser questionado pelo Joubert Lima sobre alternativas econômicas ao modelo implantado no PIM/ZFM o governador Omar Aziz declarou que “… nós não temos área para plantação visando a produção de grãos, e não vamos desmatar a floresta, então vamos utilizar os poucos locais que temos principalmente para essas ações usando o extrativismo. Mas não o extrativismo de borracha, esse não existe mais. Não espere que o Amazonas volte a produzir borracha como produziu lá atrás, até porque hoje, a produção em larga escala feita no Estado de São Paulo tem uma seringueira ao lado da outra. Aqui você precisa desbravar a floresta para poder tirar. E culturalmente, o povo amazonense não tem essa cultura de tirar o látex, isso foi feito pelos nordestinos, principalmente os soldados da borracha quando vieram para cá …”

Produção de Alimentos

Enquanto o governador afirma que não temos área para plantação, o Sistema Sepror vem declarando nos últimos anos que precisamos de apenas 0,4% do nosso território para produzir alimentos para a população, e que esse percentual equivale a apenas 40% do que já foi desmatado. Concordo com o posicionamento do Sistema Sepror, mas infelizmente não tem direcionado ações que viabilizem essa produção, mesmo ciente da existência de tecnologias disponíveis na Embrapa e no próprio IDAM. Quem tiver dúvida é só pesquisar no “google” o tema “produção de grãos nas várzeas do Amazonas” que você encontrará trabalho de pesquisadores da Embrapa confirmando que é possível cultivar arroze, milho e feijão em nosso estado sem desmatar.

Extrativismo de Borracha

Enquanto o governador afirma que o extrativismo de borracha não existe mais, no dia 19 de abril deste ano o site da Sepror trouxe a seguinte notícia “Governo do Amazonas investe em tecnologia para dobrar produção de borracha no Estado. Maior produtor de látex recebe equipamentos para garantir produção”. Também é do meu conhecimento a existência, no âmbito estadual, do Projeto de Revitalização da Produção da Borracha no Amazonas, inclusive com a criação de Comitê atuante que discute aspectos ligados aos seringueiros. Além de tudo isso, está em plena operação o pagamento da subvenção federal, estadual e municipal (alguns municípios) aos extrativistas de borracha do Amazonas. E tem mais, a cadeia da borracha conta com investimentos pesados do estado para as usinas de beneficiamento de Manicoré e Iranduba e total apoio para a instalação da indústria Neotec que está em plena atividade e necessitando de matéria prima local.

Cultivo não só em São Paulo

Defendo e acredito no extrativismo de borracha principalmente pelas atuais políticas dos três níveis de governo. Também aprendi em recente evento promovido pela Embrapa e o Sistema FAEA/SENAR que é possível o cultivo de seringueiras no Amazonas. Cultivo e extrativismo podem e devem viver harmonicamente. De acordo com o pesquisador da Embrapa, Everton Rabelo Teixeira, foi criado um clone chamado de cultivar, que é uma planta proveniente do cruzamento de outras duas ou três seringueiras de espécies diferentes, que foi usado para obter o resultado desejado, ou seja, uma planta resistente ao mal das folhas e com maior produtividade. Para implementação da pesquisa, alguns pontos positivos foram destacados como a disponibilidade de tecnologia da Embrapa, clima favorável, demanda aquecida e a questão ambiental que prima pela floresta em pé.

Sintonia e Aproximação

Analisando as frases do governador e as ações executadas em prol do setor primário local pelo Sistema Sepror e outros parceiros institucionais ficam evidentes a distância que está existindo. Isso não é bom, e precisa acabar rapidamente para não prejudicar os avanços que alcançamos com muita luta. Tenho observado que quando a área rural atravessa graves entraves sempre é sugerida reunião com o vice-governador. Por que evitamos o governador? Nada contra o professor José Melo, profundo conhecedor do estado, mas se o setor industrial conta com total apoio do governador nos momentos difíceis, o setor rural, responsável pela produção de alimentos, também deve procurar tal apoio. Mas não é isso que tenho presenciado, ou seja, a nossa distância da “Compensa” e da “bancada federal” tem impedido o crescimento agropecuário do Amazonas e a melhoria de vida do homem do campo o. Tenho sempre dito que o problema é nosso, ou seja, não estamos sabendo fazer essa aproximação. Espero que a partir das eleições de 2014 exista uma maior sintonia entre o setor primário e o poder político do estado. Vamos aguardar!

*Thomaz Antonio Perez da Silva Meirelles, servidor público federal, administrador, especialização na gestão da informação ao agronegócio. E-mail: [email protected]

Os artigos assinados neste portal não refletem necessariamente a opinião do siste e são de inteira responsabilidade de seus autores.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.