Belém, PA – Para encerrar as comemorações da 222ª edição do Círio de Nazaré, milhares de fiéis participaram na manhã de ontem dos últimos atos de adoração e fé. O primeiro ato foi a subida da imagem original de Nossa Senhora de Nazaré ao Glória.
Em seguida, uma missa foi celebrada na Praça Santuário, antecedendo o início da procissão mais curta de todas as celebradas durante a quadra nazarena, o Recírio, que levou a imagem peregrina até a Capela do Colégio Gentil.
Após 15 dias em um nicho no Altar da Basílica, a imagem original foi colocada de volta ao Glória. Com ela nas mãos, o arcebispo de Belém, Dom Alberto Taveira, se emocionou falando de sua importância para a igreja. Com a imagem erguida, os fiéis aclamaram com lenços brancos nas mãos e lágrimas nos olhos. “Esse momento é uma ação de graças a Deus. Com o término do Círio devemos seguir nossas vidas em paz. Quando levantamos a imagem ao Glória, nos ficamos com ela no coração. Este ano, pedimos que nos ensine a rezar. Temos muito a agradecer e por isso, esse é o momento de encerrar com chave de ouro”, ressalta o arcebispo.
Para a aposentada Alzarina Trindade Costa, 71, que entrega rosas aos fiéis, esse é um dos momentos mais importante da programação oficial para os católicos. “Saber que ela vai voltar ao seu local sagrado é uma emoção para quem acompanha o Círio. Se é emocionante ver de longe, que dirá de perto. Estou feliz e assim vou seguir até o ano que vem, esperando mais uma vez a santinha de braços abertos”, diz.
Após a Santa Missa no Altar Monumental da Praça Santuário, os fiéis seguiram em cortejo pelas ruas do bairro por quase uma hora. Ainda no Centro Arquitetônico de Nazaré (CAN), os devotos se despediram da imagem peregrina ao som de cânticos, aplausos e acenos. “O Círio é algo que é para ser vivido. Quando eu encontrar o Papa, vou dizer que o Círio é mais que uma religião, é uma manifestação de cultura, é inexplicável esse momento”, comentou Dom Giovanni D’ Aguinello, representante do Santo Padre Francisco.
Ao badalo dos sinos da igreja, o Recírio iniciou às 7h. A imagem peregrina contornou a Praça Santuário, e depois continuou o trajeto pelas avenidas Generalíssimo Deodoro, Nazaré e Magalhães Barata até chegar à capela do colégio Gentil Bittencourt, onde muitos fiéis aproveitaram para fazer as últimas orações e homenagens. O percurso, de aproximadamente 650 metros, é o menor trajeto das 12 romarias oficiais.
No colégio Gentil, muitos romeiros aguardavam a chegada da imagem peregrina. O autônomo Gil Barros é cadeirante, e, assim como outras pessoas portadoras de necessidades especiais, fez questão de sair bem cedo de casa para prestar sua última homenagem. “Gosto do Recírio, até porque é mais rápido e um pouco mais tranquilo do que outras romarias. Há três anos venho ao colégio Gentil, vejo Nossa Senhora chegando, rezo e agradeço por minha vida e de minha família, e depois, com a ajuda de meus familiares, subo até a capela para tocar na imagem e me despedir da padroeira dos paraenses”.
MIRITI
Assim como na Trasladação e no Círio, muitos ambulantes aproveitaram a oportunidade para vender fitas, imagens e blusas que caracterizam a festa. Misael Neves levou brinquedos de miriti para serem comercializados na romaria.
“Todos os anos eu venho de Abaetetuba pra Belém no Círio e no Recírio, e geralmente dá pra conseguir um lucro extra na venda dos brinquedos”, conta. A aposentada Rosa Franco, que mora no Rio de Janeiro, conta que vem todo ano visitar amigos em Belém no mês de outubro e faz questão de levar brinquedos de miriti. “Minhas filhas adoram. Minha cozinha e minha varanda são enfeitadas com vários pássaros, barquinhos e imagens de miriti de Nossa Senhora”, completa.
Somente no Recírio, 50 mil fiéis acompanharam a celebração. Conforme o coordenador da Cruz Vermelha, Eduardo Lobão, 17 pessoas precisaram de atendimento médico. “Tivemos um número de ocorrência relativo, onde os casos foram mais de desmaios e verificação da pressão”, afirmou Eduardo.
Atendimentos médicos caíram em 45%
Mobilizando ainda mais fiéis do que nos anos anteriores, a programação do Círio de Nazaré 2014 foi encerrada com balanço positivo na manhã de ontem pela Diretoria da Festa. Com a perspectiva de que cerca de 2 milhões de pessoas tenham participado apenas da grande procissão de domingo, a organização da festa ainda anunciou redução de 45% nas ocorrências médicas registradas pela Cruz Vermelha.
Destacando o caráter evangelizador da festividade, a partir das visitas realizadas pela imagem peregrina da padroeira dos paraenses não apenas no Pará, mas também em outros estados e até países, o arcebispo metropolitano de Belém, Dom Alberto Taveira, se disse emocionado com os resultados percebidos.
“O Círio nunca foi menor que o anterior. Nós temos a certeza que o Círio deste ano foi menor do que será o Círio do ano que vem e é o nosso dever fazê-lo crescer para chegar a muitas outras pessoas”, apontou. “O balanço que eu faço é que o principal ganho foi o da evangelização. Nós queremos levar o nome de Jesus para todos os lugares. Pedimos que Nossa Senhora nos ajudasse, ensinando-nos a rezar, e ela fez isso, sem dúvida alguma. Eu vejo um grande alcance de evangelização, de formação, então o balanço que faço do Círio é muito positivo”.
Tendo as procissões concluídas, segundo a organização, sempre dentro do prazo previsto, o tempo utilizado neste ano para a realização de todas as 12 romarias foi de 39 horas. Para o coordenador da Diretoria da Festa, Jorge Xerfan Neto, o cumprimento dos horários contribuiu para que houvesse diminuição no número de ocorrências registradas pela Cruz Vermelha.
“O Círio foi tudo aquilo que se previu, dentro do que se estimou que acontecesse. Os horários foram rigorosamente cumpridos, inclusive tivemos até um ganho com relação ao tempo das romarias, já que prevíamos um total de 39 horas e 30 minutos e tudo foi realizado em 39 horas”, destacou, lembrando que a maior parte dos registros foi de desmaios, com 371 casos. “Foi um Círio tranquilo, de paz. A própria Cruz Vermelha nos indicou um decréscimo de 45% no número de ocorrências. A diretoria está muito feliz”.
Romaria dos Corredores reuniu 2.500
Ainda com relação ao tempo, citando os rumores de que o Círio teria sido realizado de forma muito rápida neste ano, o diretor de Procissões da Diretoria da Festa, Cléber Vieira, afirmou que, na verdade, a procissão de domingo também ocorreu dentro do horário previsto. “Se falou muito em rapidez, mas por mais organizado que seja, nós não temos como controlar duas milhões de pessoas. O Círio flui conforme puxam a corda”, considerou. “O Círio estava previsto para acontecer em 5h30 e foi cumprido em 5h30 e tiveram dois fatos que ajudaram a cumprir esse horário. Um diz respeito à missa que foi realizada dentro do tempo previsto e o outro está ligado ao tempo gasto para chegar com a Berlinda da Sé até o atrelamento, onde ganhamos de 20 a 30 minutos”.
Exemplo da grandiosidade crescente da festa religiosa, a nova romaria inaugurada neste ano, a dos Corredores, também superou as expectativas da organização. “Tivemos uma alegria muito grande porque foi inaugurada uma nova romaria que nós estimávamos em torno de 1.000 pessoas e o Dieese acaba de nos informar que o número foi de 2.500 pessoas”, destacou Xerfan.
Responsáveis por dar início a uma pesquisa que, pela primeira vez, pretende apontar o perfil do promesseiro da corda, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) anunciou que, apesar de ter acontecido mais uma vez nesse ano, a maioria dos romeiros não concordam com o corte antecipado da corda. “Estamos finalizando a pesquisa ainda, mas faço questão de destacar que pouco mais de 90% dos promesseiros da corda disseram que são contra o corte antecipado”, informou o supervisor técnico do Dieese, Roberto Sena. “Já tínhamos essa impressão e hoje podemos atestar que o promesseiro não quer cortar a corda, então quem está cortando está com outro interesse e vamos trabalhar mais isso para os próximos anos”.
Fonte: Diário do Pará
