São Paulo – O ex-presidente Lula já disse, repetiu e insistiu que se sente realizado e vê na presidente Dilma Rousseff “dispadaramente a melhor pessoa para vencer as eleições” de outubro. Mas até que estejam estourados os prazos para registros de candidaturas, em junho, certamente ainda terá de reafirmar mais vezes que seus planos não incluem voltar ao Palácio do Planalto. Hoje, dia 10 de abril de 2014, Lula, de fato, não é mesmo candidato a presidente, assim como ninguém é nem pode ser, legalmente, neste momento. Mas, como diz o ditado, ninguém sabe o dia de amanhã.
O certo mesmo é a que a romaria de políticos, empresários, sindicalistas e também de celebridades não para de crescer sobre o Instituto Lula, no bairro do Ipiranga. O escritório de onde o ex-presidente despacha está com a agenda repleta. “Hoje eu recebo mais gente do que quando eu era presidente da República”, reconheceu Lula em entrevista, ontem, a blogueiros.
Com sua conhecida espontaneidade, Lula procurou transmitir que sua intensidade em fazer política é corriqueira, natural para quem se colocou como dublê de candidato para sustentar a campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff.
Na quarta-feira 9, depois de conceder entrevista por mais de três horas, com intensa repercussão em todas as mídias, Lula ainda teve fôlego para receber o presidente da CUT, Vagner Freitas, o líder do MST José Rainha e, ainda, o ex-capitão Cafu, da Seleção Brasileira de Futebol. Além de se tornar referência para todos os assuntos, Lula é visto como um conselheiro experimentado.
Mais que boa conversa, a intensificação na agenda do ex-presidente desperta, como só iria acontecer, certezas e receios entre observadores e adversários. Já existem na mídia tradicional e familiar colunistas que cravam que o candidato do PT, em caso de queda acentuada da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas, será ele e não ela. Outros, como o jornalista e historiador Elio Gaspari, já até pedem para que ele entre na arena como forma de dar nitidez à disputa.
Nada irrita mais o ex-presidente. Uma a uma ele tem procurado desmentir distorções e erros na transcrição de suas palavras, mas não consegue conter as interpretações. Até o estouro dos prazos para a realização das convenções partidárias, em junho, com indicação e registro dos candidatos oficiais, Lula – e Dilma – terão de conviver com cada vez mais análises a respeito dos ganhos e riscos de uma troca de papéis entre eles. Faz parte do jogo.
A intensificação da agenda de Lula, que passará a contemplar, a partir de agora, muitas subidas aos palanques estaduais que começam a ser montados, só irá acirrar o paradoxo em torno dele: por mais que diga que não está fazendo nada diferente do sempre fez, e reafirma seu compromisso de reeleger Dilma, ninguém está obrigado a acreditar. Tanto para políticos de direita, de centro ou de esquerda, democratas ou golpistas, a dissimulação e o segredo são a alma do negócio. Não haveria de ser diferente com Lula.
Por: Brasil 247