Sentados em ouro: por que ainda não aproveitamos a Biodiversidade?

19-12roRonaldo Santos*

O que muita gente questiona – e com toda razão – é como temos tantas riquezas e ainda não aproveitamos adequadamente.

A região amazônica é o “Banco Central” em recursos naturais: bioenergia, biodiversidade, mineração, hidroenergia etc. Mas explora-se muito pouco do real potencial. Destaque para a indústria mineral, hidroelétrica e a petrolífera e, mesmo assim, em projetos pontuais.

Claro que se deve olhar com cautela este termo “explora-se”. Ninguém em sua saúde mental em dia iria defender o uso indiscriminado destes recursos sem respeito às leis, ao equilíbrio ecológico e sustentável e também á distribuição equitativa de renda para todos. Não. O que ocorre, contudo, é que haveria uma síndrome do “pão-duro” que guarda dinheiro no colchão, com medo de usar ou por não saber usar.

Mas seria isso mesmo? O que de real falta: tecnologia, ciência, investimentos ou mera vontade política?

Da Pesquisa à indústria

Veja o caso da biodiversidade. Das plantas, animais e microorganismos há uma vasta e enorme potencial para produção de remédio e cosmético – só para ficar nos mais populares e famosos. Mas, se pensarmos em geração de produtos efetivamente lançados, pouco avançamos.

E o que estamos fazendo? Estamos ao menos pesquisando? E olha que estamos falando de pesquisa “basequinha” mesmo (perdoem o neologismo), bem longe do casamento laboratório-indústria. Sim, há pesquisa pronta, mas ainda pouca para os recursos que temos – embora, paradoxalmente, já são muitos resultados frente aos produtos para o mercado – com raríssimas exceções.

Povos tradicionais

Há quem defenda que o uso extrativo – aquela mais artesanal, manual, feito atualmente pelos povos da floresta – já justificaria o uso sustentável. Esta tese é a de que somente estes grupos detêm o conhecimento adequado para usar sem destruir; que não haveria como obter mais benefícios sem que se degrade e cause mais problemas. E até quem diga mais: que o uso industrial é uma forma de curva-se ao capital, à grande indústria que só quer lucro.

Bem, em parte é verdade. Indústria quer sim lucro – se não nem existiria. A discussão não é o velho “Fla-Flu” capitalismo x socialismo ou tradicional x industrial. Há formas de se inserir a discussão da sustentabilidade no meio empresarial, forçar o reconhecimento pelo “capital” que o lucro, por si só, nos dias atuais não resulta em grande vantagem.

Por décadas esta ideia é defendida por gente do ramo. A lei de acesso aos recursos genéticos vai por este caminho: o casamento da indústria com o conhecimento tradicional, mas ainda há resistência de alguns setores.

Mas tem um problema: este uso extrativista só faria sentido para os produtos do setor primário (alimentos, fibras ,madeira, óleos, etc), não sendo viável na mineração e hidrelétricas, ou mesmo medicamentos mais complexos: os investimentos são mais vultosos nestes casos.

Para o Amazonas, em especial, o futuro é promissor. Grande e maior protetor das florestas (em números reais), o Estado tem oportunidades para produção de fármacos, entrada no mercado de carbono (embora uma incógnita mas já é realidade), manejo de madeira certificada e mineração (caulinita, petróleo, pedras preciosas etc).

Estas chances talvez nos façam levantar do pote de ouro e passarmos a utilizá-lo mais. E melhor.

*Ronaldo Santos , é engenheiro agrônomo, acadêmico de direito, servidor federal de carreira

Obs: Os artigos assinados não refletem a opinião do Portal e são de inteira responbilidade de seus autores.

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