Doação de Sangue: elo humano em tempos de escassez

Fotos: Filipe Jazz

Por Yara Amazônia Lins

Vivemos tempos em que a solidariedade humana precisa ser evocada como um princípio vital. Não apenas como um valor abstrato, mas como um gesto concreto que salva vidas. É o caso da doação de sangue — ato silencioso, quase anônimo, e no entanto decisivo para o pleno funcionamento de uma sociedade que preza pela dignidade e pelo cuidado com o outro.

No Amazonas, a Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia (Hemoam) lançou um chamado urgente. Durante o feriado prolongado de Tiradentes, houve uma queda significativa nas doações — apenas 249 bolsas foram coletadas, o que representa apenas metade da meta diária. E já se aproxima outro feriado, o Dia do Trabalhador, aumentando os riscos de um colapso nos estoques. Sem sangue, interrompe-se um elo essencial entre a vida e a morte: as transfusões em casos de acidentes, as cirurgias de urgência, o tratamento de doenças crônicas e oncológicas.

A escassez de doações não se explica apenas por desatenção ou desinteresse. Há um pano de fundo mais profundo: vivemos sob o impacto de surtos de doenças infecciosas e respiratórias que tornam uma parcela significativa da população temporariamente inelegível para doar. A coletividade sofre, e o próprio vetor da vida — o sangue — escasseia, nos expondo a um novo tipo de vulnerabilidade social.

Nesse cenário, gestos solidários ganham dimensão simbólica e prática. É o caso da mobilização promovida por Etelvina Andrade, chefe do Serviço Social do Tribunal de Contas do Estado do Amazonas. De um universo de 89 colaboradores cadastrados, 62 compareceram ao hemocentro e realizaram suas doações. Essa taxa de engajamento é mais do que estatística: é a tradução de um espírito público ativo, empático e fraterno. Etelvina tornou-se eloquente representante de uma cidadania que se enraíza no bem comum, de forma silenciosa e transformadora.

Fotos: Filipe Jazz

Em nome de cada paciente que será salvo por essas 62 bolsas de sangue, agradeço. Em nome das futuras mães, dos idosos fragilizados, das crianças em tratamento, dos acidentados à espera de cirurgia, agradeço. Em nome de toda a sociedade que resiste, agradeço.

O sangue, mais do que metáfora, é substância. Ele corre nas veias da vida coletiva e exige de nós a consciência de que a saúde pública é um sistema interdependente. Ninguém está totalmente seguro se o outro está em risco. Doar sangue, portanto, é mais do que um gesto de generosidade: é uma afirmação de pertencimento à humanidade.

Que o exemplo de Etelvina inspire empresas, instituições, escolas e comunidades. Que cada bolsa de sangue seja lida como uma carta de amor à vida. Que, em tempos de escassez, sejamos mais abundantes em gestos de solidariedade.

Porque doar sangue é dar o que temos de mais essencial: o próprio fluxo da vida.

amazonianarede

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