Donald Trump cumprimenta simpatizantes durante campanha em Canfield, Ohio Foto: MIKE
Washington — A campanha eleitoral americana entrou na reta final, após o feriado do Dia do Trabalho nos EUA, na segunda-feira, com uma nova leva de pesquisas que mostram uma disputa mais acirrada do que se imaginava até então.
Alguns levantamentos colocam Donald Trump numericamente à frente de Hillary Clinton, enquanto outros indicam que ela segue com vantagens em estados decisivos. As estratégias nesta fase mudam para capturar os indecisos e eleitores que rejeitam ambos, que serão decisivos, segundo especialistas.
A pesquisa da CNN divulgada ontem mostra Trump dois pontos à frente de Hillary: 45% a 43%, com Gary Johnson (Partido Libertário, com 7%) e Jill Stein (Verde, 2%). Isso não ocorria desde meados de julho, quando Trump liderava embalado pela convenção republicana — depois Hillary chegou a abrir dez pontos de vantagem. Mas na média das sondagens do site Realclearpolitics, Hillary tem 41,4%, contra 39% de Trump. Num cenário apenas com os dois, a democrata tem, na média, 46,2%, e o republicano, 42,9%.
“O grau de incertezas nesta eleição é maior do que as pessoas poderiam supor”, escreveu Nate Silver, fundador do site FiveThirtyeight.
Segundo ele, a elevada rejeição de ambos, que faz os candidatos independentes aparecerem tão bem posicionados, dificulta ainda mais as projeções: “Muitos eleitores, perto de 20%, dizem que estão indecisos ou que pretendem votar em candidatos de pequenos partidos. Há quatro anos, apenas entre 5% e 10% dos eleitores se encaixavam nestas categorias”.
Na terça-feira ainda foi publicado um levantamento do Washington Post/SurveyMonkey, que indiciou que Hillary teria, hoje, 244 dos 270 votos necessários no Colégio Eleitoral para ser eleita. Trump teria 126 votos — 168 estariam em disputa em dez estados. A maior surpresa foi no Texas: de acordo com o cenário, Hillary está ligeiramente à frente de Trump (46% a 45%).
— Sou um pouco cético, é preciso esperar novas pesquisas. Não acredito que o Texas deixará de ser um estado conservador, embora veja a margem de vitória dos republicanos se reduzindo, em parte pelas mudanças demográficas, já que há mais imigrantes no estado — explicou ao GLOBO James Henson, da Universidade do Texas, lembrando que os imigrantes tendem a votar nos democratas e rejeitar Trump.
Ele afirmou que parte dos problemas de Trump pode ser em razão das diferenças com Ted Cruz, o senador texano que foi o último a abandonar as primárias republicanas e que, até o momento, não endossou a campanha do magnata. Assim, Trump talvez tenha de investir mais no estado do que seria habitual para um candidato republicano. Nacionalmente, os números reforçam que a eleição será disputada:
— Em julho tivemos as duas convenções com problemas, mas a democrata foi mais eficiente que a republicana, e isso se refletiu nos números de agosto, quando muita gente está de férias, sem se preocupar com política. Com o fim do verão (no Hemisfério Norte), vemos que os números mostram patamares similares a junho.
No lado democrata, além do foco no debate do dia 26, há uma tentativa de dar maior visibilidade às ideias de Hillary:
— Hillary precisa falar mais sobre o que realmente importa e com mais paixão — sugeriu o vice-presidente Joe Biden após participar de um comício em prol da democrata.
Esta é outra estratégia em que o partido aposta: o apoio de grandes nomes. Além de Biden, a senadora Elizabeth Warren e Barack e Michelle Obama deverão intensificar a participação nos comícios de Hillary. A primeira-dama, que fez um forte discurso na convenção democrata, fará um evento no dia 16, na Virgínia.
E Bill Clinton tende a realizar mais eventos sozinho, representando a mulher em mais locais.
Trump, por sua vez, segue mirando grupos de eleitores que o rejeitam. Depois de tentar, sem muito sucesso, aproximar-se dos latinos, agora quer conquistar o voto dos negros.
O republicano também tem reforçado os pontos nos quais é bem avaliado: segundo a pesquisa da CNN, 56% dos americanos acreditam que ele seria melhor que Hillary na economia, enquanto 51% o avaliam como mais preparado para enfrentar o terrorismo, contra 45% da democrata. Ela se sai melhor no tema da imigração (49% a 47%) e em relações externas (50% a 40%).
Ontem Hillary afirmou que não vai ao México antes das eleições, rejeitando o convite do presidente Enrique Peña Nieto. O mandatário havia convidado os dois candidatos, e Trump esteve lá na semana passada, em um “incidente diplomático”, segundo Hillary.
Após o encontro, Trump voltou a alimentar polêmicas e disse que o presidente mexicano “violou o acordo” feito na reunião, de que não detalhariam o debate sobre quem pagaria pelo muro que o republicano quer construir na fronteira dos dois países. Peña Nieto disse que os mexicanos não pagariam pela obra, e Trump reafirmou que eles pagarão.
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