CCJ rejeita denúncia contra o presidente Temer e os ministros  Padilha e Moreira

Palavra final sobre prosseguimento ou não do processo caberá ao plenário. Votação será na quarta (25). Relatório foi aprovado por 39 votos a 26, com uma abstenção.

Brasilia – A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou nesta quarta-feira (18), por 39 votos a 26 (e 1 abstenção), o relatório do deputado Bonifácio Andrada (PSDB-MG) que propõe a rejeição da denúncia contra o presidente Michel Temer e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral).

Mesmo com a decisão da CCJ, a palavra final sobre o prosseguimento ou não do processo para o Supremo Tribunal Federal (STF) cabe ao plenário da Câmara. A votação será na próxima quarta-feira (25), informou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Se o plenário rejeitar o prosseguimento da denúncia, Temer só poderá ser processado após o fim do madato (leia detalhes mais abaixo). Se o plenário aprovar o prosseguimento do processo, o Supremo decidirá se aceita ou não a acusação. Se aceitar, Temer será afastado do mandato.

Na votação da primeira denúncia contra Temer na CCJ, por corrupção passiva, o governo conseguiu aprovar parecer de Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG), que recomendava a rejeição, por 41 votos a 24.

Em uma votação anterior, ainda em relação à primeira denúncia, a maioria da CCJ havia rejeitado o parecer de Sergio Zveiter (Pode-RJ), a favor do prosseguimento do processo, por 40 votos a 25.

Bonifácio Andrada, relator

A denúncia contra o presidente

Temer foi denunciado pela Procuradoria Geral da República (PGR) pelos crimes de organização criminosa e obstrução de Justiça. Moreira Franco e Padilha, por organização criminosa.

ESPECIAL G1: OS INDÍCIOS CONTRA TEMER

Segundo a PGR, o grupo do PMDB ao qual eles pertencem atuou em estatais e em ministérios para obter propina. A procuradoria afirma, ainda, que Temer é o chefe da organização criminosa.

A defesa do presidente nega e diz que a denúncia é “libelo contra a democracia” e não tem “elemento confiável de prova”.

Relatório

Presidente Temer, um grande articulador

No relatório aprovado, Bonifácio Andrada afirma que o Ministério Público Federal, “mancomunado com o Judiciário”, causou um “desequilíbrio nas relações entre os poderes da República”.

O relator afirma, ainda, que exerce uma atuação “policialesca”, com o apoio “do noticiário jornalístico que fortalece essas atuações espetacularizadas pelos meios de comunicação”.

Em outro trecho do relatório, Bonifácio Andrada chamou a denúncia apresentada pela PGR de “relatório de acusações que atingem homens públicos desde 2001.”

Para ele, a denúncia faz um “ataque generalizado aos homens públicos do país, sem distinção” e, ao acusar os partidos de integrarem uma organização criminosa, tenta “criminalizar a atividade político-partidária”.

Mais cedo, nesta quarta, antes de a CCJ votar o parecer, Bonifácio afirmou não ter “nada com o governo” e negou agir como um “líder do governo.

Discussão na CCJ

Clima pesado no plenário da CCJ

A CCJ da Câmara destinou duas sessões para os deputados poderem discutir o parecer de Bonifácio Andrada. Nesta quarta, foram quase cinco horas de debate e, nesta terça, quase 12 horas.

Segundo a comissão, 61 deputados se pronunciaram sobre o relatório – 13 se manifestaram a favor e 48, contra.

Entre os deputados que se manifestaram nesta quarta pelo prosseguimento da denúncia está Paulo Pimenta (PT-RS). Para o deputado, Temer e os ministros compõem uma “quadrilha de criminosos”.

“Conclamo a população que faça pressão em cima dos parlamentares, que seja aprovada a autorização para essa investigação.” – Paulo Pimenta (PT-RS)

O deputado Paes Landim (PTB-PI), aliado de Temer, porém, defendeu a suspensão da denúncia. Para ele, “não é conveniente” autorizar o prosseguimento do processo contra o presidente.

“É um juízo político. […] Do ponto de vista político, não é conveniente neste momento. Ninguém está aqui julgando ou condenando o presidente Temer.” – Paes Landim (PTB-PI)

  • PMDB, PP, PSD, PR, DEM, PRB, PTB, SD, PSC e PROS orientaram as bancadas a votar a favor do relatório;
  • PT, PSB, PDT, Pode, PCdoB, PPS, PSOL, PHS e Rede orientaram voto pela rejeição do parecer;
  • PSDB e PV liberaram os deputados para votar como quisessem.

Durante a sessão, deputados da oposição aproveitaram para erguer cartazes contra a decisão do governo de mudar as regras sobre fiscalização do trabalho escravo (veja na imagem abaixo).

Repercussão

Ao fim da sessão, alguns deputados repercutiram o resultado da votação. Saiba abaixo o que disseram:

  • Beto Mansur (PRB-SP), vice-líder do governo na Câmara:“A gente vai trabalhar durante o fim de semana todo, levantando os votos nas lideranças, tentando ver qual é o problema de cada um para tentar chegar no plenário com uma votação expressiva.”
  • Alessandro Molon (Rede-RJ):“Mesmo aqui na comissão, onde o governo controla os membros que votam, onde as substituições podem substituir um resultado artificial, o governo já teve um resultado pior que o esperado. Lá no plenário o resultado será ainda pior para o governo.”
  • Eliseu Padilha, ministro: O advogado do ministro Eliseu Padilha, Daniel Gerber, disse em nota considerar a decisão da CCJ “coerente, jurídica e muito bem fundamentada.”
  • Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), presidente da CCJ: “O resultado é fruto, obviamente, da força política de um lado, em detrimento do outro, que acaba por aprovar o relatório do deputado Bonifácio de Andrada. (…) A energia gasta, o tempo gasto para esse tipo de trabalho, não é um papel propositivo. Nós precisamos ter um papel propositivo na Comissão de Constituição e Justiça”.
  • Bonifácio de Andrada (PSDB-MG), relator: “É um parecer tecnicamente jurídico. Os adversários de Temer discutiram na comissão não os aspectos jurídicos do processo, da denúncia, mas sim seus posicionamentos políticos e coisas antigas. (…) Não fiz nenhuma defesa política do presidente da República, nem do governo dele”.

Próximos passos

O parecer aprovado pela CCJ nesta quarta será incluído na pauta de votações do plenário da Câmara na sessão seguinte ao recebimento pela Mesa Diretora. Não há data marcada para a votação.

No plenário, o relatório de Bonifácio Andrada será submetido a discussão e a votação nominal.

Assim como na votação da primeira denúncia contra Temer, e como num processo de impeachment, os deputados serão chamados a um microfone instalado no plenário e terão de dizer se defendem ou não o prosseguimento do processo contra Temer para o Supremo.

Pelo regimento:

  • O protesto da oposição em plenário

    A chamada dos deputados será feita alternadamente dos estados do Norte para os estados do Sul;

  • Os nomes serão chamados por um dos secretários da Câmara;
  • Os deputados seguirão para o microfone e terão de responder “sim” ou “não”.

Aprovação da denúncia

Se 342 deputados ou mais votarem pelo prosseguimento da denúncia contra Temer, o STF fica autorizado a instaurar um processo.

Com a autorização, os 11 ministros do STF terão de decidir se o presidente Michel Temer vira réu. Nesse caso, ele será afastado do cargo por até 180 dias.

O presidente só perderá o cargo definitivamente se for condenado pelo Supremo. Nessa hipótese, quem assume o cargo é o presidente da Câmara, que convoca eleições indiretas em até um mês.

Segundo a Constituição, o novo presidente da República será escolhido pelo voto de deputados e senadores.

Rejeição da denúncia

Se a Câmara rejeitar o prosseguimento da denúncia, o Supremo ficará impedido de dar andamento à ação, que será suspensa, não arquivada.

O processo só poderá ser retomado após o fim do mandato do presidente, em 31 de dezembro de 2018.

Na primeira denúncia contra Temer, por corrupção passiva, a Câmara rejeitou o prosseguimento do processo por 263 votos a 227.

 

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