Brasil – O pecuarista José Carlos Bumlai disse, durante audiência na manhã desta terça-feira (9), que a ex-primeira-dama, Marisa Letícia Lula lhe pediu para adquirir um novo terreno para a instalação da sede do Instituto Lula.
“Eu falei que não. Eu não tinha condição financeira. Eu estava tentando ajudar meus filhos numa recuperação judicial de uma empresa deles e que eu me afastei totalmente. Não tinha possibilidade financeira de fazer isso”, afirmou.
Ele foi ouvido como testemunha de acusação no processo que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é acusado de receber como propina um terreno onde seria construída a nova sede do Instituto Lula e um imóvel vizinho ao apartamento do petista, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. De acordo com a força-tarefa da Lava Jato, os imóveis foram comprados pela Odebrecht em troca de contratos firmados pela empreiteira com a Petrobras.
Além dele, o juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava Jato na primeira instância, ouviu mais três testemunhas de acusação. Bumlai também relatou que foi procurado por Marisa para fazer a aquisição do terreno.
Bumlai também disse que Marisa não queria que Lula soubesse do novo instituto e afirmou não fazer ideia do porquê.
Ele acrescentou que ajudou na criação do novo instituto apenas procurando 10 empresários que pudessem participar do projeto: “essa é a minha participação”. Segundo ele, o local “guardaria os presentes, as coisas. Um museu praticamente”. Ainda de acordo com ele, a ideia surgiu em 2010.
Bumlai ainda relatou que, com relação aos 10 empresários, teve a ajuda do empresário Marcelo Odebrecht. “Eu tratei a implementação do Instituto Lula, dos 10 empresários. Era o único empresário que eu tinha uma liberdade maior para conversar”, afirmou.
O que diz a defesa de Lula e o Instituto Lula
O advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, comentou o assunto.
“Ao depor, o empresário José Carlos Bumlai deixou claro que Lula jamais solicitou qualquer intervenção sua objetivando a aquisição do imóvel da Rua Haberbeck Brandão 178, em São Paulo. Mais ainda, Bumlai informou que lhe foi pedido que não comentasse esse assunto com Lula. O empresário reafirmou o que já havia declarado em depoimento anterior – que o projeto em questão pretendia reproduzir espaço similar ao que já abrigava o acervo do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso”, declarou.
O Instituto Lula afirmou que “funciona em uma casa adquirida em 1991, onde antes funcionava o Instituto da Cidadania. Não existe ‘novo Instituto Lula’. Todas as doações ao Instituto Lula, fundado em agosto de 2011, são legais e registradas com notas fiscais”.
Outras testemunhas
Ainda no período da manhã, foi ouvido Mateus Cláudio Gravina Baldassari, sócio da Agência Sul Americana de Publicidade e Administração LTDA., que era proprietária do terreno adquirido pela DAG Construtora LTDA.
Questionado se recebeu dinheiro “por fora”, preferiu não responder. Ele negou que sua mãe, seus irmãos ou a corretora de imóveis tenham recebido dinheiro além do contrato.
O arquiteto Marcelo Ferraz também foi ouvido pela manhã. Ele relatou, em depoimento ao MPF, que participou de uma visita ao imóvel onde seria instalado o “Memorial da Democracia” e que também seria usado para o armazenamento e a exposição dos presentes e demais itens recebidos pelo ex-presidente da República.
Ferraz afirmou que o escritório dele foi contrato pelo Instituto Lula para projetar o Memorial da Democracia. Segundo ele, o escritório é tido como referência em projetos de museus. O arquiteto também afirmou que, como parte do trabalho, foi ao terreno alvo de investigação no processo para verificar se o imóvel era adequado para a proposta.
“Achei que não servia para a sede do Instituto, para a sede do Memorial da Democracia, e foi isso”. De acordo com Ferraz, ele foi ao local a pedido e acompanhado de Clara Ant, diretora do Instituto Lula.
Ainda conforme o arquiteto, quando ele e Clara Ant estavam saindo do local, ele acha que chegaram dois carros com o ex-presidente Lula, a esposa dele Marisa Letícia, Paulo Okamoto e Paulo Vaannich – ambos diretores do Instituto Lula.
Ferraz disse que nunca conversou com o ex-presidente sobre o imóvel. Ele afirmou ainda ter realizado outro projeto para o Memorial que seria no Centro de São Paulo, após a visita no terreno investigado. O lançamento do projeto foi em julho de 2012.
Ferraz também foi chamado como testemunha de defesa de Lula e do advogado Ricardo Teixeira.
No período da tarde, a partir das 15h, o juiz Sérgio Moro ouve Tatiana de Almeida Campos, antiga proprietária do apartamento vizinho ao de Lula, que foi vendido por R$ 504 mil para Glaucos da Costamarques.
Acusações
Nesta ação penal, o ex-presidente é acusado de receber como propina um terreno onde seria construída a nova sede do Instituto Lula e um imóvel vizinho ao apartamento do petista, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. De acordo com a força-tarefa da Lava Jato, os imóveis foram comprados pela Odebrecht em troca de contratos firmados pela empreiteira com a Petrobras.
Segundo o Ministério Público Federal, a Construtora Norberto Odebrecht pagou propina a Lula via aquisição do imóvel onde seria construída nova sede do Instituto Lula, em São Paulo. O valor, até novembro de 2012, foi de R$ 12.422.000, afirmam os procuradores.
Outras sete pessoas também são rés no processo. A ex-primeira dama Marisa Letícia chegou a ser acusada, contudo, o juiz Sérgio Moro arquivou a ação contra ela. Ela morreu em fevereiro deste ano.
Bumlai e outras duas testemunhas prestaram depoimento por videoconferência de São Paulo com a Justiça Federal do Paraná, em Curitiba. O pecuarista também foi arrolado como testemunha de defesa do ex-presidente da Odebrecht S.A. Marcelo Odebrecht, que é réu neste mesmo processo.
Segundo a denúncia do Ministério Público Federal (MPF), o pecuarista foi apresentado como o primeiro interessado na compra do imóvel onde seria construída a nova sede do Instituto Lula.
Durante a negociação, Bumlai indicou como comprador o parente dele Glauco da Costamarques, mas, por fim, o imóvel foi colocado em nome da DAG Construtora LTDA., dirigida por Demerval De Souza Gusmão Filho, que também é réu na ação, intimamente relacionado a Marcelo Odebrecht, ainda conforme a força-tarefa.
Acusado na Operação Lava Jato de ter atuado em favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em irregularidades, Bumlai foi preso em novembro de 2015. Ele já foi condenado, na primeira instância, a 9 anos e 10 meses de prisão em um processo da 21ª fase por crimes como gestão fraudulenta e corrupção passiva.
Em 25 de abril, o pecuarista foi liberado da prisão domiciliar pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), levando em conta o estado de saúde dele, que sofre de cardiopatia e câncer de bexiga. Em novembro de 2016, o antigo relator da Operação Lava Jato, ministro Teori Zavascki, havia convertido a prisão preventiva de Bumlai em domiciliar.
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