A morte do senador e a foto do “Pinducão”

Carlos Costa

Carlos Costa*

O Jornalista Bianor Garcia, mestre em manchetes escandalosas em A NOTÍCIA, jornal em que iniciei a carreira profissional aos 18 anos vindo da agência de publicidade, a Saga, ao ver a foto, disse ao autor da fotografia, ainda em preto e branco:

– “Pinducão, vamos guardar e usar na hora certa, meu filho”. A foto foi “revelada” e ampliada em tamanho 18X24 e mostrava um cachorro defecando no muro de uma Igreja, onde estava pichado “BOSCO, LADRÃO DA SHAM”!, Dias antes, em Brasília, o ex-funcionário de A NOTÍCIA havia sofrido um derrame cerebral.

Com reagentes químicos, o “revelador” Lucena, o “Bau Barú”, como todos o chamavam na redação, mostrou a foto na redação. Era muito divertido o nosso trabalho, apesar de enfrentarmos muitas vezes a madrugada, esperando para dar o “furo” em A CRÍTICA.

A foto em questão era considerada uma preciosidade, tirada pelo João “Pinduca” Rodrigues durante a cobertura que estávamos fazendo após o derrame do senador e ex-funcionário de A NOTÍCIA e que tinha se transferido para o jornal A CRÍTICA, que se rivalizavam na época.

João “Pinduca” Rodrigues, pelo seu tamanho e porte físico, era chamado por todos, carinhosamente de “Pinducão”. É um competente profissional e capaz de conseguir fotos instantâneas impressionantes, registrando os ângulos e situações inusitadas.

O senador João Bosco Ramos de Lima, fora vereador, quatro vezes secretário municipal, radialista, cronista esportivo, vereador, treinador de futebol e vice-governador de Henock da Silva Reis, indicado pelos militares. Depois foi nomeado para a Sociedade de Habitação do Amazonas, sucessora da antiga Cohab-Am,- Companhia de Habitação do Amazonas e fora acusado de irregularidades.

Todos os dias, o diretor do Jornal A NOTÍCIA, Andrade Netto, que também foi deputado federal, entrava na redação do Jornal e perguntava:

– Como está à saúde do senador João Bosco, hoje?

– Segundo as notícias que recebo pelo teletipo e copidesco seu Andrade, ele ainda está resistindo! – respondia o Editor de Política, o jornalista Isaias Oliveira, chamado pelos amigos de “O Carequinha”, devido sua falta de cabelos, desde muito novo.

O Andrade Netto, em seguida, abria a gaveta de sua mesa, olhava para a manchete produzida em letras garrafais “BOSCO MORREU!” e voltava a fechá-la.

Depois, chamava o Editor de Política do Jornal A NOTÍCIA e determinava:

– Levantem toda a vida do senador João Bosco que no dia em que ele morrer, quero rodar uma edição extra de A NOTÍCIA.

A foto do “Pinducão”, tinha uma relação direta com o fato, pois mostrava um cachorro defecando no muro da Igreja do bairro de São Lázaro, com os dizeres garrafais pichadas: “BOSCO LADRÃO DA SHAM!” E o mais incrível é que das cinco fotos tiradas pelo “Pinducão”, só a do cachorro fazendo coco no muro da Igreja entrou para a Edição Extra do Jornal A NOTÍCIA quando foi confirmada a morte cerebral e total do senador João Bosco Ramos de Lima. Vendeu muito o jornal naquele dia 11 de maio de 1979, porque foi o único matutino que circulou no horário da tarde com todas as informações sobre a vida do antigo funcionário de A NOTÍCIA, que faleceu vítima de acidente vascular cerebral. Nessa época, os jornais A NOTÍCIA e A CRÍTICA viviam em pé de guerra!
*Carlos Costa é assistente social, escritor, cronista e jornalista.
carloscostajornalismo.blogspot.com

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