Belém, PA – O Sindicato dos Servidores Públicos da Polícia Civil do Estado do Pará (Sindpol) divulgou o relatório contendo o levantamento do efetivo de policiais e presos do interior do Estado do Pará. É surpreendente a pequena quantidade de policias civis lotados em municípios, cuja população chega a quase 100 mil habitantes.
Segundo informações do próprio Sindpol, a recomendação da ONU (Organização das Nações Unidas) é de que haja um policial para cada 250 habitantes, mas a realidade é bem diferente.
Segundo o investigado de Polícia Civil e presidente do Sindpol, Rubens Teixeira, o levantamento é referente ao ano de 2013 e traz o levantamento do efetivo de policiais civis em relação ao número de habitantes e presos nas delegacias do interior. Recentemente, ocorreu um episódio em Vigia de Nazaré, região nordeste do Pará, onde a polícia realizou uma operação contra piratas que costumavam atacar embarcações nos rios da região e prendeu um grupo com supostos envolvidos nos crimes. Revoltada, a população tentou invadir a delegacia para fazer justiça com as próprias mãos.
A população apedrejou a delegacia da cidade, deixando alguns investigadores feridos. Neste caso, segundo o relatório, Vigia possui cerca de 47.902 mil habitantes para apenas oito policiais civis no total, que atuam em regime de revezamento. “Como os policiais vão se proteger de uma revolta popular desse tamanho? Felizmente alguns policiais saíram feridos, a situação só não foi pior porque não havia ninguém armado”, disse Rubens.
BARCARENA
Ainda de acordo com o levantamento, alguns municípios como o de Barcarena, que está localizada a 22Km de Belém, há 99.800 mil habitantes para uma delegacia que lota apenas seis policiais civis, trabalhando em regime de revezamento.
Em Xinguara, sudeste do estado, são 40.573 habitantes para seis policiais e 30 encarcerados. Em São Félix do Xingu, são 91.293 mil habitantes para apenas três policiais, que também tomam conta de três presos. Em Conceição do Araguaia, são 45.530 mil habitantes para apenas quatro policiais e 11 encarcerados. Em Santa Maria do Pará, são 23.033 habitantes que contam com sete policiais. Em Ponta de Pedras, 25.989 habitantes dependem de cinco policias para tomar conta de oito presos. E em Eldorado do Carajás, 31.745 habitantes contam com quatro policiais para manter a segurança e a ordem.
DELEGACIAS
A ONU recomenda um policial para cada 250 habitantes, mas, segundo Rubens, hoje a polícia atende a demanda de um policial para cada cinco mil habitantes no interior. No total daria, aproximadamente, seis mil habitantes nos interiores dependendo de apenas 1,2 mil policiais. Para ele, há uma necessidade de cumprir com seriedade um efetivo completo nas delegacias do interior. “Precisamos manter as delegacias com policias, escrivão e delegado, uma equipe completa a cada plantão para suprir a necessidade da população”, disse.
CONCURSO
Ainda segundo Rubens, o concurso público realizado no ano de 2013 só abriu 670 vagas para os cargos de delegado, escrivão, papiloscopista e delagado. Uma demanda ainda considerada muito pequena pela Sindpol. “A quantidade de vagas só fez preencher o lugar daqueles policiais que já se aposentaram ou que já morreram. Dessas 670 vagas, apenas 386 policiais estão na ativa, pois alguns já pediram exoneração. O ideal seria que houvesse um concurso a cada dois anos, com abertura de 800 a 1,2 mil vagas”, explica.
A integridade física dos policiais em algumas delegacias também não é garantida, devido à demanda de presos para a quantidade do efetivo de plantão. Em 31 de março deste ano, o investigador José Haroldo, lotado na delegacia de Portel, no Marajó, morreu ao ser baleado na cabeça durante tentativa de um grupo armado invadir a delegacia para resgatar um preso. “Temos que fazer a segurança e nos manter vivos. Com certeza o baixo efetivo traz facilidades para que a criminalidade aumente. Segundo as estatísticas, já são, aproximadamente, três mil homicídios e latrocínios, e olha que o ano ainda nem acabou”, disse Rubens.
Fonte: Diário do Pará