Almir Carlos*
Manaus, na década de 60, tinha pouco mais de 250.000 (duzentos e cinquenta mil) habitantes. Cidade pacata, acolhedora e brejeira, e que facilmente conquistava quem a visitasse. Tínhamos um ditado que dizia: “Quem come jaraqui, não sai mais daqui!”.
Para se ter uma ideia de como era Manaus nessa época, do tamanho da cidade, podemos traçar uma linha reta imaginária e teremos o Boulevard Amazonas como o marco divisor do final da Zona Urbana. A partir dali terminava a cidade.Tínhamos apenas uma saída para a estrada: a Av. João Coelho, hoje,Constantino Nery.
Depois da Bola do Olympico, já se considerava como Zona Rural. Lembro que o Colégio Solon de Lucena, Estabelecimento de Ensino onde mais tarde fui Diretor, localizava-se na Rodovia AM-010 Km 02 e, mais a frente, a partir da Ponte dos Bilhares, começava a Zona Fria…
Logo após a Ponte dos Bilhares, ao lado direito, erguia-se, onde hoje está o Millenium Center, o Cabaré da Verônica (ainda não existia Cidade Jardim), apenas o Retiro Maromba mais a frente, onde ficou hospedada a Delegação da Seleção Brasileira de Futebol em 1970, escolhido por ser um local afastado da cidade. Mais a frente, à esquerda, o Bosque Clube e, entre este e a Chácara do Dr. Guilherme Nery, outro Cabaré: o Sanghri-lá, onde segundo alguns, aconteceu a primeira briga entre Waldick Soriano e Tigre do Amazonas, Salim Dib.
Mais adiante, o Clube Sírio e Libanês e a Usina Londrina, o resto era mato até o Hospício e a seguir, o Solar da Olímpia, restaurante tradicional onde se servia uma inigualável bacalhoada. Andando um pouco mais, chegava-se a uma pontezinha, onde logo após, localizava-se o “Abrigo dos Arigós”, que ficava ao lado de onde hoje funciona a Frigelo, na entrada do Conjunto Duque de Caxias, passando o Aeroclube e, bem em frente ao Clube Municipal.
Não existia nada mais… nenhum desses conjuntos e bairros de hoje: D. Pedro, Alvorada, Ajuricaba, Campos Elísios, Santos Dumont, Cidade Nova, enfim… apenas alguns balneários e Cabarés, como: o Rosa de Maio, ao lado do hoje Motel Detalhes, o Forquilha na Estrada do Aeroporto (que ainda não existia), o La Hoje, entre o Aeroclube e a entrada do bairro da União, e o Angelu`s, onde hoje se localiza o Cobra`s Motel (vale ressaltar que para ter acesso, somente pela João Coelho, pois não existia Djalma Batista).
Pela Rua Recife, após passarmos pela Vila Municipal, local bucólico, onde existiam diversas chácaras, chegávamos ao Clube Acapulco, o “point” de Manaus; Cassino famoso, onde se apresentaram as principais estrelas de nossa música, como: Dalva de Oliveira, Cauby Peixoto, Waldick Soriano, Ângela Maria, Pery Ribeiro…e, um pouco mais a frente o fabuloso Balneário do Parque Dez, muito frequentado pelas famílias manauaras.
À direita, onde hoje se localiza a Efigênio Sales, era a Estrada do V-8 que também era povoada apenas, por sítios e balneários. Volto minhas lembranças para a Zona Oeste e “vejo” o Bairro de São Raimundo, que tínhamos acesso apenas pela Ponte Velha, localizada no final do Boulevard Amazonas. Passávamos pelo estádio da Colina, o Abrigo Redentor e o Cemitério de Santa Helena.
Os Bairros de Santo Antonio, da Glória, e do Morro do Bode, na realidade nem eram bairros ainda. Na Estrada do Bombeamento, hoje Ponta do Ismael, chegávamos à Fábrica de Compensados, que deu nome ao Bairro da Compensa, terras que pertenciam à viúva Borel.
Existia também a Estrada da Jonasa, onde se localizava o Cabaré Florestas e hoje dá acesso à Ponte Rio Negro! Fecho os olhos, dou rédeas à imaginação e me delicio, lembrando também do Beco do Macedo e do saudoso e querido Parque Amazonense, de tantos jogos inesquecíveis. Para a Zona Sul, os Bairros da Praça 14, onde sempre se estabeleciam Circos, como o famoso Circo Garcia, que teve inclusive apresentação do Rei Roberto Carlos, salvo engano em 1966.
A seguir o Bairro de Cachoeirinha, Educandos, Morro da Liberdade e o venusto Aeroporto de Ponta Pelada, onde várias noitadas foram “curtidas” por mim e minha turminha, em namoros juvenis com as mais belas moças da cidade em seu aconchegante terraço!
Que beleza era minha cidade, minha Manaus cabocla! O que fizeram dela, em nome do inexorável progresso ? Hoje me arrependo por não ter feito nada para impedir essa criminosa destruição de seus límpidos igarapés e cachoeiras, como as do Tarumãzinho e do Tarumã Grande, da Ponte da Bolívia, do Mindu (dos padres Redentoristas) e do próprio Balneário do Parque 10…
Passivamente deixamos que tirassem o teu sorriso, não demonstramos fláucia, ficamos inertes, acomodados…
Desculpe Manaus, por um filho teu, não ter ido à luta, quando mais precisavas, quando agonizavas e sofrias mutações e nós, em estado letárgico, não nos dávamos conta de teu sofrimento, de tuas angústias, de teu fenecer…
*Almir Carlos, é professor, pedagogo e escreve neste portal, sobre as histórias e estórias da Manaus antiga.
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