Brasília – Manter a sucessão em banho-maria é estratégia do Planalto para evitar que turbulências da Lava Jato provoquem estragos.
A permanência do ministro José Eduardo Cardozo na pasta da Justiça, cota da presidente Dilma Rousseff no redesenho da Esplanada neste segundo mandato, deixou em suspense o processo sucessório na Polícia Federal. O atual diretor geral, Leandro Daiello, deve ficar no cargo enquanto Cardozo ocupar seu posto.
Nos bastidores é dado como provável que as mudanças na pasta só devem ocorrer dentro de um ano, quando o ministro pode ser indicado para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF).
Fiel escudeiro de Dilma, Cardozo é hoje um dos principais nomes para ocupar a vaga que será aberta em novembro no STF, com a “expulsória” do ministro Celso de Mello, que completará 70 anos e, pela legislação atual, deixará a Corte. O ministro da Justiça terá de enfrentar, no entanto, outros concorrentes, entre eles o chefe da Advocacia Geral da União, Luiz Inácio Adams.
Daiello foi escolhido no início do primeiro mandato de uma lista com seis nomes apresentado pelas entidades que representam a Polícia Federal. A permanência dele não é consenso, mas sua postura discreta agrada o governo. Em eleições internas realizadas no final do ano passado, a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) tirou e entregou ao ministro da Justiça uma lista tríplice com os nomes dos delegados Roberto Troncon, Sérgio Menezes (superintendentes da PF em São Paulo e Minas) e Sérgio Fontes (diretor da Academia Nacional de Polícia).
Embora tenha o efeito de uma sugestão, a lista tríplice é resultado de inédita mobilização da entidade para garantir a manutenção de um delegado de carreira em um cargo cuja indicação – cobiçada por agentes, procuradores e militares – é prerrogativa do governo.
“Esta é a primeira lista que a ADPF organiza. Os nomes representam as bases da Polícia Federal no Brasil. É uma sugestão, mas defendemos a escolha com base na lista por entendermos que é uma prática republicana”, diz o delegado Marcos Leôncio Ribeiro, presidente da entidade.
O problema é que o nome preferido da presidente Dilma Rousseff é o do delegado Andrei Augusto Passos Rodrigues, titular da Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos que, na avaliação do Palácio do Planalto, é o responsável pela tranquilidade com que transcorreu durante a Copa do Mundo.
Nas eleições da ADPF, ele ficou em sexto lugar no primeiro turno da votação, o que acabou rendendo certa legitimidade para também pleitear a indicação.
As mudanças previstas para o final do ano teriam sido a justificativa para o ministro da Justiça mandar acelerar a implantação dos Centros de Comando e Controle em todos os estados para forçar a integração dos órgãos policiais por meio de uma mudança profunda na cultura de segurança.
Integração
A palavra de ordem do governo nessa área, resultado da experiência feita na Copa do Mundo e também das promessas eleitorais que ajudaram a reeleger a presidente Dilma Rousseff, é integração. O desempenho de Cardozo e de Andrei no desafio de fazer com que as instituições policiais passem a falar entre si – condição elementar para melhorar o precário sistema de segurança do país – estaria atrelado às sucessões no STF e na PF.
O cargo de diretor da PF se tornou um dos mais sensíveis do governo desde que a corrupção e malfeitos envolvendo servidores viraram alvo das instituições de controle. Às vésperas de uma nova legislatura e diante da perspectiva de tempos difíceis na política com a proximidade do tsunami da Operação Lava Jato, manter em banho-maria a sucessão na PF é, por enquanto, a principal estratégia do Palácio do Planalto para evitar que as turbulências de fevereiro provoquem estragos.
Fonte: IG