Marina perdeu. A despeito das previsões que a colocavam à frente da Presidente, num eventual segundo turno, a candidata “verde” não prosseguiu. Qual a implicação deste resultado das urnas para a agenda verde nos próximos quatro anos? Seja quem levar a parada (PSDB ou PT) terão compromissos além da perfumaria de campanha para o setor?
Antes de responder a este quesito, voltemos há algumas semanas. Quando Marina partiu em disparada nas pesquisas fez tremer os outros adversários. Parecia complicado derrubar seus 35% em ritmo de crescimento. E, pra complicar, seu discurso “anti tudo de ruim” e a favor de “tudo de bom” trazia percalços – em especial, na agenda ambiental.
Marina propunha bem à frente dos outros candidatos. Mexia na ferida. Era uma direção corajosa. Em suas versões, Aécio e Dilma tateavam, evitavam comentar (ou pior: não sabia ou quem sabe, estavam nem ai, pois o tema não dá votos). Por quê? Bem, a resposta é simples: o Agronégócio – ainda que não assumisse – não apoiava Marina (basta ver os números das doações de campanha).
Mesmo assim, como derrubar tal discurso pró-tudo-de bom? Para vencê-la as armas foram a que se viu no restante da campanha (não me atrevo a comentar questões de ciências políticas). O que ficou claro, pelo menos de forma inicial, foi que a agenda ambiental ainda mexe pouco, muito pouco com a posição que as pessoas tomam – ainda que só de ponto de vista de política eleitoral. Infelizmente, a sociedade brasileira ainda é vacilante (pra não dizer conservadora) quanto a temas sensíveis como a agenda socioambiental. Levará tempo.
Futuro da agenda
Com a acreana fora do jogo seja qual for o resultado, a tendência é uma manutenção de rumos na política ambiental. Ainda que o PSDB assuma, a ideologia do partido não é tão heterodoxa a ponto de mudar muito o que se viu nos últimos 12 anos do governo trabalhista.
Bem verdade, sim, os números mostram menor desmatamento na Amazônia. Mas há gargalos que nem mesmo este bom resultado esconde: ainda há grande número de madeira ilegal (a maioria, na verdade). A carne vai ao mesmo caminho.
Sem falar nos resíduos urbanos (lixões e similares) são um outro problema, que apesar da Lei 12.305, pouco se avançou. Esgotamento sanitário é outra pedra. E, pra fechar os grandes temas que um Presidente pode (deve) enfrentar, fiquemos no “ensurdecedor” aumento dos automóveis nas médias-grandes cidades. Como resolver?
Mas seria a vitória da candidata ambiental uma mudança de rumos a ponto de corrigir estes problemas? Muitos apostaram que não. Da nossa parte penso contrário – mas de forma moderada. Havia uma posição marcada no quesito socioambiental na campanha marinista. Aliás, não é exagero arriscar que ela pôs à prova boa parte dos seus votos em função de manter-se firme em um propósito que pode até ser legal, bonito, sério e ético. Mas não se mantém frente à dura realidade das campanhas eleitorais. Logo, ainda que não apontasse resultados nestes assuntos acima sugeridos, um governo da “nova política” traria – ao menos – o bom debate.
De qualquer forma, não dá pra dizer qual o futuro da agenda ambiental, ainda. Há de se saber quem será indicado para a pasta. O vencedor deve priorizar um casamento entre o Agronegócio, o meio ambiente a o pequeno agricultor (sem separá-los, como muito ocorre). O governo Dilma tentou, ainda que timidamente, mas digamos, não passou de namoro.
Há problemas com trata a reforma agrária e desacertos (ou ajustes necessários) com a política de mudanças climáticas. Aécio iria em que tom? Difícil dizer. Esperar para opinar depois do pleito final.
*Ronaldo Santos é engenheiro agrônomo, servidor federal de carreira e acadêmico de Direito.
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